' Just one day '

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Os primeiros raios de sol começaram a iluminar o quarto, mas a luz não trazia conforto, apenas destacava o vazio e a dor que o consumiam. Seu coração ainda batia freneticamente, e ele precisou de vários momentos para perceber que estava de volta à segurança de seu quarto. As sombras da noite anterior ainda dançavam em sua mente, e as memórias do pesadelo horrível o assombravam. Ele se sentia totalmente devastado, como se tivesse atravessado o inferno e voltado. Decidido a encontrar algum alívio, Jeon se levantou e vestiu-se lentamente, cada movimento pesado com o peso de suas lembranças. Ele sabia exatamente para onde precisava ir, mesmo que isso significasse confrontar mais uma vez a dor de suas perdas. Jungkook permitiu que seus pensamentos vagassem pelas lembranças do passado. Ele revivia os horrores da guerra, os rostos dos amigos perdidos e as cicatrizes invisíveis que o assombravam dia e noite. O gosto metálico e amargo do sangue preenchia sua boca, uma lembrança constante da violência que ele testemunhara, como um fantasma que se recusava a desaparecer.

"Estou bem", murmurou Jungkook para si mesmo, mas as palavras soaram vazias e ocas na quietude da casa. Ele sabia que não estava bem, que estava longe disso, mas admitir isso para si mesmo era uma batalha que ele não estava pronto para enfrentar. A máscara de indiferença que ele usava para enfrentar o mundo estava começando a se despedaçar, expondo as feridas profundas que ele tentava desesperadamente esconder.

Ele caminhou pelos corredores escuros, cada passo ecoando como um suspiro solitário no vazio. Seus dedos escorregaram pelas paredes frias, como se buscando conforto na textura áspera da pedra, mas tudo o que encontraram foi o frio impiedoso que o cercava.

Jungkook se deparou com o espelho imponente no canto da sala. Seu reflexo olhou de volta para ele, os olhos vazios refletindo a dor que ele tentava esconder do mundo. Por um momento, ele contemplou o homem no espelho, perguntando-se se algum dia seria capaz de encontrar a redenção que tanto buscava, ou se estava fadado a vagar para sempre nas sombras de seu próprio passado.

"Quanto mais tempo meus demônios vão me perseguir?", sussurrou Jungkook para o vazio do quarto, suas palavras carregadas de desespero e angústia. "Já vi o inferno com meus próprios olhos, o que mais eles podem querer de mim?" Mas as paredes permaneceram mudas, como se zombassem de sua dor, como se lembrassem a ele que ele estava sozinho em sua luta.

Não havia resposta, apenas o silêncio frio e impiedoso da manhã que o cercava. Jungkook sabia que estava sozinho em sua luta, que ninguém mais poderia enfrentar seus demônios por ele. Mas mesmo assim, ele se recusava a desistir, a deixar-se afundar nas profundezas da escuridão que o ameaçava consumir.

Com um suspiro pesado, Jungkook desviou o olhar do espelho e caminhou até a porta, onde o sol já brilhava no céu. Por um momento, ele se permitiu sonhar com um futuro onde a luz finalmente superasse as sombras, onde a paz substituísse a guerra que ainda assombrava seus sonhos. Mas por enquanto, ele estava sozinho, perdido em sua própria escuridão, lutando para encontrar o caminho de volta à luz. E enquanto o mundo lá fora continuava girando, Jungkook permanecia no silêncio da solidão, buscando desesperadamente uma razão para continuar lutando.

Os minutos se arrastavam lentamente enquanto Jungkook permanecia à porta, perdido em seus pensamentos sombrios. Cada batida do relógio ecoava como um lembrete cruel do tempo que ele desperdiçara, do passado que ele não podia mudar. As sombras dançavam ao redor dele, envolvendo-o em seu abraço gelado, como se tentassem arrastá-lo de volta para os abismos escuros de onde ele tinha emergido.

Uma leve brisa soprou pelas árvores, trazendo consigo o sussurro suave do dia. Por um momento, Jungkook fechou os olhos, deixando-se levar pela sensação de liberdade que ela oferecia. Mas mesmo assim, a paz era efêmera, desaparecendo rapidamente diante da tempestade de emoções que rugia dentro dele.

Quando finalmente se afastou da porta, Jungkook sabia que a batalha ainda não havia terminado. Os demônios que o assombravam ainda estavam lá, esperando pacientemente nas sombras, prontos para atormentá-lo assim que ele fechasse os olhos. Mas por enquanto, ele estava determinado a lutar, a continuar resistindo contra as forças que ameaçavam consumi-lo. E enquanto a manhã se arrastava, Jungkook permaneceu de pé, um guardião solitário em meio ao frio.

