Le Coup de Foudre

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[Adaptada]

Paris, França - Julho, 2018

Ela dobrou cuidadosamente o jornal e o depositou sobre a mesa, então respirou fundo e contou até dez mentalmente, um truque que utilizava frequentemente para manter a calma. Em reverência, seus funcionários aguardavam alguma reação, o otimismo de antes substituído por rostos sem expressão, quase com medo de demonstrar o crescente desânimo conforme a chef seguia sua leitura em silêncio.

A crítica não havia sido boa. A face da chef Lena Luthor era como um vidro, quando algo não a agradava, ela não conseguia esconder por muito tempo e de alguma forma as palavras impressas no jornal daquela manhã a afetaram.

- O que estão esperando? - Ela finalmente reagiu. - De volta ao trabalho! Pelo visto temos muito o que melhorar! - A chef bradou e se retirou da cozinha, claramente chateada.

Os cozinheiros não tocaram no jornal largado sobre o móvel de aço no meio de sua área de trabalho. Simplesmente recolheram seus pertences e voltaram ao serviço.

As reações eram semelhantes cada vez que uma nova critica era publicada; mesmo quando eram unicamente positivas, a jovem chef não se animava muito. Havia trabalhado duro para chegar onde estava, e não se vangloriava de meia dúzia de palavras ditas por pessoas que nunca fritaram um ovo. Todavia, as críticas negativas a atingiam com o dobro da força. Ela poderia não dar credibilidade aos críticos, mas não negava sua influência no mundo gastronômico. Conclusão: não era fácil ser uma chef de cozinha na cidade mais gastronômica do mundo, ainda assim ela não desistiria.

[***]

- Não é fácil ser assistente da maior jornalista da Europa. - Ela repetiu para si mesma diante do espelho, tentando manter a calma. - Então tudo bem se você chegar atrasada hoje, Kara. Não esquenta. - Ela tentava conter o cabelo loiro em um penteado supostamente simples no alto da cabeça.

Kara era a típica desajeitada, pontualidade passava longe de ser uma de suas virtudes, tropeços eram recorrentes, literal e figurativamente, e por consequência inúmeros desencontros e problemas que muitas vezes poderiam ser evitados.

Era um verdadeiro milagre que ainda estivesse empregada como assistente da dita "maior jornalista da Europa" durante tanto tempo. Por outro lado, ela finalmente sentia que encontrara sua vocação: a escrita. Antes tarde do que nunca, ela pensava, não queria embarcar na terceira dezena de sua vida sem um rumo, e pelo menos isso, seu emprego com Cat Grant garantia. Trabalhava cercada por textos impressionantes e muitas vezes polêmicos, assim como as grandes mentes por trás das palavras.

Cat, sua chefe, é uma verdadeira megera, descendente de italianos; falava alto, não sabia pedir com educação muito menos agradecer. Ainda assim, possuía uma afeição pela jovem Kara, o fato da assistente ser filha de um amigo de infância da jornalista, também pesava a favor da garota atrapalhada. Cat se esforçava para relevar as presepadas diárias de sua auxiliar, por isso apenas a encarregava de pequenas missões do seu dia a dia, como atender ligações, recolher recados e agendar compromissos, e dar satisfações enquanto ela estava ausente em suas viagens de trabalho. Além de tudo, a menina não perguntava muito e não fofocava, para alguém com a reputação de Cat, eram características importantes.

Kara realmente chegou atrasada no escritório naquela manhã. O recepcionista da grande rede de notícias tentou chamá-la, mas além de atrasada, ela estava distraída utilizando fones de ouvido enquanto acelerava o passo para o elevador mais próximo. Somente quando chegou ao último andar do prédio, na sala exclusiva e vazia da senhora Grant que Kara percebeu ter esquecido de que a jornalista havia viajado naquela manhã. Agora, provavelmente estava há quilômetros de distância de Paris e passaria o resto da semana longe do escritório.

One Shots - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora