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Olivia nunca parou para pensar nas consequências. Não como a maioria das pessoas faria. Ela tinha matado alguém. Havia arrastado uma vida para o fim com suas próprias mãos. E estava perseguindo Samantha de uma maneira completamente doentia. Em nenhum momento considerou o que isso poderia significar. Para ela, para Samantha, ou para qualquer um ao redor.

Talvez fosse o ego, talvez fosse a incapacidade de reconhecer os limites, ou simplesmente o fato de que, para ela, as coisas sempre seriam daquela forma. O que importava era o presente, o desejo, a necessidade imediata de tomar o que quisesse, o que desse vontade.

Refletir sobre as possíveis consequências de suas ações? Isso nunca foi parte do processo. Nunca houve espaço para arrependimentos ou dúvidas, porque na mente dela, tudo estava justificado.

Era por Samantha, certo? Olivia estava fazendo tudo por ela. Ou, ao menos, era nisso que ela se fazia acreditar. Todas as noites sem sono, a perseguição, o sangue em suas mãos — tudo girava em torno de Samantha, de protegê-la, de tê-la. Só que, às vezes, no fundo de sua mente, uma voz fraca sussurrava outra verdade. Uma verdade que ela preferia não escutar. Era mesmo por Samantha?

Claro que era. Olivia repetia essa ideia para si mesma, todo dia, tentando se convencer de que seus sentimentos eram reais, que todo o caos e obsessão tinham uma única justificativa: o amor. Mas aquela vozinha infernal nunca ficava calada completamente. E de tempos em tempos, voltava sussurrar que talvez não fosse só por Samantha. Talvez fosse por ela mesma.

Claro, Olivia entendia que, em algum nível, sua busca por Samantha não era só sobre o desejo de estar com ela, mas também sobre a necessidade de sentir que tinha influência sobre a situação, sobre a vida de Samantha. O controle, o sentimento de posse... era um ciclo doentio e insaciável.

Samantha era o centro de tudo, a única razão que tornava cada ato de Olivia justificável. Talvez ela estivesse se iludindo, apenas tentando preencher o vazio que parecia inescapável. A presença de Samantha lhe dava um propósito, uma sensação de viver intensamente – mas não era amor. Era mais sombrio, uma urgência incontrolável que queimava por dentro, como um desejo de destruí-la e guardá-la só para si ao mesmo tempo. Olivia queria vê-la despedaçada, vulnerável, exposta – apenas para sentir que de algum modo, elas pertenciam uma à outra. Era dominação. E Samantha era só um meio para alcançar aquilo. Ou era isso que a vozinha dentro dela insistia em dizer.

Olivia nunca tentou disfarçar a natureza de seus sentimentos. Sim, havia a obsessão, o controle doentio, o desejo de ter Samantha à sua mercê. Ela reconhecia isso e aceitava sem culpa – não via problema em seu jeito de sentir. Mas sabia que nem tudo em Samantha se resumia a essa ânsia de possuí-la. Quando ela conseguia silenciar aquela voz chata em sua mente — aquela que sempre dizia que era tudo por egoísmo — o que sobrava era uma sensação que ela jamais havia experimentado com outra pessoa.

Quando estava com Samantha, tudo ficava quieto, como se ela tivesse finalmente colocado o mundo em seu volume zero. Olivia tinha vivido uma vida inteira de desordem emocional, de lutas internas que jamais cessavam. Porém, quando Samantha estava perto, a sensação era contrária. Como se a presença dela fosse a única coisa capaz de fazer com que o restante desaparecesse.

Samantha não trazia uma paz tranquila e serena. Não, era mais vívido e avassalador, como a sensação que se tem quando, após se afogar, finalmente se dá aquela respirada profunda, o ar entrando com força nos pulmões, aliviando uma dor que parecia insuportável. Estar com Samantha era essa respiração, um alívio imediato e intenso. Não era amor no sentido convencional, não era sobre romance — era uma sensação de completa absorção. Quando ela estava ali, o ruído na cabeça de Olivia diminuía, os pensamentos que antes se atropelavam freneticamente pareciam desaparecer, e tudo o que restava era Samantha Carpenter, tão alto e tão envolvente, que fazia o resto sumir. Por um momento, Olivia não precisava mais pensar, não precisava se confrontar com as partes dela que nunca se aquietavam.

𝗗𝗜𝗩𝗜𝗡𝗘 𝗟𝗢𝗩𝗘; 𝗦𝗔𝗠 𝗖𝗔𝗥𝗣𝗘𝗡𝗧𝗘𝗥Onde histórias criam vida. Descubra agora