A dupla

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O baile de formatura acontece sempre após as provas finais, na última semana de maio. Desde o aniversário de Olivia muitas coisas aconteceram de uma só vez e eu estive atarefado praticamente todos os dias das semanas. Obviamente os sábados e domingos eram dias que eu tirava para me concentrar em coisas que fossem mais do meu hobby, como no dia em que Marc e eu combinamos de ir a uma mostra de clássicos do cinema preto e branco. No fim acabamos encontrando Olivia e Klent em um dos cinemas que presidiam o festival.

Olivia e Klent começaram a se ver bem frequentemente após se conhecerem. Descobri que eu realmente não tinha estado em nenhuma aula com Klent, e as únicas vezes em que poderíamos ter tido alguma atividade acadêmica juntos era quando a diretoria escolar convidava algum profissional para uma palestra temática no anfiteatro da escola. Era desses tipos de palestras que todos os alunos devem comparecer, mas ninguém nunca está realmente interessado.

Digo. Quem gostaria de ficar 1h30 trancado em um auditório para ouvir um PhD em Comunicação falar sobre como o Facebook pode nos tornar mais individualistas? A Netflix por si só deve ter dezenas de documentários falando sobre isso. E com toda certeza a maior parte dos alunos estavam justamente no Facebook ou no Instagram durante palestras do tipo. O que pode ter ocasionado nunca termos visto Klent pela escola.

Além disso, a escola separava os anos por prédio. Sendo o primeiro destinado a administração e os outros aos anos escolares e demais ambientes da escola. As aulas do quarto ano, em que Klent estava, aconteciam no quinto prédio, que era conectado por um corredor que dava acesso à biblioteca e ao ginásio. Já as minhas aulas aconteciam no quarto prédio, que podia ser acessado pelo corredor que também dava entrada ao anfiteatro, onde eu estava agora.

Em pé, de frente para a primeira fileira de assentos, Eduardo colocou seu blusão moletom mais do que rapidamente e pegou uma pequena caixa que estava em uma das poltronas. Quando ele se virou para mim pude ver momentaneamente em seu rosto o mesmo olhar que Olivia sempre me jogava quando tinha novidades.

Quando ele se aproximou eu tinha acabado de sacar duas barrinhas de cereais da mochila. Não demorou muito até que ele me entregou a caixinha e disse:

— Me fala o que você acha.

Sem entender muito bem o que acontecia ali, removi a parte de cima da embalagem e vi o que ele queria tanto me mostrar. Ali dentro havia uma gravata borboleta na cor rubi. A cor tão nítida e tão vibrante invadiu meus olhos enquanto pequenas letras M acetinadas se misturavam formando uma estampa que cobria toda a superfície vermelha da gravata. Se eu entendia bem, a letra representava o sobrenome da família do Eduardo – Myers.

— Era do meu pai – ele complementou ao perceber que fiquei um bom tempo admirando a linda gravata. – Ele a usou no dia do seu primeiro discurso como prefeito. Para mim ela representa confiança, e...

— E você quer usá-la no dia do baile – completei antes que ele terminasse. – Isso é realmente muito bonito, Eduardo. Tenho certeza que sua mãe ficará muito orgulhosa. Sem contar que essa gravata vai cair muito bem em você.

Depois de algumas aulas o quarterback e eu começamos a nos conhecer um pouco melhor. Ensiná-lo a soltar a cintura não tinha sido o maior desafio das nossas aulas. Também tivemos dificuldades nas lições de ritmo e passo, muito embora o seu desempenho na pista de dança tenha passado de mediano para quase que muito bom.

E em todo esse tempo, essa era a primeira vez que Eduardo compartilhava algo tão pessoal comigo.

O pai de Eduardo era prefeito da cidade, e um homem bastante popular. Ele chegou a administrar por quase dois mandatos. Foi em uma viagem à Carolina do Norte, justamente para tratar de assuntos governamentais, que o avião teve uma falha sistêmica e colapsou sobre a floresta de Nantahala. Foi uma notícia muito difícil de se acompanhar. Muitas informações circulavam pela cidade durante os dois dias em que a busca por todos os desaparecidos aconteciam. A equipe do gabinete do pai de Eduardo não era grande, o que fez com que a busca não tivesse que ser tão longa. Ele e sua mãe precisaram de seu próprio espaço para superar a perda. Foi quando eles se mudaram por um semestre inteiro para a cidade da avó dele.

Dança ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora