Let's Groove

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A novela Reputation TV

     E vamos começar mais um capítulo da nossa querida novela Reputation TV? Vamos! Venham comigo nesse novo capítulo!
    Essa é a minha, a sua, a nossa novela que tem as atrizes Freen Sarocha como Pil e Rebecca Armstrong como Anin. Além, é claro, do grandioso elenco de atores maravilhosos que fazem parte desse projeto!
     Então, ouvintes, quem aí está a fim de recapitular o que rolou no capítulo anterior para que ninguém se perca? Não sei se sua resposta foi a de que você quer recapitular, mas iremos fazer isso porque é uma novela de áudio em homenagem aos tempos do rádio, onde havia a recapitulação. É preciso recordar. Afinal, recordar é viver.
    No capítulo anterior, Pilanthita conheceu Aninlaphat, uma inglesa que estava querendo comprar uma casa. Para ter certeza de que Anin compraria a casa e livraria sua empresa da falência, Pil e seu marido Anantawut planejam que ela irá seduzir a jovem dama da alta sociedade inglesa.
    Venha descobrir o que irá acontecer nesse novo capítulo. Coloque seus fones e ouça, queridos ouvintes. O capítulo começa agora.
    — Pode falar o português. Eu gosto da língua portuguesa.
    (Becky fala em um sotaque inglês.)
    — Claro, falarei!
    Pil passou por Anin e foi até à gaveta de um armário bonito e elegante. Talvez, datando de mil e oitocentos, feito à mão. Pegou uma pasta e se voltou para a cliente com um sorriso que deixaria qualquer um embasbacado por tanta beleza.
    — Então, senhorita Aninlaphat, eu separei umas casas para que possa dar uma olhada. Observe e veja como todas são muito belas e com uma localização ótima. Há estabelecimentos, locais para se ir... Há tudo o que é preciso para seu conforto. Também há segurança. Há praças, lugares para se sair. Tudo o que é preciso para se morar com comodidade em São Paulo.
     A voz de Pil era grave e séria, porém havia um certo tom com uma pitada de rouquidão. Isso deixava os homens e as mulheres lésbicas interessados, ela sabia. Pil sabia seduzir muito bem quando queria.
    Pil olhava fixamente nos olhos de Anin. O olhar de Pil, era o que costumavam dizer... Um olhar que hipnotizava. Inclusive, com muitos dizendo que ela poderia ter tido um marido muito melhor do que aquele, se tivesse o usado com as pessoas certas. Ela sabia ser tão sedutora quanto a Marilyn Monroe, que era a sua inspiração.
    Depois de olhar, passou por Anin e tocou o cotovelo da cliente de forma discreta, ao passar por ela. Um toque singelo de uma forma que desse toda a certeza de que havia um interesse além, ao mesmo tempo que poderia apenas instigar à dúvida, causando um jogo de sedução. Mas ela teria de ir calmamente para que não assustasse a cliente. Precisaria cercar a mulher pelos lados, até chegar ao centro.
    Colocou as fotos que haviam na pasta com toda a calma, lentamente, em cima da mesa após passar por Anin e parar em frente à mesa.
    (Barulho de papéis sendo colocados em cima de uma mesa.)
    Sua intenção era a de fazer a cliente pensar que poderia escolher entre todas as casas, mas depois fazê-la comprar a casa mais cara de seu portfólio, seduzindo-a a querer aquela casa.
    A intenção era a de fazer com que a cliente pensasse que possuía o poder da escolha. Era o que os vendedores faziam todo o tempo com compradores. Persuadir!
     Vendedores faziam a cabeça dos clientes e os clientes compravam tudo o que era indicado porque eles gostam da persuasão, da sensação que os vendedores o fazem sentir, pensando que são importantes por comprar mais e mais. Se não gostassem, diriam não. E era isso o que Pil tinha em sua mente.
     — Dê uma olhada e me diga qual será a de sua preferência. Ou, se preferir, posso indicar-lhe uma casa. Tenho uma opção muito boa em um preço ótimo que vai deixá-la muito satisfeita, mas o melhor é a senhorita ver com seus olhos. Pode ser que a senhorita goste da mesma casa e a escolha sem que eu indique. Pode ser que nós duas tenhamos o mesmo gosto, entende-me?
     Pil passou a língua pela boca de forma bem discreta, mas indicando que não era apenas uma passada sem intenções.
     — Obrigada, senhorita Pilanthita. Darei uma olhada. Se tiver alguma dúvida quanto ao catálogo, direi.
