' Euphoria '

27 12 0
                                    

Em uma tarde e chuvosa, decidiu sair de sua casa em busca de uma fuga temporária de suas próprias merdas. Ele vagava sem rumo pelas ruas molhadas da cidade, os pensamentos pesados como as nuvens carregadas acima de sua cabeça quase possível de se ver.

Foi então que ele avistou uma pequena cafeteria, suas janelas embaçadas e a porta entreaberta convidavam à entrada. Uma pequena campainha soou quando empurrou a porta e adentrou o local, sendo recebido pelo cheiro reconfortante de café e nicotina, muitos fumantes visitavam cafeterias desse tipo por poderem fumar.

Os olhos de Jungkook percorriam as prateleiras repletas de cigarros, quando ele notou uma jovem atrás do balcão. Seus cabelos escuros estavam um pouco bagunçados, e seus olhos castanhos pareciam um pouco nervosos ao encontrar o olhar de Jungkook.

— Olá... posso ajudá-lo em alguma coisa? — perguntou a jovem, sua voz um pouco trêmula.

Jungkook franziu o cenho, não esperando encontrar uma presença tão inesperada e calorosa em um lugar como aquele.

— Apenas estou dando uma olhada. Não precisa se preocupar — respondeu ele, sua voz soando mais áspera do que pretendia.

O jovem assentiu, um pouco desconfortável com a interação inesperada.

— Claro, me avise se precisar de ajuda — disse ele, voltando sua atenção para outro cliente.

Jungkook continuou sua exploração silenciosa. Havia algo naquela cafeteria que o intrigava, algo que o fazia querer descobrir mais sobre o lugar reservado.

Nos dias seguintes, Jungkook encontrou-se voltando à cafeteria com uma frequência surpreendente. Cada visita era uma tentativa de desvendar o enigma que era o lugar por trás do balcão.

De volta a noite em sua casa após um bom banho gelado, Jeon se deitou em sua cama, os lençóis frios abraçando seu corpo tenso. Ele fechou os olhos, esperando encontrar um pouco de paz na escuridão reconfortante do quarto. No entanto, assim que as sombras da noite começaram a envolvê-lo, os fantasmas do passado emergiram de suas profundezas.

Um silêncio pesado pairava sobre ele, interrompido apenas pelo som distante dos disparos e explosões que ecoavam em sua mente. Jungkook se viu de volta ao campo de batalha, os cheiros nauseantes de fumaça e sangue invadindo suas narinas. Ele estava cercado pela carnificina, corpos mutilados espalhados ao seu redor como peças de um quebra-cabeça macabro.

Seus olhos foram atraídos para os rostos dos seus companheiros, congelados em expressões de horror e dor. Alguns estavam encharcados de sangue, as feridas abertas e expostas para o mundo ver. Outros estavam tão pálidos que pareciam feitos de mármore, suas mãos ainda agarradas aos rifles que os traíram.

Os gritos ecoavam em seus ouvidos, cada um um eco dos seus próprios medos e angústias. Ele se viu cercado por uma cacofonia de vozes, cada uma clamando por ajuda que ele não podia dar. Seu coração começou a acelerar, e sua respiração se tornou superficial e rápida, como se estivesse correndo em direção ao abismo sem fim.

Ele viu os abutres pairando no céu, circulando como urubus famintos em busca de sua próxima refeição. Eles mergulharam em direção aos corpos dos seus companheiros caídos, arrancando pedaços de carne e tripas com voracidade repulsiva. Jeon sentiu o gosto amargo do vômito subindo em sua garganta, incapaz de desviar o olhar da cena horrível diante dele.

Observou em agonia enquanto os abutres devoravam os corpos de seus companheiros caídos. Algumas das feridas estavam abertas e expostas, exibindo carne despedaçada e ossos quebrados. O cheiro de sangue e carne podre pairava no ar, penetrando em suas narinas e provocando náuseas intensas. Larvas asquerosas rastejavam sobre os cadáveres, devorando a carne em decomposição com voracidade repulsiva.

