CAP 9 - Eleanor

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Faço o meu preparo de todos os dias antes de realizar uma cena. Respiro fundo, 3 vezes. Ajusto meu tom de voz de acordo com a emoção que quero passar. Visualizo a mim na pele da personagem, e me esforço para fazer expressões convincentes. Já posso me ver vestida com a mesma roupa que ela usaria nessa ocasião.

É isso, estou pronta. Pronta mais do que nunca para me desfazer de mim e assumir as dores e traumas que essa personagem, tão humilhada por ela mesma, sofreu.

Decido começar somente da parte que eu falo, e na hora da prova poderei contar com um colega que fará papel de apoio.

-- Como eu faço então? Hã? Por acaso você acha que é fácil simplesmente mudar um sentimento de uma hora para a outra? É fácil para você seguir em frente, porque desconfio que nunca chegou a me amar de verdade. Mas tudo bem, não tem problema. Foi só uma crise, meu amor, vamos passar por isso juntos. Fomos feitos um para o outro, meu amor. E, meu amor, eu não acho que... -- espera, eu repeti "meu amor" quantas vezes?

Caralho.

Fico frustrada por errar e tenho que respirar fundo mais de uma vez. Tudo de novo. E de novo. E de novo, até ficar bom. De novo. Estou me preocupando demais, até porque falta meio ano para entrarmos de férias, mas eu sou obrigada a ser assim. Não vou parar até estar aonde eu quero: meu lugar como estrela de Hollywood, e meu rosto estampado nos catálogos gigantescos dos cinemas.

Também não vejo a hora de sumir daqui.

Eu estava novamente prestes a encenar, porém meus olhos vaguearam sem rumo pela sala de dança assim que senti uma presença estranha -- um tanto negativa -- me observar. E lá estava ela, parada na porta entreaberta, olhando fixamente para mim. Na verdade, não era nenhuma assombração, só um muleque esquisito que eu discuti outro dia.

-- Perdeu alguma coisa?

Ele não responde.

Que saco. Eu só vim até a sala de dança porque sabia que não teria ninguém aqui. Preciso de um espaço para ensaiar, e não posso fazer na frente dos meus colegas atores, na sala de atuação. Ele não pode só se mandar daqui?

-- Garoto, vai ficar aí me encarando? Me dá licença porque eu quero ensaiar em paz.

Vou até a porta para fechá-la, mas ele de repente dá dois passos e adentra a sala. Continua me olhando feito um sociopata.

-- O quê você quer? Diz logo.

Dá de ombros.

-- Só estava passando.

-- Eu preciso da sala.

-- É sua. Fique a vontade.

-- Como? Se você está aqui. -- cruzo os braços e o olho de cima a baixo, não é tão maior do que eu.

-- Ah. Não é a minha intenção te deixar desconfortável. Vou embora.

-- Ótimo.

-- Mas antes...

Ai que ódio.

-- Seu nome é Eleanor, não é? Eu tenho certeza disso, porque te mandei um convite para uma festa na mansão da minha família.

-- Você mandou? Eu não recebi. -- minto -- Por que me daria um convite se eu insultei você?

-- Pra você ir até lá e se desculpar.

Ergo uma sobrancelha. Quem ele pensa que é?

-- Ainda espera que eu faça isso?

-- Não precisa mais ir à festa, não vou te convidar de novo. E o pedido de desculpas pode ser depois do fim de semana.

Destruição ViciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora