Roman

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Duas semanas após o ocorrido, enfim Roman desperta de seu sonho.
Ele abre vagarosamente suas pálpebras, a luminosidade machuca os seus olhos, entreabertos, ele enxerga com certa dificuldade, Violet está sentada em uma cadeira ao lado de sua cama com a cabeça repousada sobre o colchão enquanto segura sua mão.
O sol quentinho que entra pela janela alcança o rosto de Violet que está coberto pelos seus longos e lisos cabelos castanhos.
Roman retira uma mecha e coloca atrás de sua orelha. Esse delicado movimento faz com que ela acorde subitamente.
Ela se levanta rapidamente, pisca forçosamente e esfrega os olhos e quando percebe Roman está lhe observando.
Violet parece discrente do que vê.

- Roman? Roman você acordou!
Ela ela abraça apertado.
Ele sorri e tosse um pouco.
- Ah me desculpe, eu machuquei você?
Violet busca saber se o ferimento foi prejudicado pelo seu aperto, ela abaixa a manta que cobre Roman e tenta puxar seu pijama.
Ele a impede, sorrindo sem jeito.

- Violet, está tudo bem! Fique tranquila.
Ele volta a se cobrir.

- Nem acredito que você está tão bem. O velho médico tinha razão, você é mesmo forte. - ela sorri e o enche de beijos por toda sua face, até Sr. Jones aparecer.
Ele está parado na porta assistindo, quando já acha que é demais ele pigarreia para chamar a atenção.

- Vejo que nosso belo adormecido despertou, e está novinho em folha! - ele gargalha enquanto caminha até o leito.
- Você nos deu um belo susto doutor. Estava quase lhe transferindo para Edimburgo. Mas Violet tinha certeza que você acordaria e me impediu.

Violet ajuda Roman a se sentar, ele segura o ferimento, ainda sente muita dor mas nada parecido com o que já passou.
Ele evita respirar fundo, pois o movimento de expansão de seu tórax provocado pelo ar que infla seus pulmões, o faz sentir pequenas agulhas penetrando seu corte.

- Como se sente?

- Como se eu tivesse me jogado de um penhasco com uma faca presa ao abdômen. - ele sorri.

- Parece que o seu senso de humor continua intacto. Ruim como sempre! - ri alto Sr. Jones.

- Como está Edgar? E a investigação?

- Relaxe doutor, você acabou de acordar de um longo sono. Descanse. Falaremos disso quando melhorar.

- Longo sono? Quanto tempo eu estou aqui?

- Dezesseis dias! - responde Violet segurando sua mão.
Roman fica surpreso e espantado ao mesmo tempo.
O velho médico aparece para checar o curativo de Roman e analisar sua cicatrização, bem como seus reflexos.

- Você dormiu por um longo período, sente isso? - diz ele enquanto passa uma régua na sola dos pés de Roman.

- Sinto sim doutor!

- Algum formigamento ou ausência de sensação?

- Não senhor!

- Ótimo! Então está devidamente recuperado, precisará de mais algumas semanas de repouso até que a cicatriz se consolide por completo internamente. E assim poderá voltar a sua rotina.

- Muito obrigado pela ajuda doutor, e por todos os seus esforços em me salvar. Eu sei que não foi fácil. - Roman aperta a mão do velho médico.

As notícias de que Roman acordara se espalharam rapidamente por toda Portree. Muitos moradores aparecem para desejar uma boa recuperação, eles trazem vários presentes simbólicos como demonstração de afeto e respeito.
As visitas são inúmeras quase o dia todo.
Violet faz uma triagem e fica na porta do quarto recebendo os presentes e os votos.
No final do dia ela se senta ao lado de Roman na cama e lhe dá um pedaço de chocolate na boca.

- Srta. Jones, o doutor não pode comer isso, a dieta dele é restrita por enquanto. - diz Sra. Smith reprovando-a com o olhar.

Eles riem como duas crianças.
- Você recebeu muitas coisas gostosas uma pena estar de dieta, terei que fazer o sacrifício de comer tudo sozinha.

Sr. Finn e Astrid chegam juntos para a visita.
Madame Astrid usa um vestido bonito, seus detalhes estão bordados e acrescidos de algumas pedrarias.
Elegante e pomposa, ela chega entusiasmada.
Sr. Finn, com seu terno devidamente engomado, usa uma boina novinha em folha.

- Vocês dois vieram juntinhos? - Roman questiona com um sorrisinho malicioso no canto dos lábios.

- Imagina, claro que não! Coincidentemente chegamos ao mesmo tempo, não é Finn? - Madame Astrid cutuca com seu cotovelo o braço do velho Finn.
Ele concorda com a cabeça sem nada dizer.

- E estão assim tão bem arrumados somente para me ver? Que honra a minha! - ele debocha mantendo seu sorriso.

- Você parece muito bem para alguém que esteve a beira da morte. Mas uma coisa mudou depois de passar por essa provação.

- O que? - Roman está curioso com comentário de Astrid.

- O seu senso de humor! Não sei se eu gostava mais de você quando ainda era ácido, ou agora, que está feliz!

- Confesso que o seu mau humor me assusta, então eu acho que prefiro o novo Roman Brown. - todos riem do que diz Sr. Finn.
A tarde descontraída, com muitas risadas, ainda escondia muitas questões que precisavam ser vistas.

- Madame Astrid, que tal um chá? - convida Violet.
Elas descem as escadas rumo a cozinha, deixando Roman e o Sr. Finn a sós.

- Me diga Sr. Finn, o que aconteceu enquanto eu estive dormindo?

- Bom, resumidamente. Edgar prestou esclarecimentos no distrito policial juntamente com Violet. Ela foi a única vítima sobrevivente de Alfred, e Edgar foi testemunha ocular, assim como confidente dos crimes de Alfred, quando ele mesmo afirmou tudo enquanto mantinha Violet sob seu domínio.
Seu corpo foi levado pela forte correnteza e desde então ainda não foi localizado.
Logo após deu depoimento, Edgar foi liberado, mas correndo o risco de ser preso pelo crime de contrabando de bebidas alcoólicas em meio a lei seca, ele acabou fugindo, escondido em um barco dos barcos de pesca.
Já Bernard pagou bem caro pela sua liberdade, voltou para Edimburgo e fechou o pub que mantinha aqui de fachada.
Agora que tudo acabou, e você está recuperado, o que pretende fazer Roman?

- Eu não tinha pensado muito bem nisso. Mas já que tocou no assunto. Acho que eu já sei! - seus olhos brilham enquanto fala.

Epílogo

Inconscientemente, Roman já havia determinado o percurso de sua vida. Porém não podia fazê-lo sozinho. Precisava de uma resposta, que só teria se ousasse fazer a tão temida pergunta em questão.
Como não era um homem que vivia com a cabeça na lua, determinado, decidiu que faria sem rodeios, mas do jeito certo.

O Enigma da Passagem.Onde histórias criam vida. Descubra agora