Bodas de algodão

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"Achou que estivesse preso em um sonho, mas na verdade estava vivendo ele."


Hian você quer experimentar? Vamos prove, só um pouquinho.

- Violet, minha filha, deixe o menino, acho que esse purê de beringelas nem eu mesmo iria querer provar. - Sr. Jones ri dela e da sua tentativa frustrada.

- Já ouviu falar em "comer com os olhos?", pois é, isso não está nada atrativo. - Sr. Finn retruca, e ambos riem na cozinha.

- Roman, você pode me ajudar aqui por favor? - Violet chama.
- Eu não aguento mais esses dois dando pitacos, peça para eles irem embora. - diz ela emburrada.

Os três então riem juntos.
- Querida, eles só estão tentando ajudar. Eles também têm certa experiência com crianças, digamos assim.
Ele lhe dá um beijo na testa e acaricia sua barriga.
- Então, como estão as minhas menininhas hoje? - ele diz sorridente.

- Como sabe que é uma menina? - questiona o velho Finn sentado a mesa da cozinha.

- Intuição ele diz. - comenta Violet.

- Então será! Pois a intuição dele não costuma falhar, sou prova disso. - afirma Sr. Finn comendo o purê de beringelas.

- Achei que estivesse ruim? - fala Violet de forma debochada.

- Não! A cara é que está feia, mas o gosto é delicioso. - fala de boca cheia. Todos riem.

- Vamos Hian, vamos passear com o vovô. Deixe sua mãe descansar um pouquinho antes que sua irmãzinha chegue e a deixe ainda mais ranzinza do que ela já está.
Violet cerra seus olhos para o pai e lhe faz uma careta.

- Nem acredito que ele já fez um ano. O tempo passou deveras acelerado. - Violet fica emocionada ao ver Sr. Jones com seu filho nos braços.
- A que horas os seus pais chegam amanhã? - pergunta ela ao Roman.

- Ainda de manhã, acredito eu. Eles devem sair de Edimburgo cedinho, antes do sol raiar. Não se preocupe eles chegaram a tempo para a festa do bebê.

Astrid havia promovido um pequeno chá de bebê para Violet, ela já está com vinte e oito semanas de gestação. E a julgar pelo parto de Hian é possível que o bebê também nasça no prazo certo.
Sr. Finn e Madame Astrid foram os padrinhos no casamento de Roman e Violet. E agora eles também tem um relacionamento afetivo, ainda que não seja formalmente.
Sr. Finn ajudou Roman com a reforma do quarto secreto, fazendo dele o quartinho de Hian, com muitas miniaturas na decoração.
Agora o quarto de descanso de Roman vai ganhar outra roupagem, e pelo visto será cor de rosa.
Dois anos se passaram desde que o caso Alfred e as suicidas foi encerrado.
Muita coisa aconteceu em Portree desde então.
Além do casamento, o nascimento do pequeno Hian Jones Brown.
Sr. Jones foi eleito como prefeito.
A hospedaria da Madame Astrid foi reformada graças à ajuda da família Brown, já que Roman possui grande estima por ela, agora é um hotel.
Sr. Finn mantém seu ateliê e sua aposentadoria, mas agora ele também se dedica a algo novo, um livro, ele está escrevendo sobre o caso de Alfred e sua participação ativa na investigação dele.
O pequeno Will, agora com quatorze anos, ganhou um cargo na prefeitura. Por ser muito dedicado, e ter Violet como madrinha, ele é ajudante de gabinete do Sr. Jones, um faz tudo por assim dizer, porém de uniforme. Ele está feliz!
O barbeiro voltou para Nova York. Ele ficou muito abalado depois da descoberta do corpo da dinamarquesa, que na época de seu desaparecimento era sua namorada.
Edgar, o franzino foi visto trabalhando num pub na Irlanda. Ele nunca mais voltou a Portree desde que o corpo do irmão desapareceu no mar e nunca mais foi encontrado.
Bernard acabou sendo preso novamente pelo contrabando de bebidas clandestinas, dessa vez a fiança não foi aceita pelo juiz, que o condenou, ele cumpre pena nos Estados Unidos, onde foi pego comercializando Scotch para outros países.
A pacata Portree mudou bastante nesses dois anos. Mas não de forma econômica ou atrativa, ela mudou as pessoas que lá vivem.
Um forasteiro que misterioso chegou e acabou ganhando o coração da comunidade e hoje lhe serve como médico!
Uma professora do ensino fundamental, se tornou a mãe que sempre sonhara.
Pessoas unidas pelo destino.
Você acredita em destino?

