Revelação

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"Abruptamente findada, essa breve vida, me toca desesperadamente, tirando a paz do meu viver."


Finalmente uma boa noite de sono em dia, pensa Roman logo ao acordar.
Sua cama novinha em folha cumprira com o prometido. "Bons sonhos."
Sentia-se revigorado e até de bom humor.
Por incrível que pareça o primeiro dia de sol na ilha. Ok, sol entre nuvens, mas já era um começo.
Roman se veste apressado e desce as escadas correndo.
A dona da hospedagem chama sua atenção por isso.

- Não desça correndo, quer se machucar? O chão acabou de ser encerado.

É dia de faxina na hospedaria, as mulheres aproveitam cada raio de sol ainda que seja pouco para lavar as roupas de cama, tapetes e cortinas.

- Vejo que dormiu feito um anjo. Hum! - diz ela para Roman.
- Escuta aqui forasteiro.... - ela é interrompida por ele.

- Forasteiro não, Roman! - ele lhe corrige.

- Está de bom humor? Meninas cancelem a lavação dos tapetes, irá chover! - ela diz em tom de gozação.

Ele tenta segurar mas não consegue, acaba rindo de sua piadinha.
Roman acena para ela mas é impedido de sair.

- Espere! - ela grita.
Roman retorna.
- Ontem você capotou e o Sr. Finn esteve aqui a sua procura, lhe deixou isto. - era uma pequena caixa de madeira com um cadeado mas sem a chave.
- Ele disse que você pode buscar a chave se estiver disposto a falar.

- Só isso? - ele pergunta olhando a caixa.
Ela nem se dá ao trabalho de responder.
- Ok. Muito obrigado senhora... - ele deseja saber seu nome.

Ela olha para ele desconfiada, mas responde.
- Madame Astrid! - ele apenas esboça um singelo sorriso de volta.

Ele sai com a caixa na mão, a sacode no ar para os lados, está relativamente leve, a julgar pelo pouco barulho que faz há muitos papéis. Talvez sejam cartas ou recortes.
Enquanto caminha passa na frente de uma barbearia, decide entrar.

- Bom dia senhor, gostaria de um corte simples ou apenas um aparo?

- Um corte, simples e limpo. Sem navalha, apenas barbeador comum. - o barbeiro consente.

Sentado com a cabeça inclinada, ele observa um pouco os traços do barbeiro. Seu bigode é longo e bem aparado. Ele possui uma tatuagem no braço, parece um rosto feminino. E também é bem alto.
O trabalho não demora mais do que quinze minutos.
Roman paga pelo serviço e vai até a casa do Sr. Finn.
Mas antes disso ele para no pub.
Como de costume se senta de frente para a janela, seu pedido é entregue enquanto ele lê o jornal.
Diferente dos outros dias hoje ele repara no interior do pub.
A madeira de lei é invernizada para afastar os cupins e o bar logo atrás do balcão contém muitas bebidas variadas, uísque e conhaque das melhores safras.
A decoração é diferenciada contendo vários elementos aleatórios que deveriam ornar com a proposta do bar mas na verdade acaba destoando.
Vitrais em uma bancada? Pensa ele consigo mesmo. Ri sozinho, acha de muito mal gosto, porém, nada daquela decoração fazia muito sentido.
Um pequeno objeto brilha com o reflexo do sol e incomoda a leitura de Roman.
Ele olha para frente e diz:

- Aquilo! - aponta para o objeto em questão, o atendente se vira e olha na direção.
- O que é isso? - pergunta curioso.

- Desculpe senhor, vou retirá-lo agora mesmo dali. - o atendente caminha até a prateleira, o objeto é um broche fino com muitas pedrarias no formato de uma flor, ele está encostado entre uma saca de café e um livro. O atendente guarda apressadamente no bolso.
- Assim está melhor senhor? - pergunta ele preocupado.
Roman apenas assente com a cabeça e se pergunta...
"O que faz um broche feminino ali?"
Ele olha o seu relógio e então sai, tão rápido quanto entrou.
Como sempre está apressado mas não corre, seu caminhar é lento mas a passos largos. Ele observa a caixa de madeira em questão, ela é toda talhada em flores diversas, pequenas e delicadas flores. Seu cadeado dourado em formato de coração.
Ele chega a casa do Sr. Finn e bate a porta.

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