    Anin estava parada de frente para Pil com as mãos em cima da barriga, segurando sua bolsa delicada de cor azul, de pé e esperando a cortesia de ser chamada para se sentar.
    Pil ficou olhando sem entender porque a mulher estava tão parada. Até que percebeu sua própria deselegância para com a cliente e se sentiu burra por não ter percebido antes. Era um ponto a menos que teria.
     — Que cabeça, a minha! Sente-se, senhorita Aninnlaphat! Desculpe não ter dito antes. Aqui, no Brasil, os clientes se sentam sem precisar que a gente lhes dê a licença.
     — Obrigada, senhorita Pilanthita. Não há problemas.
     Anin sentou-se de forma elegante na cadeira confortável. A saia de pregas cor azul céu em cima de suas pernas cruzadas. As sandálias brancas em seus pés elegantes. As mãos com unhas pintadas de rosa claro iam passando de foto em foto.
     (Barulho de papéis sendo trocados.)
     Pil suspirou e olhou para a mulher com toda a atenção e esperança de que a gafe não tivesse tirado um ponto maior, pois os ingleses eram muito chatos com essa questão de etiqueta.    
     (Barulho de suspiro.)
     Anin não era uma mulher comum como as brasileiras. E, mesmo Pil já tendo viajado pela Europa graças à fortuna de seu marido, ainda sentia que aquela mulher era diferente das européias, também. Ela só não sabia dizer como Anin era, enquanto olhava com toda a atenção a mulher que estava sentada na cadeira de seu escritório.
      — Oh, como Anin é tão elegante e linda, mesmo estando tão simples! Jamais, em toda minha vida, vi uma mulher tão elegante sem nem precisar fazer o mínimo esforço ou nem precisar usar jóias caríssimas e belas em seu corpo! Como ela consegue? Será a fortuna dela? Será por ser inglesa? Eu não sei dizer. Só sei que há algo tão diferente nessa beleza. E ela é belíssima! Só não é mais que eu!
     Pil pensou consigo mesma e ficou olhando para a cliente bem fixamente. Não fixamente ao ponto de parecer uma maluca coringada, Harlequina com seu bastão pronto para matar....
    Não, caros ouvintes... Apenas olhou-a bem olhado para ver bem visto. Não com olhos arregalados. Até porque ela não conseguia arregalar. Mentira, Pil conseguia arregalar os olhos bem grandes, mesmo puxados. O que era estranho, pois como um olho tão puxado poderia ser tão grandes.
    Eu é que pareço louca, agora. Desculpem... Vou me calar antes que você abandone a nossa novela querida!
     Vamos continuar...
    — As casas são belas, mas são apenas essas as opções?
    Anin olhou para Pil e pegou a mulher desprevenida, pois Pil estava presa em seus pensamentos. Não esperava que a cliente fosse deixar de olhar tão rapidamente. Nem esperava que ficasse sem olhar todas as casas. Esperava que olhasse todas, sem exceção, pois os ingleses possuíam toda aquela questão da educação e cortesia.
     — Há mais opções, sim, senhorita. A senhorita não terminou de olhar as opções...
     — Todas parecem iguais para mim.
     — Iguais?
     Pil nunca havia ouvido tal afirmação de qualquer cliente. Todos sempre queriam casas naquele estilo. Era o mais comum. Aquilo quebrou Pil de uma tal forma, que ela nunca imaginaria.
    Costumava ser tão centrada no que queria que, raramente, cometia qualquer erro. Porém, Anin era diferente do que ela imaginava, a quebrando de todas as formas desde o início, não retribuindo nada do que havia tentado, desde então.
    — Oh, não! O que farei agora? Por que não perguntei mais informações dessa mulher? Fui tola! Fui imbecil! Agora, terei de pensar rápido para consertar meu erro para que não haja um fracasso. Pensei que teria as manhas necessárias. Mas terei de descobrir uma forma de ela comprar essa maldita casa.
    Pil pensou em uma forma de manter a mulher interessada na compra.
   (Barulho de engrenagens trabalhando.)
   Ela observava Anin com toda a atenção, enquanto maquinava em sua mente uma forma de fazer com que a mulher fizesse o que ela queria.
    — Sim, iguais senhoria Pilanthita... Possuem a mesma arquitetura européia. Não há casas no estilo brasileiro?
     Anin olhava Pil com curiosidade e Pil parecia que havia sido pega em tamanha surpresa. Sua boca se emudeceu, os lábios estavam selados pelo silêncio.
    (Silêncio por um momento.)