Alguns dos corpos tinham buracos vazios onde antes estavam os olhos, arrancados pelos abutres famintos em busca de alimento. Jeon sentiu um aperto no coração ao ver essas visões horríveis, um lembrete sombrio da brutalidade da guerra e do preço terrível que seus companheiros haviam pago.

"Eles que serviram seu país e no final nem olhos tem para ver a vitória. Obrigado pelos seus serviços", murmurou para si mesmo, as palavras ecoando como um lamento sombrio no silêncio. Ele sentiu uma onda de tristeza profunda e desespero avassalador.

A cena se desdobrou diante dos olhos de Jeon com uma brutalidade quase insuportável. Bombas explodiam ao seu redor, fazendo seus ouvidos sangrarem e sua cabeça latejar de dor lancinante. Seus amigos de longa data, os enfermeiros que haviam compartilhado risos e lágrimas com ele, agora jaziam inertes no chão, seus corpos dilacerados pela violência sem sentido da guerra.

Tenentes que ele admirava e respeitava estavam agora reduzidos a pilhas de carne ensanguentada, seus uniformes rasgados e manchados de vermelho. Os inimigos não mostravam piedade, bombardeando uma enorme tenda médica onde os médicos lutavam para salvar vidas. Eles não queriam médicos vivos capazes de curar seus inimigos feridos, e estavam dispostos a destruir qualquer vestígio de esperança em nome de sua própria agenda sangrenta.. O mundo ao seu redor girava em uma espiral infinita de putrefação, olhava para todos os lados a procura de uma fuga daquele lugar insano.

Corria desesperadamente, seus passos desajeitados ecoando no caos ensurdecedor ao seu redor. Seu coração batia freneticamente no peito enquanto ele tentava escapar do bombardeio mortal que transformava o campo de batalha em um inferno de fogo e morte. Sem perceber, ele pisou em alguns dos seus companheiros caídos, os corpos inertes e mutilados testemunhando a implacável da guerra.

Ouvindo apenas um zumbido ensurdecedor, seus olhos turvos tentavam encontrar uma saída, mas tudo ao seu redor parecia uma névoa distorcida de terror e desespero. Então, uma bomba caiu perigosamente perto, a explosão o lançou pelo ar como uma marionete descontrolada. Ele voou pelos ares, sentindo o calor abrasador e a pressão devastadora da explosão o consumindo.

Quando finalmente tocou o chão, foi em meio a uma cena de horror indescritível. Ele se arrastou desesperadamente, ignorando o sangue, a lama, o mijo e a ração militar espalhados ao seu redor. Corpos dilacerados e larvas deputrefação se contorciam sob seus dedos trêmulos enquanto ele buscava desesperadamente por uma chance de sobreviver.

Finalmente, avistou um rádio a alguns metros de distância. Seus olhos, embaçados de lágrimas e dor, fixaram-se na esperança frágil de um resgate iminente. Mas, conforme se arrastava em direção ao rádio, sua visão se tornava cada vez mais turva, sua consciência desvanecendo-se como uma vela consumida pelo vento impiedoso da guerra. 

À beira do desmaio, Jeon caiu, sua cabeça repousando em uma poça de mijo e larvas putrefatas. Era uma queda humilhante.

Assustado Jeon fechava os olhos, tentando bloquear as imagens terríveis que assombrariam seus pesadelos pelo resto de sua vida. Mas mesmo com os olhos fechados, ele não podia escapar da memória horrível daquele dia fático no campo de batalha.  Ele tentou se levantar da cama, buscando escapar da escuridão que o consumia. Suas mãos tremiam, e ele mal conseguia controlar seus próprios movimentos. Cada fibra de seu ser gritava por fuga, por alívio da tortura mental que o assolava. Mas a guerra o tinha enredado em suas garras cruéis, e ele era apenas mais uma vítima da carnificina sem sentido. Colocou sua mão em seu peito, com os olhos fechados olhando e a cabeça para o teto dava algumas palmadas em seu próprio peito tentando se acalmar.

— Eu estou em casa. Eu estou em casa. Eu estou em casa, eu estou em casa, eu estou em casa.

Repetia diversas vezes para si mesmo.

LÂMINA 10 Onde histórias criam vida. Descubra agora