Um soco no estômago teria sido menos chocante do que aquilo. Hawlie conteve o xingamento que veio na ponta da língua e soltou-o apenas na própria mente. Aquele era o futuro rei. Aquela era a única esperança que o povo tinha. Um olhar de relance revelou que os outros dois jovens também estavam chocados.
Não é possível.
A única reação que a rebelde conseguiu ter foi soltar um risada de escárnio, que virou vários risos de nervoso, que, por sua vez, tornarou-se uma crise de risos. Os músculos da barriga já doíam, todos a fitavam. O príncipe herdeiro do trono de Valaree, a Esperança do Povo, soltou uma risada curta e falsa.
— Não entendi, senhorita. — Ele estava de braços cruzados e com uma sobrancelha levantada.
— Ah, não se preocupe. — Como se ele fosse se preocupar — Só estou surpresa.
— Quem aqui não está surpreso, não é?
— É verdade, mas acho irônico. Não concorda, Vossa Alteza? — Ela fez uma reverência profunda e carregada de deboche. O destaque que dera ao título dele havia sido proposital. Como Leala poderia ter escolhido um príncipe negligente, que nada fazia a favor do próprio povo, para contribuir com o equilíbrio do mundo?
— Terei que concordar, é realmente muito irônico estar ouvindo isso de uma rebelde. — Desta vez, o deboche veio dele. — Francamente, às vezes preferia não ter ouvidos.
Hawlie levou as mãos ao quadril.
— É mesmo? — Outra baixa risada de escárnio. — E eu, às vezes, queria não ter de compartilhar o mesmo ar que certas pessoas. — Era maluca, já havia chutado o balde de vez. Poderia ser quem fosse, aquilo era intragável. A ideia de um Haphyrion estar ali era intragável. Pelo menos não era Lorde Horus. Disso os seres divinos a livraram.
— Fico feliz em dizer que eu também não! Então, se assim preferir, posso mandá-la diretamente para trabalhar na extração de minérios. Evitará desconfortos seus e meus. Tenho provas suficientes de que tentou me matar, ou esqueceu-se do que fez, com quem fala ou de onde está?
Desgraçado arrogante.
— Rasguei uma fascinante capa de veludo, falo com a Esperança–Sem–Rosto–Do–Povo e estou no grandioso castelo onde ela mora? — Podia jurar que o viu se encolher.
— Vejo que não tem apreço pela própria vida.
— Sinceramente, Vossa Alteza, não me importo.
— Sugiro que comece, então.
Desprezível. Repugnante.
— Digo que também se importe. — Ela não faria nada, mas o primo distante dele, sim.
— Acho que o objetivo principal de nos encontrarmos aqui não era esse. — A voz era do jovem esguio. Jim Joedey. Tinha que admitir que era um bom nome.
— Concordo. — Era Nitunah Astraios.
— Quatro crianças. Duas ajuizadas e duas desvairadas. De tempos em tempos, minhas irmãs me colocam em verdadeiras provações. — A voz não pertencia a nenhum que estava ali. Era feminina e expressava extremo tédio.
A estrela mágica no teto brilhou intensamente e, em menos tempo do que os olhos podiam acompanhar, uma figura tremeluzente apareceu.
Era uma mulher extremamente parecida com Leala, mas não, ao mesmo tempo. Tinha cabelos e aura dourados, rosto anguloso, sobrancelhas arqueadas e trazia uma expressão de tédio e desprezo no rosto. Aquela só podia ser Orela, a primeira das Três Rainhas Mágicas Orientais.
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As Joias dos Reis
FantasíaPerante uma ameaça que assola o mundo, uma rebelde que nasceu para ser livre como o vento e seus companheiros estão dispostos a fazer de tudo para salvar o próprio lar. Há dez mil anos, uma perigosa ameaça amedrontou o mundo de Elmeria, e a magia f...