Química

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No sábado de manhã desci as escadas da casa sentindo uma mistura de anseio e excitação. Minha mãe era a única pessoa sentada à mesa. Me aproximei para cumprimentá-la e quando adentrei a cozinha um maravilhoso cheiro de café invadiu minhas narinas.

Parecia ter anos que eu não bebia café.

— Posso beber um pouco? – Perguntei enquanto a abraçava.

Ela estendeu o braço para cima e passou a mão no meu cabelo. Me curvei para poder olhar em seu rosto. Ela precisou pensar um pouco antes de responder.

— Depende do que você tem planejado para fazer hoje – ela disse, devolvendo um olhar que eu pude interpretar mais do que bem.

Eu tinha um pequeno problema com cafeína. Toda vez que eu me atrevia a tomar café ou algum tipo de energético eu ficava elétrico e uma sensação de ansiedade me atacava. Tive que parar quando descobri que a cafeína fazia meus batimentos aumentarem mais do que o comum.

— Eu prometo tomar bem pouco. Além do mais hoje eu tenho o trabalho com o Eduardo que eu te avisei ontem. E também é bem provável que vamos jogar videogames a noite toda.

Ouvindo isso ela pegou a xícara que estava no suporte em cima da mesa e me entregou. Meus olhos chegaram a brilhar.

— O pai saiu muito cedo hoje? Geralmente o ouço dando partida no carro de manhã.

— Sim, não eram nem 7h. A inauguração da ponte intermunicipal acontece na semana que vem. Ele disse que tem uma vistoria prestes a acontecer, mas que ele ainda precisa terminar os relatórios para liberação.

— Finalmente!

— Você não sabe o quão feliz eu estou por isso. Finalmente ele vai poder desacelerar a rotina. Ainda, se tudo der certo podemos fazer uma viagem nas férias!

Quando me sentei e dei um gole no café, essa notícia conseguiu deixá-lo ainda mais aprazível.

— Você acha que os pais da Elena aceitariam ela ir com a gente? – Ela perguntou.

O que minha mãe não sabia é que a Elena já seria maior de idade até as férias de verão, ou talvez ela tenha perguntado por acreditar que isso seria uma cordialidade entre pais.

— Não sei, você pode perguntar ao Martin depois. Ele também já saiu? – Perguntei ao perceber que a casa estava vazia.

Martin havia me dito no início da semana que levaria o carro à oficina. Estávamos indo para a escola, eu me certificando que tinha pego todos os livros que precisaria e, quando fechei a mochila, reparei que ele olhava o painel do carro para se certificar se não havia nenhuma luz de defeito acesa.

— Não é possível.

Toda vez que Martin começava uma frase com tamanha indignação não era preciso perguntar o que estava acontecendo, pois ele falaria de qualquer jeito.

— Você ouve esse barulho? – Ele perguntou e ergueu o dedo direito apontando o som. Tudo o que eu conseguia ouvir era um ruído, como se fosse o barulho de ar passando por uma ventilação. Poderia jurar de pés juntos que o som que vinha do veículo era o mesmo emitido por qualquer carro. – Tem alguma coisa de errado. Vou precisar levar para uma checagem no fim de semana. Dependendo do que for, pode se tornar um estrago maior e mais caro de se concertar. Por isso não posso demorar para ver o que está causando esse barulho incômodo.

— Martin, você deve ser a única pessoa que ouve esse som. Ou a Elena também já comentou algo? – Perguntei retoricamente. Como se ela fosse capaz de ouvir um trem prestes a bater na porta do lado em que ela se senta.

Dança ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora