⋅⋆⊱ 3 ⊰⋆⋅

40 7 0
                                    


Seu caminho está ao norte. Sempre seguindo em frente. Onde a rebeldia encontra o seu motivo. Onde o passado e o presente se tornam o futuro. Onde vivências são colecionadas. Onde eras permanecem intactas. Onde nada foi perdido.

          Uma charada. É claro que uma charada estaria no meio.

          Mesmo após dias de seu sonho inusitado, as palavras que ouvira ainda eram vívidas em sua cabeça, e Hawlie Darvellian tinha o pressentimento de que soubera o que elas significavam no momento em que foram proferidas pela Terceira Rainha Ocidental.

          Avance na terceira lua após esta.

          Há três dias, não saía para suas realizar reuniões com os representantes rebeldes da cidade. Durante grande parte do tempo, ficava em frente à janela, o olhar sempre concentrado na direção norte. Três dias pensando sem parar, três dias cogitando estudar aquilo a fundo ou não, três dias se preparando.

          O colar prateado agora se posicionava em seu pescoço, já havia passado horas olhando–o. A corrente trançada parecia ter luz própria, o pingente azul escuro era um cristal hipnotizante. Aquela joia era digna de uma rainha, não entendia o motivo de ganhá-la ou por que não deveria tirá-la. Ou o motivo de confiar naquela coisa toda.

          Seus questionamentos cessaram quando, ao voltar–se para frente mais uma vez, um azul brilhante e pulsante vindo do pingente roubou sua atenção por um momento. Uma confirmação. Daquela vez não fugiria do que lhe fora destinado — mesmo não sabendo o que era.

          Não duvide de seu coração.

          Podia estar ficando maluca, mas tinha a sensação de uma voz sussurrar em seu ouvido desde que acordara do sonho com Leala. Uma voz que sempre a mandava ir para o norte. Talvez fosse o que seu coração pedia, e se era para confiar nele, então o faria.

          Hawlie segurou firme o pingente com uma das mãos e se virou para observar o quarto. Ela sentia, de alguma forma, que aquela seria uma das últimas vezes que o veria.

          O terceiro sol após o sonho estava no céu, a terceira lua chegaria em algumas horas.

Ela partiria naquele dia.
Para o norte.
Para o caminho em frente.
Para onde sua rebeldia encontraria o seu motivo.
Para o castelo de Airleas.

☆ ☆ ☆ ☆

Duas batidas numa porta de madeira puída e um aviso de que poderia entrar.

          Brooke Albarian era um homem alto e, apesar de estar na meia idade, ainda tinha sua força. A cabeça coberta por cabelos encanecidos virou–se para ela. Aquele era o capitão dos rebeldes, seu maior mestre e a única figura paterna que teve na vida.

          — Só estou passando para avisar que estarei saindo em uma missão própria hoje, Brooke. — Anunciou Hawlie.

          — Não me surpreende que precise ter uma jornada própria. — Os olhos verdes deixaram os papéis na mesa de lado e se detiveram nela.

          — Ah, não. Não estou indo embora — ainda. Ela soltou uma risada falsa. — Só preciso... arrumar algumas coisas.

          Ele levantou as sobrancelhas e moveu os lábios para baixo em sinal de descontração.

          — Vejo que é importante, nunca recebo comunicados prévios seus sobre quais missões irá participar. — Ela abriu a boca para dizer algo, mas ele a interrompeu antes que tivesse a chance de começar. — Não, não. Não precisa. Sabe que tem minha confiança, se precisa ir, vá.

       — Agradeço, mestre. — disse ela, assentindo e dando um pequeno sorriso para ele. Palavras certas têm o poder de encher o vazio de alguém, nem que seja por um momento ou um pouco.

          A jovem já ia sair pela porta quando ele falou novamente.

          — Antes de ir, diga como está, quero saber se está bem.

          — Estou como todos aqui: indo na medida do possível. — Declarou.

          Ele assentiu.

          — Uma tempestade que nos atingiu fortemente, mas que vai passar. Nunca mais a vi, fico feliz que tenha vindo aqui e que esteja melhor. — Uma pausa longa — Agora vá, problemas para serem resolvidos não esperam.

          Ao sair do gabinete, ainda sorrindo para Brooke, foi até o quarto e pôs-se a se arrumar e preparar para o que viria.

☆ ☆ ☆ ☆

          Manto verde musgo, botas até o joelho, calças confortáveis, uma blusa com detalhes elaborados caídos nos ombros, um boldrié com armas, cabelo solto. As melhores roupas e acessórios que tinha até aquele momento.

          Hawlie colocou tudo o que precisava numa bolsa e saiu, rezando para que voltasse viva.

As Joias dos ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora