Insomnia

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A noite estava calma em National City, com uma brisa suave que parecia sussurrar através das janelas abertas. A mão de Kara repousa no espaço vazio ao lado dela. A princípio ela pensa que Lena possa estar no banheiro, mas refuta essa ideia ao notar as luzes apagadas.

Ainda sonolenta, ela verifica as horas no celular largado na mesa de cabeceira e, lentamente, senta-se na cama. Onde Lena poderia estar às duas da manhã?

"Amor?" Kara chamou suavemente, mas não obteve resposta.

Confusa, ela levanta-se, puxa um robe e sai do quarto, seus pés descalços contrastando com o piso frio de madeira. Ela sabia que Lena tinha mania de ficar trancada no escritório até tarde, trabalhando. E principalmente agora com o leilão que organizaria em sua galeria se aproximando, eram raros seus momentos de descanso.

Mas, nesta noite, após assistirem a Moana com Ellie, pelo que parecia a milésima vez, e Lena a colocar para dormir, ela se juntou a Kara em seu quarto. Então, Kara, fazendo seu papel de esposa atenciosa e dedicada, lhe ofereceu uma massagem quente e relaxante, que culminou em um sexo delicioso que há alguns dias não tinham.

Logo, elas tomaram banho e adormeceram, Lena com os braços ao redor de Kara, agarrando firmemente sua cintura. Kara amava isso. Mesmo ao dormir, em um momento de paz conscienciosa, Lena fazia questão de deixar claro que Kara era dela.

Seguindo o corredor, Kara passou pelo quarto de Ellie e ela foi tomada por uma emoção, como toda vez que olhava para sua filha. Ela soltou um suspiro ao ver que a garotinha dormia tranquilamente no berço – aliás, Kara fez uma nota mental para tocar no assunto com Lena, assim que possível, sobre a transição de Ellie do berço para a cama –, agarrada com a pelúcia do Stitch que seu tio Barry lhe dera no último Natal.

Kara andou rapidamente até ela, ajeitou suas cobertas e alisou seus cabelos dourados, sem querer despertá-la, pois mesmo à tenra idade, Ellie já havia herdado o sono leve de Lena.

Descendo as escadas com cuidado, Kara verificou primeiro o escritório de Lena, onde muitas vezes ela passava horas trabalhando, pintando e sendo produtiva. No entanto, a sala estava vazia. Os documentos empilhados ordenadamente sobre a mesa, a tela coberta, tintas e pincéis enfileirados, a luz do computador desligada.

Lena não estava no quarto de Ellie, nem no escritório, nem na cozinha. E, aparentemente, em nenhum cômodo da casa, visto que toda a construção estava um breu.

"Por favor, não esteja lá fora outra vez..." Kara murmurou para si mesma, lembrando de uma vez em que havia encontrado Lena vagando pelo jardim, em transe.

Ela lembrava vagamente do motivo. Foi o último episódio de sonambulismo desde que se mudaram para essa casa e alguns dias antes de Lena começar a se consultar com o Dr. Oliver Queen, que, posteriormente, viria a prescrever-lhe uma medicação. Ellie estava no período de dentição e Lena não estava conseguindo conciliar o cuidado que sua filha exigia com a pressão no trabalho.

Ela ainda não tinha assumido o cargo de diretora, e a competição para ver quem seu chefe e mentor, Maxwell Lord, escolheria para ficar a frente da galeria quando viesse a se aposentar, era grande e acirrada. E Lena queria garantir que ela seria, sem dúvidas, a primeira opção dele.

Essa luta irrefreada pela promoção na carreira, levou a várias discussões entre elas, um período tenso em seu relacionamento. Pois Kara estava no meio de uma investigação importante na delegacia e também não tinha tempo para se dedicar totalmente ao crescimento de sua filha. O que a deixava particularmente frustrada, e receosa de que Ellie acabasse sendo negligenciada, mesmo que sem querer. A situação ocasionou a Ellie uma espécie de rodízio entre passar fins de semana com os pais de Lena e os pais de Kara por quase dois meses.

One Shots - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora