Disturbia

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Como diria a aposentada, Rihanna... Bam bam biram bam bam biram bam. Eu ia para a lan house ver esse clipe. Bons tempos da época dos dinossauros. Logo, estaremos dizendo que essa é uma música da época da criação do universo, que era a época que a Rihanna ainda fazia música. Que ódio, Rihanna!


A vida de Freen e Becky

    Fico olhando essa palha assada toda sem acreditar que ela vai roubar o meu carrinho na caruda sem vergonha na cara de pau, que filha de uma mãe! Eu preciso ter calma. Preciso de ajuda espiritual. Preciso de uma benzedeira. Isso é um caso grave. Alguém me salva! Socorro! Que inferno!
    Só sei que está ela me olhando com aquela cara deslavada... Juro por tudo quanto é mais sagrado nessa terra de meu Zeus do raio flamejante, que ela está me olhando com aquela cara de p...
    O seu Antônio, um senhor negro de uma certa idade, pai de família, homem trabalhador, está sentado de frente para o volante e vestindo o uniforme...
     O clima está ameno, mas parece que esfriou drasticamente de uma hora para outra. Acho que sou eu que congelei. O que você acha?
     Porque ele está ali normalmente e ela tá agindo como se tudo estivesse numa boa, e eu tô aqui sozinha com aquela cara idêntica a que o Denilson fez quando o Belo foi brincar com ele após passar duzentos anos devendo para ele uns milhões. E teve coisa na justiça e tudo, até bloqueio de venda de ingressos do Belo e o Belo vai lá com a cara deslavada igual a da Rebecca nesse momento. É pra acabar!
    — Você vai ficar aí parada? Está tarde e queremos sair logo daqui, não é, seu Antônio? — Ela está mesmo me falando com aquele tom de que eu tô atrapalhando o seu Antônio? Sério, isso?
    — Eu me esqueci de algo no meu... — Tenho que formular uma desculpa rápida para sair daqui.
    — Precisa ter medo de mim, não, Freen. Eu não mordo. Não é , seu Antônio? — Ela sorri de uma forma que me dá vontade de dar com a minha bolsa na cara dela.
    — Eu sei que não. Não falei nada disso. — Falo tentando eu mesma não morder ela, mas pra arrancar um pedaço e depois ver ela sangrando até morrer, como naquelas cenas de filmes de terror, com ela berrando e morrendo de morte bem matada.
    — Senta aqui atrás, filha. Vamos logo que tá tarde. Tem espaço. Sobe aí. — Olho pra ela não acreditando que ela tem a cara de pau de estar batendo no banco pra eu me sentar. É como se eu fosse uma criança birrenta e mimada. Que ódio!
     Juro, olho sem acreditar no que vejo e percebo que o seu Antônio está me olhando com aquela cara de vamos logo, mulher! Eu tô encurralada, mesmo! Não tenho escapatória nenhuma aqui. Ferrou de vez! Eu estou derrotada!
     Eu estou numa de Lorde Voldemort caído morto como uma minhoca que saiu da terra em dia quente e morreu de calor, ficou esturricada ali e toda contorcida. Sou a Lorda Valdemorta, muito morta de ódio! Vou soltar uns avada pra matar uma!
    Mas beleza, vai! Eu não tenho o que fazer né? Se eu recusar, vou dar motivos para ela falar mais ainda que sou eu que fico caçando treta com ela. Então, o que me resta?
    Vou e me sento onde ela está batendo porque eu não quero outra manchete naquela chata da Mel Diaz e nem meu nome na boca do povo por sair brigando com minha colega de elenco... Outra vez! Mesmo que ela esteja, nitidamente, me provocando. É uma babaca, essa Rebecca!
    — Nossa, seu Antônio, eu tava com uma vontade louca de comer uvas e não tinha uvas no meu camarim. Pedi pra Maria ir lá e buscar para mim. E deixa eu te contar, acredita que ela trouxe umas tão gostosas? Trouxe umas para o senhor. Sei que gosta. — Ela tá puxando o saco do motorista? Inacreditável!
