O Pedido e o Sim

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Acordei gripado.

Passei por entre todos os lenços jogados no chão e, enrolado em meu cobertor, desci as escadas. Quando cheguei na cozinha me aproximei da pia onde minha mãe estava recostada tomando seu café.

— Fiz uma sopa para você se sentir melhor. Sente-se aí.

Puxei uma cadeira e me sentei deixando minha cabeça cair sobre a mesa. Quando a levanto, minha mãe põe a mão em minha testa.

— Ainda com febre. Tome sua sopa que logo você vai melhorar.

Ela parou por um instante e ficou me olhando.

— Quantas vezes já falei para levar um guarda-chuva, mas parece que você não me ouve, né?! Filho nunca ouve conselho de mãe – ela diz checando as horas no relógio. – Fique bem! Estou indo trabalhar.

Ela pegou a bolsa na cadeira ao lado e se dirigiu à porta.

— Quando acabar vá se deitar. Tome seu anti-inflamatório e se precisar me ligue.

Dizendo isso ela abre a porta e sai. Voltei a comer minha sopa de batatas com pedaços de frango que só minha mãe sabe fazer. O vapor quente fazia minhas narinas dilatarem e eu me sentir melhor.

Depois de tomar a sopa, subo as escadas de volta para o meu quarto. Quando estava no corredor meu pai saiu do banheiro. Ele trajava uma camisa social branca e uma gravata azul cobalto que lhe caía bem, como sempre.

— Você se sente melhor, rapaz?

Me escorei na parede e fechei os olhos com cara de fatiga. Isso já dizia tudo.

— Deite-se um pouco e...

— Tomar meu anti-inflamatório, se eu não melhorar é para ligar para o senhor ou para a mamãe. Sim, já estou sabendo. E os projetos lá da empresa, conseguiu terminar?

Na noite passada ele chegou tão tarde em casa que até perdeu o jantar, isso tudo por tanto trabalho a fazer.

— Quase. Falta bem pouco.

— O povo está realmente precisando daquela ponte, né?

— Sim. Eu até ia ligar para o escritório dizendo que trabalharia de casa hoje, sabe?! Por você não estar bem. Porém me lembrei que temos reuniões marcadas com a equipe técnica e algumas pessoas do gabinete do atual prefeito. Então preciso realmente ir. Melhoras, meu filho. Qualquer coisa não se esqueça de me ligar.

Ele diz isso se aproximando e beijando minha testa.

— Você está realmente com febre.

— Tá bom, ligo sim. Beijo, até à noite.

Meu pai desceu as escadas e eu entrei no meu quarto, uma completa escuridão. A única claridade ali eram os feixes de luz que entravam pela fresta da cortina. Me jogo na cama e fico imóvel por vários segundos. Logo hoje. Eu tinha tantos planos. Tinha que pegar equipamentos na oficina do Isaac e mais tarde ia sair com Olivia. A semana não admitia um resfriado. Não sei se culpava Martin por me fazer pegar um ônibus ou se me culpava por não ter levado um bendito guarda-chuva. Em minha mente maquinava um jeito de adiantar minhas tarefas me esforçando o mínimo possível. Talvez se eu já reunisse minhas ideias e fizesse um esboço da minha pintura, eu já estaria me livrando de uma boa parte do serviço. O problema é que eu estava completamente sem cabeça para criar quadros surreais, e a febre não ajudava muito. Estava difícil raciocinar sobre qualquer coisa. Abri a janela e me sentei na cama. Embora sentisse frio, toda aquela escuridão no quarto fazia meu corpo pesar. Peguei as pastilhas na cômoda e as engoli, havia ao lado da cama uma garrafa com água que eu havia colocado ali na noite passada.

Dança ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora