Capítulo Cinco

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HANNAH

Meus pais já haviam partido. Gabriele me odiava. Todos ao meu redor me serviam no trabalho, mas ninguém me escutava, verdadeiramente.

Jamais me senti tão sozinha, mas estava ciente de que verdadeiramente não estava só. Dentro de mim crescia uma vida e eu me esforçava todos os dias para não me apegar a ela, algo que parecia cada vez mais impossível.

— Meritíssima, como vai? — A secretária abriu a porta de minha sala e ergui os olhos para ela, desviando-os de meu ventre, que nitidamente já se avantajava.

— Não precisa me chamar assim somente porque assumi um novo cargo, Natália. Pode continuar me chamar apenas de Hannah, por favor. — Tentei disfarçar e ela parou a minha frente com um sorriso agradável de quem esperava receber ordens — A senhora agendou a consulta médica que pedi?

— Certamente. A consulta ficou para hoje mesmo, as três da tarde. — Leu em seu tablet — Desmarquei todos os compromissos, como solicitado.

— Ótimo...

— Se me permite perguntar, você está bem, Hannah? Quero dizer, de saúde. Em todos esses anos trabalhando juntas, jamais a vi solicitando um encaixe médico com tanta urgência...

— Estou bem, sim. Trata-se de um check-up, apenas. — Sorri sem humor, mas ela não pareceu acreditar.

— A viajem para a Europa para visitar seu amigo Ronald... — Natália questionou ainda olhando no tablet — Seguiremos com o plano?

— Não! — Falei abruptamente e Natália até se assustou com o ímpeto empregado — Cancele, por favor. Durante os próximos sete meses não cumprirei nada pessoal, apenas profissional.

— Sim, senhora.

Vi nos olhos de Natália a mesma desconfiança que Gabriele teve ao me questionar sobre a gravidez e desviei o olhar, ciente de que não poderia esconder minha condição por muito tempo se resolvesse levá-la a diante.

Eu estava sozinha...

Minha família sempre foram os Green e, enquanto dirigia entre lágrimas nos olhos antes da consulta médica, tudo que eu podia pensar era em Grace e em seu desejo grandioso por ter uma neta. Eu sabia que a família de Ron era composta majoritariamente por homens e Gabriele era a primeira menina depois de gerações, por isso era inimaginável a possibilidade de em meu ventre crescer uma menina.

Doug e Colin tiveram filhos homens. Ron e eu não teríamos nenhum, pois hoje mesmo terminaria essa jornada absurda e solitária.

— Pensou realmente nas consequências de um aborto, senhorita Parker? — Minha médica questionou enquanto me encarava fixamente — Quero dizer...

— Não existe espaço para uma criança em minha vida, doutora. — Eu não conseguia encará-la, envergonhada por tudo que fazia — Infelizmente não há maneira de que isso prossiga.

— Pois bem...

— A senhora sabe que sou juíza e essa história não pode sair daqui. — Enfatizei enquanto ela digitava — Tenho ciência dos privilégios dos quais desfruto e peço que não espalhe a história.

— Claro que não divulgarei. Sei que seu nome, Hannah Parker, é conhecido na mídia e eu jamais te exporia de tal maneira. — Assenti um pouco mais aliviada — A senhora já pensou na possibilidade de colocar a criança em um projeto de adoção?

Detive-me e lembrei-me de Gabriele. Se a criança chegasse a nascer, ela jamais permitiria que seu irmão ficasse alheio ao fato. Eu não podia destruir a vida dele e tão pouco queria viver carregando esse fardo de fazê-lo ficar contra a vontade.

JOGANDO COM O DESTINOOnde histórias criam vida. Descubra agora