    — Preciso pensar... Casas brasileiras? Hã... Preciso fazer ela odiar essas casas e querer a que eu quero vender. Não há nenhuma casa em estilo brasileiro que valha tanto. Seria um golpe descarado vender uma casa xexelenta para essa mulher, cujo valor sendo muito alto para a venda chamaria a atenção por superfaturamento. Mas tenho de saber o que fazer. Já sei!
    Pil sorriu e se recompôs após o breve momento de choque. A ideia já estava em sua mente, mesmo que o plano não estivesse indo como imaginava. Ela ainda tinha uma oportunidade.
    — Estilo brasileiro, senhorita? Sim, já tenho uma ideia!
    (Barulho de passos rápidos.)
    Anin olhou a mulher caminhar apressadamente até os arquivos e procurar, de forma apressada, por algo. Mantinha a postura neutra, mas um sorriso começou a aparecer bem no canto de sua boca.
    Adorava fazer isso com as pessoas que achavam que podiam vê-la apenas como uma inglesa que não gostava de nada além de coisas inglesas. E amava quando eles a viam como uma inocente, sendo que não era.
    As pessoas sempre a viam da mesma forma e era divertido fazê-las ficar em desespero. Fazê-las se virarem para que gostasse do que elas estavam fazendo. Amava o desespero naqueles olhos. Tal desespero que Pil estava tendo ali naquele momento.
    — Pronto!
    Pil se virou com uma pasta preta em sua mão e sorriu. Estava satisfeita consigo mesma. Essas casas iriam fazer a mulher preferir as outras casas.
    (Barulho de pasta sendo pega.)
     Anin ficou impassível, em sua pose neutra, com as costas eretas em que a etiqueta havia a ensinado a se manter. Além do olhar calmo e leve.
     — Tenho essas casas ótimas. Qualidade indiscutível.
     (Barulho de passos rápidos.)
      — Sim, obrigada.
     Anin sorriu levemente e pegou os papéis. Folheou um a um com toda a calma.
     (Papéis sendo revirados de forma leve e delicada.)
     Pil a observava revirar os papéis com toda a apreensão que havia em seu corpo. Seu plano estava indo por água abaixo, ela percebia. Ela sentia isso. Via no olhar da cliente. Estava perdendo-a assim como o Corinthians perdeu por anos. Não haviam vitórias em nada do que havia tentado.
     — Essa mulher parece uma parede de concreto. Se ela estivesse sendo fria como os ingleses, seria tão mais fácil dobrá-la. Eu a pegaria nessa mesa, daria um trato em seu corpo e a deixaria sedenta de amor como uma boa mulher deve ser, mas não! Essa mulher é cordial e gentil. Sorri como se fosse o sol que nasce da madrugada. Eu não sei como agir! Eu não sei como agir perto dela. Está me deixando sem fôlego.
     Pil sentia vontade de roer as unhas, enquanto pensava consigo mesma. Estava nervosa com o que poderia acontecer naquele momento. Anin estava agindo de uma forma que ela não esperava. Havia se planejado para outra postura. Era difícil para ela se reorganizar de tudo o que planejou com a forma que Anin agia e com o impacto que causava.
     — Hum... São muito belas. Quando eu posso visitar e ver pessoalmente? Penso que preciso olhar pessoalmente e ver como me sinto no lugar.
     — Podemos ir agora, se preferir.
     Pil sorriu ao ver o interesse de Anin e percebeu que estava conseguindo ser um pouco sedutora, assim como gostaria. Não estava indo tão mal quanto pensava.
     — Hoje? Não, hoje tenho um compromisso. Marcaremos... Pode ser? Marcamos para outro dia.
     Pil sentiu o golpe da realidade a atingir. Ela havia sido um desastre. Havia perdido a cliente. Deveria agir o mais rápido possível para que o estrago não fosse permanente.
     — Claro... Se quiser, poderemos tomar um café agora e conversarmos sobre isso.
    Pil tentava não se mostrar desesperada. Precisava daquela venda o quanto antes para que não perdesse os luxos que possuía.
     — Um café?
     Anin encarou a mulher com curiosidade e sorriu levemente.
     — Sim, é um costume brasileiro. Cortesia.
     — Eu conheço a cortesia brasileira.
     O silêncio tomou conta do ambiente, enquanto uma olhava para a outra.
    O que irá acontecer no próximo capítulo? Anin aceitará o convite de Pil? Pil irá conseguir manter seu papel duplo e fazer Anin comprar a casa?
   Não deixe de acompanhar a nossa amada novela, Reputation TV todas às quintas, às dez da noite na Globoplay. Te esperamos lá.

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