Amigos

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"Às sete, no anfiteatro da escola."

Quando o ônibus abriu as portas me deparei com um estacionamento desértico e escuro. Mais ao longe conseguia-se ver as luzes dos corredores da escola acesas. Entrei e segui direto para o anfiteatro que fica próximo a porta de saída para o grande campo. Lá dentro não havia ninguém, então desci as escadas rumo ao palco. As luzes das escadas estavam acesas e alguns holofotes do urdimento também. Tirei meu tênis e fiquei descalço. Na minha bolsa havia um CD com todas as músicas apropriadas para as aulas. Busquei o som no grande armário dos bastidores e o ligando já comecei o aquecimento. Pouco depois Eduardo adentra o local descendo as escadas rapidamente. Observei toda a ação enquanto o garoto retomando o fôlego pedia desculpas pelo atraso.

— Está aqui há muito tempo?

— Não. Na verdade, foi só o tempo de eu ligar o som e colocar o CD para tocar. Podemos começar?

Ele praticamente arranca os calçados dos pés e os arremessa para a parte ocidental do palco, depois olha para mim e diz finalmente.

— Podemos.

E foi então que minha mente não conseguiu evitar trazer à tona os flashbacks do sonho na noite passada, em que eu me aproximava tomando sua mão e guiando alguns passos. Para evitar qualquer situação, decidi fazer diferente.

— Hoje vamos praticar somente passos para músicas agitadas.

Depois de nos alongarmos corri até o som e troquei a faixa que tocava. E assim fomos de It's Not The Same Anymore do Rex Orange County a Vita Sociale do grupo Canova.

— Na maioria das vezes o sucesso quando dançamos uma música agitada vem de pequenos gestos que fazemos. Veja, acompanhe o que eu faço.

Me inclino um pouco para frente e começo a mover os pés de um lado para o outro enquanto estalava os dedos acompanhando o ritmo da canção. Com movimentos duros e cintura presa, Eduardo tenta fazer como eu. Digamos que não funcionou muito, mas ao menos o estalar de dedos tinha saído perfeito.

— Posso te dar uma dica? Acredito que você esteja com um pouco de vergonha. Falta se soltar mais. Se quiser, feche os olhos e faça o que o seu corpo sentir vontade, finja que nem estou aqui.

E lá foi ele. Fechou os olhos e começou a se mover em um movimento sem sustentação. Não eram movimentos bonitos, mas dava para ver que ele estava se soltando e sua cintura não estava mais tão presa, isso indicava que já havíamos evoluído em algo.

— Tente balançar um pouco os ombros. E tente seguir o ritmo da música, mas sempre ciente do que você está fazendo.

Vi que ele estava quase lá, porém sua cintura ainda não tinha ritmo. Me aproximei e coloquei as mãos um pouco acima de sua cintura para lhe ajudar a guiar o movimento quando ele dá um salto fugindo do meu alcance.

— O que foi isso? – ele se assusta.

Suspirei. Sabia que algo parecido poderia acontecer.

— Ei, tenha calma, estou te ajudando. É que o movimento da sua cintura está sem ritmo. Ela está mais solta, parece que você perdeu um pouco da vergonha, mas falta o "saber o que você está fazendo." Façamos o seguinte, na próxima vou ver se trago alguns bambolês para você ter um maior controle sobre isso aí. Se não se importa, acho que por hoje já deu. Podemos ir?

Ele então olha para mim suspirante e diz.

— Pode ser, depois ensaiamos mais então.

Ele se senta e começa a calçar os tênis. Pego o som e o levo para guardar. Quando volto com meus calçados em mãos, me sento para colocá-los enquanto Eduardo permanecia de pé esperando algo. Levanto a cabeça e olho para ele.

Dança ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora