ATO UM

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O que é o trauma? É uma sombra persistente, um peso invisível que se arrasta consigo, muitas vezes sem ser convidado. O trauma molda a maneira como vemos o mundo, como reagimos às situações e como nos relacionamos com as pessoas que estão próximas. Para Samantha, o trauma era um companheiro constante, sempre a lembrando dos horrores que enfrentou e dos amigos que perdeu. Era uma força que a fazia hipervigilante, quase paranoica, sempre esperando pelo pior.

Era o jeito que encontrou para se proteger. Se você sempre espera o pior, eles nunca podem te surpreender.

Ela não podia estar mais errada.

Desde os eventos traumáticos que viveu, ela enfrentava uma batalha interna. A terapia ajudava a controlar o misto de sensações que sentia, especialmente a complexa emoção que experimentou ao matar Richie. Não era apenas o alívio de eliminar uma ameaça; tinha uma sombria satisfação naquele ato.

Ela sentiu uma espécie de prazer perturbador ao ver Richie cair. Esse sentimento a corroía. Sabia que estava defendendo a si mesma e a sua irmã, mas a linha entre justiça e vingança se misturava perigosamente. O terapeuta a incentivava a explorar esses sentimentos, a entender a raiz deles, mas isso não tornava mais fácil lidar com a confusão interna.

O buraco era muito mais fundo.

Ter gostado de matar Richie a fazia questionar sua própria natureza. Ser filha de Billy Loomis já era um peso, uma mancha que carregava consigo. Sentir prazer em um ato de violência fazia com que ela temesse a escuridão dentro de si. O que isso dizia sobre ela? Era apenas o calor do momento, a adrenalina, ou existia algo mais profundo, mais sinistro?

Ela se forçava a acreditar que aquela sensação era um reflexo da necessidade desesperada de sobrevivência, de proteger aqueles que amava. Mas no fundo, Samantha temia que pudesse haver mais, uma parte de si que fosse capaz de gostar dessa escuridão.

Igual a seu pai.

Na terapia, ela tentava dissecar esses sentimentos, entender se eles eram uma consequência do trauma ou uma parte de quem ela era. Cada sessão era uma luta para manter a linha clara entre proteger e se vingar, entre necessidade e desejo.

Isso se intensificava ainda mais quando ela pensava em seu pai. A descoberta de que era filha de um notório assassino em série tinha sido devastadora. Não era apenas o fato de ser filha dele, mas a terrível possibilidade de que algo dele pudesse estar nela. Samantha se lembrava de como sua vida desmoronou ao descobrir a verdade, a sensação de que seu sangue estava sujo, que sua linhagem estava corrompida.

E isso se agravava com as alucinações. Ver o fantasma de seu pai psicopata falando com ela era mais do que perturbador. Era uma constante lembrança, uma batalha contra uma parte de si mesma que ela temia reconhecer. O fantasma de Billy aparecia nos momentos mais inesperados, sussurrando conselhos cruéis, incitando-a à violência, ao caos. Ele personificava seus piores medos e dúvidas, a voz interna que questionava sua sanidade e moralidade.

Esses pensamentos a mantinham acordada à noite, especialmente quando tudo estava tranquilo e os ecos do passado pareciam mais altos. Ela queria acreditar que o que sentiu foi apenas uma reação humana ao terror e à ameaça, mas a sombra da dúvida persistia, moldando cada escolha, cada pensamento.

Samantha Carpenter estava em uma constante batalha com seu próprio reflexo, tentando conciliar a mulher que queria ser com a herança sombria que carregava.

Qual dos dois ganharia no final do dia?

Os horrores passados e a culpa por ter deixado Tara, somados ao peso de ser filha de um assassino, nunca a deixava em paz. A sensação de que a escuridão dentro de si, herdada de seu pai, poderia surgir a qualquer momento a fazia se encolher.

𝗗𝗜𝗩𝗜𝗡𝗘 𝗟𝗢𝗩𝗘; 𝗦𝗔𝗠 𝗖𝗔𝗥𝗣𝗘𝗡𝗧𝗘𝗥Onde histórias criam vida. Descubra agora