(...)

Roman recebe um recado.

"Me encontre às 20h na livraria,
não se atrase.
Sua doce e amada, Violet!"

Ele sorri e pensa o no que ele está aprontando.
Violet tem o costume de fazer pequenas supresas para Roman, e ele sempre se derrete em todas elas. Mas existe uma que ele já não espera a muito tempo. Para não dizer que já se esqueceu.
Ele toma banho, se arruma e se perfuma para o encontro.
Antes de sair, ele se despede de Hian que brinca com Thor no chão do quarto, enquanto Srta. Boyd embala Emma em seu colo para dormir.

- Boa noite doutor, divirta-se. - diz ela com um sorriso como se já soubesse de algo.
Ele apenas assente desconfiado do que está por vir.

Roman chega na livraria no horário combinado. Ao se aproximar ele ouve uma música vindo lá de dentro.
Tenta espiar pela janela, mas as cortinas estão fechadas.
Ele bate a porta.
Violet abre e o recebe num lindo vestido vermelho, seu cabelo está preso como no dia que se conheceram.
Ele perde seu olhar sobre ela.

- Vamos, entre!

Ao passar pela porta Roman vê uma decoração bem intimista, com muitas velas de variados tamanhos, uma pequena mesa posta de frente para a lareira.

- O que é tudo disso? - ele pergunta.

- Estou pagando minha aposta!

- Aposta? Que aposta? - ele realmente não se lembra.
Violet ri em voz alta, ela não consegue acreditar que ele não se lembra.

- Aposta, do pub? - Roman questiona surpreso.
- Mas isso já faz mais de dois anos, Violet.

- Bom, antes tarde do que nunca. - ela lhe dá de ombros.

Roman a abraça forte, tirando seus pés do chão a rodopia.
- Você é mesmo incrível. Eu amo você!

Ainda abraçados, Violet pergunta.
- Posso lhe contar um segredo? - ela diz acariciando seu rosto e beijando delicadamente seus lábios.
Roman apenas balança a cabeça positivamente.
- Eu sabia que ficaríamos juntos no dia em que nos conhecemos.
Roman sorri espontaneamente.

- Ah é? E porque diz isso? - ele está curioso sobre a sua resposta.

- Porque eu sonhei com os seus olhos na noite anterior ao nosso encontro na rua.
E quando você segurou minha mão para que eu não caísse, e encarei seus olhos pela segunda vez, eu soube que era você!

- Você disse, segunda vez?

- Sim, você já havia esbarrado comigo antes.
Em Edimburgo quando ainda cursava medicina e eu era apenas uma caloura de letras. Foi na biblioteca. E foi só uma única vez. Depois eu só lhe reencontrei aqui, em Portree.

Você está me dizendo que fomos destinados? - seus olhos estão enfeitiçados por Violet.

E porque não seríamos?

Roman sorri.
Eles se beijam apaixonadamente.

Epílogo

Quando Roman esbarrou com Violet na universidade a primeira vez, sentiu seu coração bater acelerado e descompassar.
Na ocasião, não entendeu o motivo de se sentir assim.
Mas com o passar dos dias, ela não saia de seus pensamentos.
A forma delicada de como ela lhe encarou os olhos, e de como prontamente se abaixou para pegar os livros que havia derrubado sem querer.
Ele lembrava até mesmo da presilha que prendia seus cabelos castanhos. Seu cheiro adocicado o embalou.
Roman nunca conseguiu se esquecer dela.
Aquela estranha, sem nome, o arrebatou e ele estava perdido.
Até que, um encontro inusitado em uma cidadezinha qualquer, ele a reencontrou, e sentiu as mesmas emoções que da primeira vez.
Agora ele está sentado em um lindo pasto verdejante. Observa feliz enquanto Violet corre brincando com as crianças em um campo de flores silvestres e pequenos algodões, vestindo um lindo vestido branco. A primavera agora será sua estação favorita do ano para sempre!






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