     — Obrigada, senhora Rebecca. Adoro uvas! — O homem gosta mesmo de uvas. Então devem ser amigos. De quem ela não é amiga?
    — Você gosta, Freen? Gosta de uvas? — Ela olha para trás com aquela cara de sonsa do caralho.
    — Não tô com fome. — Respondo com um sorriso amarelo.
    — Não, bebê, eu perguntei se você gosta. Gosta de uva? — Ela insiste com aquela cara de pau que nem óleo de peroba dá jeito.
    — Sim, de uva verde sem sementes. — Suspiro, pedindo paciência aos deuses do Egito.
    — Ah, é dessa mesmo que tem aqui! Você vai amar! Toma! — Ela pega minha na minha mão e joga quatro uvas nela, o que me faz ficar olhando para a minha mão sem acreditar. Essa mulher é uma louca de pedra!
    — Ah... — Nem sei o que dizer.
    — Vou descer aqui, seu Antônio. Nos vemos quando nos encontrarmos. Foi um prazer te ver novamente. — Ela pula do carro bem em frente ao estúdio de Mania de Você.
    — Até mais, dona Rebecca. E obrigada pelas uvas. — O homem está muito feliz. Inacreditável, isso!
    — Por nada... — Ela grita, enquanto corre.
    Fico olhando ela ir, até o homem acelerar o carrinho mais uma vez. Penso que é meio estranho ela não ir embora. O que será que ela foi fazer? Sei lá... O que será? Palpites? Eu não tenho. Você teria? O que ela foi fazer no estúdio de Mania de Você às dez da noite?
    — Ela sempre desce aqui? — Pergunto como quem não quer nada e jogo as uvas fora.
    — Sim, vai buscar a senhora Agatha Moreira. Elas são muito amigas. — O homem dirige, ainda comendo as uvas.
    Amiga da Agatha Moreira? Mas elas brigaram feio na última novela, não foi? Foi o maior bafafá e agora são amigas? Preciso contratar a Mel Diaz para saber dessa fofoca porque está estranho demais. Como assim, elas brigaram e agora são tão amigas que uma vai buscar a outra no estúdio da novela? Muito estranho, isso!
    Acho que estou desocupada demais para estar aqui me importando com o que a Rebecca e a Agatha fizeram e fazem da vida delas. Eu tenho mais o que fazer! Não é possível! Eu? Interessada em saber da vida de Rebecca Armstrong? Só pode ser fogo no cu!
    Devo estar sendo fofoqueira demais e fanfiqueira demais para estar imaginando que Agatha Moreira e Rebeca Armstrong possuem um caso e que o Rodrigo Simas tem um caso com o Cauã Reymond. Então, o namoro da Agatha e do Rodrigo são mentira. Acontece muito no meio artístico e eu preciso parar de pensar nessas coisas, que as duas brigaram por ser briga de casal. Chega!
    — Obrigada, seu Antônio. Bom trabalho. Até a próxima. — Desço do carrinho.
    — Até a próxima, dona Freen. — O homem não é tão simpático comigo como foi com aquela traste da louca.
    Então, eu saio andando. Começo a procurar meu carro no meio do estacionamento grande porque eu juro que me esqueci onde estacionei porque estava super atrasada.
     Eu tenho que ficar tomando um pouco de cuidado porque é conhecido que muitos atores fazem o teste do sofá em diretores aqui no estacionamento. Há até aquela conversa sabe? Já ouviu falar? Que o Lobo Meso-Americano pegou um ator que é pai se família aqui nesse mesmo estacionamento? Uhun... Pegou ele e vários outros. E outros diretores também costumam fazer isso porque é um estacionamento grande e dá pra esconder bem, sabe?
     Mas deixo esses pensamentos de gente se pegando em carros de lado, pois encontro com a Tatá Werneck e ela sorri para mim. Ser artista tem dessas. Você está no estacionamento da Globo e encontra a Tatá Werneck.
    — E aí, Freen? Tá indo embora? — Ela sorri toda animada porque é a Tatá Werneck.
