17: Ser a Filha Mais Velha

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Ser a filha mais velha é carregar o mundo nas costas,
É ser aquela que cresce antes do tempo, que nunca se aposta.
O erro dos nossos pais é achar que não sofremos,
Que não sentimos dor, que não temos medos.

Dizem que estamos sempre passando mal,
Que nunca fazemos nada, que somos irresponsáveis afinal.
Mas não enxergam as lágrimas que escondemos,
Os sorrisos forçados, as noites em que nos perdemos.

Somos novas demais para tantas responsabilidades,
Mas a infância doce foi deixada para trás, sem possibilidades.
Largamos as bonecas, os jogos, os sonhos infantis,
Para assumir papéis adultos, cuidar dos irmãos, viver momentos hostis.

Trabalhar cedo, ser doméstica, ser babá,
Enquanto nossos pais nos cobram, sem parar de reclamar.
Eles nos veem como suporte, como alicerce,
Mas esquecem que também somos humanas, que a dor nos apetece.

Cada crítica, cada acusação, é uma faca no coração,
"Você nunca faz nada", "Você é irresponsável", sem noção.
Não veem as noites em claro, os choros silenciosos,
A depressão que nos consome, os sentimentos angustiados e dolorosos.

Querem que sejamos fortes, que sejamos como eles,
Mas esquecem que ainda somos jovens, com sonhos e anseios.
Cada dia é uma batalha, uma luta constante,
Entre ser a filha perfeita e ser apenas um semblante.

O ódio cresce, a tristeza se instala,
A angústia nos domina, o desprezo nos embala.
Ser filha mais velha é um fardo pesado,
É ser subestimada, é ser subjugada, é ser um quadro mal pintado.

Desejamos que nos vejam, que nos entendam,
Que percebam que também sofremos, que também nos arrependemos.
Queremos gritar, pedir ajuda, mas a voz se perde no vento,
E continuamos a ser aquela que carrega tudo, em silêncio, em desalento.

Ser filha mais velha é uma missão solitária,
Um caminho espinhoso, uma jornada arbitrária.
É ser mãe, irmã, amiga e conselheira,
É ser forte, mesmo quando tudo desmorona, mesmo quando a alma é uma trincheira.

O erro dos pais é não ver além das aparências,
É não perceber as lágrimas, os medos, as carências.
E assim seguimos, entre críticas e responsabilidades,
Esquecidas em nossas dores, em nossas fragilidades.

E um dia, talvez, eles perceberão,
Que a filha mais velha também precisa de compaixão.
Que também precisamos de um abraço, de um colo, de carinho,
Que somos mais do que a fortaleza, que também precisamos de um caminho.

Até lá, carregamos o fardo, enfrentamos a escuridão,
Sendo as filhas mais velhas, as que nunca têm perdão.
E em nossos corações, a dor persiste,
Porque ser filha mais velha é um fardo que nunca se desiste.

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