Capítulo 2

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Marina

Devia ser por volta de umas dez, quase onze, horas da manhã e eu não havia conseguido parar de correr pra lá e pra cá igual a uma doida tentando procurar tudo o que eu precisava pra conseguir fazer a surpresa perfeita pra minha namorada.

Tudo tinha que sair perfeito ou então eu teria um troço.

– Será que dá pra você parar de ficar andando de um lado pro outro igual uma barata tonta, nem que só por alguns minutos?! – Sabrina, minha irmã gêmea perguntou, praticamente gritando, dava pra perceber que ela já tava começando a ficar irritada com a minha caminhada em círculos da ansiedade – vai acabar abrindo um buraco no chão desse jeito, além de ficar super tonta – concluiu, enfiando uma pipoca na boca logo em seguida.

Apesar de sermos gêmeas, eu e Sabrina não somos nem um pouco parecidas. Tipo, literalmente, não temos nada em comum uma com a outra, mesmo convivendo juntas a vida inteira, nem uma única coisinha sequer. Zero por cento de compatibilidade. Somos o completo oposto uma da outra em tudo.

Irônico, não?

Duas pessoas tão semelhantes no quesito aparência serem tão diferentes em... bem, em todo o restante.

– Você sabe o quanto eu fico nervosa, cheia de ansiedade e me preocupo com os detalhes quando planejo alguma coisa – respondo, me largando no sofá do jeito mais derrotado que alguém consegue se jogar em um móvel estofado e confortável.

– Perfeccionismo, eu sei – ela resmungou de boca cheia, mantendo seus olhos castanhos fixos na tela da TV, onde estava passando a versão antiga de Pica Pau.

– E esse projeto é um dos mais importantes que já planejei na minha vida! – exclamei, totalmente desesperada, tapando meus olhos com as mãos e segurando o forte impulso de pressioná-las contra o meu crânio com toda a minha força.

– Tô ligada, você tem uma namorada – falou, o desinteresse sendo facilmente perceptível em seu tom de voz, e ela continuava comendo sua pipoca salgada com manteiga.

– A minha primeira namorada desde que eu e Maxine terminamos – comecei a divagar – já deve fazer uns oito, talvez nove, meses – eu odiava me lembrar daquela época, mas precisava de alguma coisa pra me distrair pra não acabar arrancando a pele do meu rosto por causa da ansiedade e do nervosismo. Além disso, falar com a Sabrina, mesmo que ela não estivesse prestando atenção em mim de verdade e sim assistindo desenho, sempre ajudava a manter a calma e relaxar um pouco ao invés de deixar eu me entregar a loucura.

– Eu me lembro – comentou antes de por mais cinco pipocas na boca – ela era muito irritante, não sei como você aguentava ter ela como namorada, a Agatha é bem melhor – minha irmã continuou falando, suas palavras teriam sido praticamente indecifráveis se eu não fosse fluente em Sabrinês de tantas vezes que conversas assim aconteceram, com o alimento variando entre salgadinhos, chocolates e comida de verdade, como macarrão e até comida japonesa, depende do dia e do horário – aquela garota era insuportável – reclamou, revirando os olhos.

– Nunca entendi porque é que vocês sempre estavam brigando e pareciam não conseguir ficar no mesmo cômodo sem pularem na garganta uma da outra – disse, rindo ao me lembrar do quanto minha irmã e minha ex não se dava bem de jeito nenhum, não importava quantas vezes eu tentasse fazer com que conseguissem, pelo menos, se aturar um pouquinho.

– A culpa não é minha que aquela mimadinha me tirava do sério toda vez que abria a boca, ela só falava merda e parecia que fazia tudo de propósito pra me enlouquecer – mais uma reclamação acompanhada de mais uma revirada de olhos da Sabrina, aquela era meio que a marca registrada dela quando ela fica com raiva.

Quando eu namorava com a Maxine, o pé de guerra entre elas duas me irritava demais porque tudo o que mais queria naquela época era que a minha namorada e a minha família se adorasse e gostassem de passar tempos juntos, de se divertir quando eu levava ela pros nossos almoços de família que acontecem todo domingo. Só que minha família não era muito fã da Max, todos a tratavam com educação (exceto a Rina), mas assim que ela virava as costas as expressões murchavam e os suspiros aliviados, por finalmente poderem parar de fingir, surgiam no segundo seguinte. Tudo bem que o nosso relacionamento não era o mais saudável do mundo e todos pareciam notar, menos eu, mas acontece! Quem nunca se envolveu em um relacionamento tóxico, que atire a primeira pedra.

Por causa dessa reação, eu tinha medo de apresentar a Agatha pra minha família porque se o modo que eles agissem com ela fosse parecido com o comportamento que tinham com a Maxine eu ficaria devastada, porque eu amo muito a Thata, de verdade mesmo, e significaria muito pra mim se eles se dessem bem uns com os outros.

O dia em que mais passei nervoso em toda a minha vida foi o domingo em que a levei pra ir conhecer os meus pais e os meus irmãos. Fiz ela trocar de roupa umas quatro vezes, roí todas as minhas unhas de puro nervosismo (tive que lixar elas depois antes de sairmos) e fiquei repetindo o tempo todo como ela deveria se comportar, além de ressaltar o que a Agatha deveria evitar fazer enquanto estivéssemos lá.

Ainda não sei como ela conseguiu me aguentar naquele dia e nem porque ela ainda continuou comigo depois do meu chilique nervoso, eu tava muito chata e insuportável. Na verdade, a Thata foi super compreensiva e tentou me confortar durante todo o caminho até a casa dos meus pais e me abraçou, me deu um beijo na testa e falou que ia ficar tudo bem independente do que acontecesse naquele almoço antes de tocarmos a campainha.

Mas, graças aos deuses, acabou dando tudo certo no final, meus pais adoraram a Agatha, Sabrina gostou dela logo de cara e o Rafael teve uma longa conversa super animada com ela sobre Percy Jackson (como os filmes são ruins, os livros são incríveis e sobre a expectativa que eles têm com a nova série feita pela Disney). Ela até apelidou o Rafa de Nico.

– Clara mandou mensagem – Rina avisou, me arrancando dos meus pensamentos.

Praticamente, me lancei em cima da mesinha de centro tentando alcançar o meu celular, como consequência eu caí no chão e minha gêmea ficou rindo da minha cara enquanto eu voltava a me ajeitar no sofá, daquelas gargalhadas altas.

Ignorei completamente minha irmã gêmea idiota, desbloqueei o celular e, como já estava aberto no Whatsapp, cliquei no contato da minha melhor amiga.

Clarinha 💖

A Marina acabou de sair do apartamento com o Lucas

Estamos indo praí

Okay!
Vou ficar esperando

Na hora que terminei de ler aquela frase, um sorriso radiante tomou conta de meus lábios e me levantei repentinamente, dando pulinhos no mesmo lugar logo em seguida.

– Ela já saiu, né? – Sabrina perguntou, ainda comendo sua pipoca, e eu apenas acenei positivamente com a cabeça, o sorriso continuava se mantendo em meu rosto – beleza, vou tirar o carro, mas você que vai dirigir até lá – ela falou, se levantando e caminhando em direção a porta – quero terminar minha pipoca – finalizou antes de sair do nosso apartamento.

Sim, ela fez tudo isso enquanto estava agarrada ao balde pipoca.

Presente de dia dos namorados atrasadoOnde histórias criam vida. Descubra agora