Capítulo Seis

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CAPÍTULO SEIS

RONALD

Já fazia oito anos desde que parti do país quando Gabriele resolveu se casar e pegou a todos de surpresa. Ela já namorava a algum tempo, mas ninguém esperava que seu casamento fosse acontecer, de fato.

— Agradeço pelo convite e estou muito feliz por vocês, mas lamento informar que não poderei ir. — Falei em uma chamada de vídeo e ela rapidamente negou.

— Não vir não é uma opção. Trata-se do meu casamento e você é meu irmão gêmeo, Ronald! — Gabriele disse em tom apreensivo — Garanto que não existe um motivo bom o suficiente para justificar sua ausência.

— É uma viajem muito longa e estou em uma negociação importante para o outro time, Gabriele.

— É isso ou você tem medo de encontrar com Hannah? — Comprimi os lábios ao ouvi-la — Não seja covarde e trata de admitir que você jamais voltou para casa porque morre de medo de vê-la e não aguentar se afastar de novo, não é?

— Não entendo nada do que está falando... — Tentei desconversar, mas ela insistiu.

— Hannah é minha melhor amiga e sei de tudo que aconteceu entre vocês. Todo mundo sabe como vocês sofreram ao se separarem, Ron. — Eu mal conseguia olhar para a câmera enquanto a ouvia — Não é justo que você não veja sua família por medo de reencontrá-la. É meu casamento!

— Eu sei, Gabriele. Você é quem não sabe.

Seria difícil explicar que nenhuma mulher jamais conseguiu preencher meu coração como Hannah. Seria difícil dizer que ela estava marcada em mim, até mesmo em minha pele, pois fiz a loucura de tatuar a inicial do nome dela em meu braço esquerdo, justo o lado do coração. Hannah não foi somente uma história em minha vida, mas era toda ela. A minha vida não tinha graça sem tê-la e eu seguia fingindo que foi um sonho, mas não poderia continuar fazendo isso se a reencontrasse.

— Você não tem uma namorada? Vi nos noticiários que arrumou uma maria chuteira para te seguir por aí — Gabriele ironizou.

— Tenho uma namorada, sim. Jéssica. — Falei nervosamente — O que importa?

— Traga-a. Quem sabe assim as coisas ficam mais fáceis com Hannah.

Demorei cinco anos para assumir um relacionamento e dois para voltar a estar com outra mulher. Tive que seguir em frente quando mamãe comentou que Hannah estava namorando com um garoto da faculdade e me dei conta de que nossa história havia sido enterrada plenamente, mas não foi fácil superar. Passei a buscar mulheres parecidas com ela, porém jamais encontrei qualquer uma que chegasse aos pés.

— Hannah... — Falei o nome dela em voz alta após muito tempo e aquilo queimou em meu peito — Ela tem um namorado?

— Claro que não. — Gabriele disse sem hesitar — Hannah não pensa em relacionamentos. A vida dela é o direito e os concursos, você bem sabe disso. Pretendentes não faltam, mas ela não se importa. Espero que não se arrependa no futuro, quando ficar sozinha e triste. — Me calei com um misto de alivio e pesar tomando conta de minhas emoções — Agora diga-me que vai vir, por favor.

— Tudo bem, Gabriele. Você venceu! Irei ao seu casamento.

Tentei arrumar todo tipo de desculpa para não precisar ir, mas não tive argumentos suficientes. Após oito anos, finalmente havia chegado o momento de rever minha família e ficar frente a frente com a mulher que eu amava e amaria até a morte.

Hannah tinha vinte anos quando a vi pela última vez e eu jamais esqueceria a maneira como seus olhos brilhavam pelas lágrimas que ela continha ao se despedir de mim no aeroporto. Namoramos por cinco anos, três deles as escondidas, mas tivemos que assumir o relacionamento quando o pai de Hannah encontrou os anticoncepcionais dela e a confrontou sobre o motivo do uso. A história chegou aos ouvidos de minha mãe e não pude permitir que Hannah arcasse com as consequências de nossos atos sozinha.

JOGANDO COM O DESTINOOnde histórias criam vida. Descubra agora