No cemitério, o vento frio da manhã soprava levemente, carregando consigo o som suave das folhas dançando. Jeon caminhou entre as lápides até encontrar o túmulo de um jovem tenente que ele conhecia bem. Park Jihyun, um garoto de apenas 19 anos, cujo sorriso caloroso e entusiasmo pela vida ainda viviam em sua memória. Jihyun sonhava em ser floriculturista, um sonho simples e bonito, contrastando cruelmente com a brutalidade da guerra que o ceifou.

Ele se ajoelhou diante do túmulo, seus olhos fixos no nome gravado na lápide. Ele deixou algumas flores, as mesmas que Jihyun um dia sonhara em cultivar, como um pequeno tributo à vida que o jovem nunca teve a chance de viver. Uma onda de tristeza e lamento o envolveu, e ele sussurrou uma prece silenciosa, desejando que o espírito de Jihyun encontrasse a paz que a guerra lhe negara.

Enquanto se levantava, Jeon sentiu o peso da perda de forma ainda mais intensa. Ele deu um último olhar para a lápide, o nome Park Jihyun gravado como um lembrete eterno da crueldade da guerra e das vidas jovens e promissoras que foram sacrificadas. Ao se virar para ir embora, ele prometeu a si mesmo que nunca esqueceria os sonhos e a vida do jovem tenente, carregando sua memória como um farol de esperança em meio às trevas que o cercavam.

À medida que se afastava do cemitério, Jeon deixou que seus pensamentos vagassem novamente, desta vez para os momentos que compartilhara com Jihyun. Lembrou-se das noites frias no acampamento, onde Jihyun, com seu espírito jovial, sempre conseguia arrancar um sorriso dos rostos cansados. Ele era uma luz em meio à escuridão, um lembrete constante de que ainda havia humanidade e bondade, mesmo nos tempos mais sombrios.

Jeon passou por um pequeno parque, onde crianças brincavam alegremente. O som de suas risadas era um contraste doloroso com as lembranças que ele carregava. Ele parou por um momento, observando-as, e sentiu um aperto no peito. Eram essas as coisas simples da vida, os momentos de inocência e alegria, que ele e seus companheiros haviam lutado para proteger. Mas a guerra tinha um preço alto, e muitos nunca retornaram para desfrutar dessas pequenas felicidades.

Com o passar do tempo, Jeon percebeu que o peso de suas memórias não diminuía. Ao invés disso, ele aprendeu a carregá-las com dignidade, como uma homenagem àqueles que haviam perdido suas vidas. Ele caminhava lentamente de volta para casa, seus passos firmes no chão, como se cada passo fosse uma afirmação de sua sobrevivência e de sua determinação em viver por aqueles que não puderam.

Chegando em casa, Jeon sentiu a familiar sensação de vazio. Ele se sentou à mesa da cozinha, seus olhos vagando pela sala. As fotos de seus amigos e familiares olhavam de volta para ele, lembranças silenciosas de tempos mais felizes. Ele pegou uma foto de Jihyun, o jovem tenente sorridente, e segurou-a por um momento, deixando que as lágrimas finalmente caíssem. Não era fraqueza, ele sabia, mas uma forma de honrar sua dor e sua memória.

Com o cair da noite, Jeon acendeu uma vela na janela, um pequeno gesto simbólico. A luz bruxuleante era um lembrete de que, apesar da escuridão, sempre havia um raio de esperança. Ele sabia que sua jornada de cura seria longa e difícil, mas estava determinado a seguir em frente. Ele vivia não apenas por si mesmo, mas por todos aqueles que haviam perdido suas vidas.

Antes de se deitar, Jeon se aproximou do espelho novamente. Desta vez, ele não evitou seu reflexo. Olhou para si mesmo com um olhar firme, reconhecendo tanto a dor quanto a força que via. Ele sabia que a luta interna continuaria, mas também sabia que, passo a passo, encontraria uma maneira de curar suas feridas.

E assim, enquanto o silêncio da noite o envolvia, Jeon fechou os olhos, permitindo-se um momento de paz. Ele sabia que o caminho à frente seria difícil, mas com cada amanhecer, ele encontraria um novo motivo para continuar, honrando as memórias de seus amigos caídos e buscando, de alguma forma, a redenção que tanto desejava.

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