    — Trabalho duro e mereço ir pra casa, mulher. — Faço aquela de fazer o que? — Tá gravando o Lady Night?
    — Em processo de preparação. Já mandei eles chamarem você para ir lá. — Ela avisa sempre assim, do nada.
    — Eu não sou muito divertida, Tatá. Sou uma merda em comédia. — Faço bico.
    — Mas eu sou e com essa sua cara, todo mundo vai rir. — Ela faz aquela cara séria que todo mundo ri.
    — Você é uma idiota. — Até eu começo a rir.
    — Tá vendo? Você sabe rir. É perfeita para o programa. Está convidada e se não for, eu ficarei de cu. — Ela me olha daquele jeito dela de novo.
    — Você fala essas coisas perto da sua filha? — Eu reviro os olhos.
    — Falo e digo para ela guardar segredo, senão o Rafa fica bravo. — Ela parece mesmo que fala sério.
    — E ela guarda? — Eu tô rindo.
    — Se ele não soube ainda, ela deve guardar. Mas eu também já disse que vou vender ela para uma família alemã e comprar um carro com o dinheiro, se ela não for uma boa filha. — Ela continua falando como se fosse sério.
    — Você é louca. — Eu fico rindo porque ela é louca mesmo.
    — Vou indo embora porque a cria tá esperando a mamãe. E quando falo da cria, é o Rafa que tá lá me esperando. Mamãe sabe cuidar do neném. — Ela é louca, mesmo.
    — Vai com Deus. — Balanço a cabeça porque, no fundo, eu também queria ter um bebê em casa me esperando.
  — Vai também... — Tatá entra no carro dela e vai embora, enquanto eu continuo procurando meu carro até ouvir um creck.
    — Ai, Jesus! Que merda! Meu salto quebrou! Justo agora que tô aqui... Merda! Que saco! Não, hoje não é o meu dia mesmo! — Eu abaixo e pego o salto quebrado. — Sapato de pobre! Isso que dá comprar na Shopee. Vou comprar na SheIn a partir de agora! Desgraça!
    — Precisa de ajuda? — Escuto a voz de Rebecca e penso...
    Como é que essa piranha foi chegar aqui tão rápido? Hoje, não é a porra da merda do meu dia! Que ódio! Essa piranha tá me cercando!
     Já tô com ódio porque não acho meu carro nesse estacionamento enorme... Eu fiz o que pra merecer essa desgraça de vida? Eu joguei terra na oferenda de alguém? Tirei a farofa da macumba de alguém? Preguei um prego na cruz? Provoquei os espíritos? Desrespeitei Buda? Ri da cultura hinduísta? Chamei Maomé de doido? Eu provoquei alguma religião? Eu fiz algo?
     Será que essa mulher não vai me deixar em paz? Como ela chegou aqui? Cadê a Agatha Moreira? Ela é o The Flash? São tantas as questões! Alguém me ajuda!
    Iemanjá, cadê o tsunami que eu pedi? Onde está? Me diga! Me explique, me fale, me informe! Onde está? Faça, por favor! Faça uma onda enorme que possa levar essa piranha pro Rio Amazonas! Leve-a para a casa dela! O lugar de piranha é no rio Amazonas e não no mar do Rio de Janeiro!
    Será que eu vou precisar pedir para os deuses egípcios? Deus Rá, dê uma ra-jada nessa louca! Pedir aos deuses gregos... Zeus, pegue seu raio grandioso e meta esse raio na cabeça dessa praga! Deusa Afrodite, me dê amor para não sentir ódio e matar essa draga do caralho! Deus Apolo, queime esse ser das trevas com seu sol ardente!
    Ain, mas que merda! O que eu fiz para merecer tanto azar? Acho que vou para Netflix. Ela cancela tantas obras audiovisuais lésbicas, eu sei. E eu odeio ela por isso. Mas dificilmente eu irei para lá e darei de cara com Rebecca Armstrong, essa piranha! Piranha! Pi. Ra. Nha! Eu quero morrer!

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