Capítulo 20

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Eu me sento no trono, com a coroa apoiada em minha cabeça em um ângulo casual. Dizem que meu pai se transformou em borboletas vermelhas quando meu irmão mais velho o matou. É surpreendente que eu não seja atacado e perseguido por elas como uma forma de protesto pela memória do falecido Rei.

Jude Duarte, a mortal responsável por colocar a coroa em minha cabeça, está parada ao meu lado, na posição honrada de senescal. Ela parece ter apenas dois conjuntos de vestes idênticos, um gibão preto, sempre com sua espada presa ao quadril. Ela deveria ser a minha conselheira mais confiável, talvez pela visão de todos os presentes no salão ela seja, mas nos dois sabemos muito bem que ela é a verdadeira Rainha que faz suas vontades por mim, uma mera marionete.

Um rei marionete tolo que a cinco meses atrás se jurou à uma mortal, em troca das propriedades onde cresceu, uma centena de garrafas velhas e raras da adega real e aulas com um dos espiões do grande Rei.

Seria uma boa barganha se ele não tivesse sido enganado.

A corte gira nas danças e tocam músicas, tomam vinho e compõem suas charadas e maldições. Jude os observa, cruelmente da forma que sempre é, seus olhos tem um brilho de prazer, eu imagino se está pensando no poder que exerce sobre todos ali, uma mortal com mais poder que qualquer membro do Povo.

— Se divertindo? — Questiono à ela erguendo as sobrancelhas.

— Não tanto quanto você — responde, parece irritada, na verdade desde a minha coroação ela parece sempre irritada.

Ela criou todo esse teatro e agora se arrepende por eu entrar em seu jogo. Enquanto ela administra o reino eu permito que beijem os anéis em minhas mãos e aceito as lisonjeias feéricas. E é claro, aceitar o vinho, ordenando que encham meu cálice incrustado de pedras com vinho de especiarias. Do jeito que acordamos. Ela era a Rainha e eu me resumia a uma marionete.

— Olhe para todos eles, os seus súditos. — Sussurro provocativo sorrindo cruelmente. —É uma pena que ninguém saiba quem é a verdadeira soberana.

Ela cora e desvia o olhar para a multidão.

Observo um feérico baixo e enrugado, com cabelo prateado e um casaco escarlate, se ajoelha na frente da plataforma, querendo ser reconhecido. Os punhos têm pedras preciosas e o alfinete de mariposa que prende sua capa tem asas que se movem sozinhas. Apesar da postura de subserviência, seu olhar é ávido. Ao seu lado estão dois feéricos pálidos da colina com membros compridos e cabelo voando atrás do corpo, apesar de não haver brisa alguma.

Eu gostaria de estar bêbado.

Apesar de ser dispensado da maior parte dos trabalhos não posso me livrar de ter de ouvir os súditos que desejam que eu resolva um problema, por menor que seja, ou

conceder uma dádiva. É claro que Jude sussurra em meu ouvido como deve resolver isso, e é claro que eu tenho de obedecer, ao menos posso sussurrar algumas palavras maldosas antes disso.

— Ah — me inclino para a frente no trono, fazendo a coroa cair na minha testa, tomando um grande gole de vinho e sorrindo ainda mais.. — Deve ser uma questão séria para ser trazida ao Grande Rei.

— Você talvez já tenha ouvido histórias sobre mim — diz o feérico pequeno. — Eu fiz a coroa que está na sua cabeça. Meu nome é Grimsen, o Ferreiro, há muito em exílio com Alderking. Os ossos dele agora descansam, e há um novo Alderking em Fairfold, assim como há um novo Grande Rei aqui.

Eu conhecia a história.

— Severin — diz Jude em reconhecimento.

O ferreiro olha para ela, com surpresa óbvia por ela ter falado. Mas seu olhar volta para mim.

Como o Grande Rei de Elfhame foi uma farsaOnde histórias criam vida. Descubra agora