Capítulo 3

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Logo, Charlie apresenta o céu a Ícaro, e ele inutilmente conta-o sobre seus tormentos no presente céu, mas percebe o amigo recém-chegado encantar-se pelo mar de nuvens.


Charlie levou Ícaro ao mar de nuvens através de um caminho dourado. O amigo deslumbrava-se, parando de tempos em tempos para admirar as imensas nuvens — que imitavam construções de templos, com cúpulas que brilhavam em contato com a luz dourada do céu.

Uma, em questão, chamou a atenção de Ícaro — era uma das maiores estruturas —, com pilares brancos; arcos e uma grande abobada.

No centro, uma cúpula de vidro menor, guardava de pé, uma maravilhosa trombeta dourada, retentora do som que abria os portões do céu. Não foi por menos, que o amigo parou para admirar e perguntar:

— Charlie, o que é este lugar?

— Aqui é o Santuário de Gabriel, onde ele guarda sua trombeta sagrada, eu nunca o vi, mas é ele que sempre abre os portões, sujeito introvertido, não? — respondeu Charlie, muito bem habituado a passar por ali quando ia esperar pela chegada do amigo no portão.

Charlie, ainda teve de interromper a andança a cada passo, para responder as perguntas de Ícaro e esperá-lo; pois o homem estava curioso com tudo o que via, parecendo, até mesmo, esquecido de sua recente morte.

— Todos aqui voam! — Ícaro, torceu o pescoço para as almas que viajavam nas nuvens acima e apressou as pernas curtas.

Charlie o viu se meter em seu caminho para, outra vez, perguntar:

— Quer dizer..., que eu posso voar também?

— Claro, faz parte da estadia.

— Oh! Eu vou adorar isso aqui Charlie! — Apontando para o céu, o entusiasmo de Ícaro parecia crescer a cada instante.

— Acredite, vai se enjoar rápido com a novidade.

O homenzinho não deixou de encará-lo, rindo do comentário, como se Charlie estivesse fazendo troça de sua cara.

— Ah, claro... — soltou Ícaro e abanou uma mão, querendo afastar tal possibilidade de perto. — Afinal, o que é que tem de errado aqui, em? É o céu!

Charlie perscrutou o ambiente ao redor, buscava meios de respondê-lo e fazê-lo compreender o que o incomodava.

— Eu não sei bem explicar, este lugar devia ser tudo o que há de melhor para uma pessoa ao partir, mas ele é tão..., celestial, entende?

Ele virou o rosto para Ícaro, mas o homem tinha sumido. Só ao fitar o caminho deixado para trás, que o viu parado, admirando o céu azul celeste.

— Nem está ouvindo! — Charlie balançou o rosto e, chamando-o com um gesto de mão, retomou sua caminhada.

Quando Ícaro finalmente o alcançou, que continuou:

— Vamos; como eu ia dizendo, olhe bem para este lugar, é tão tranquilo; tranquilo demais! A calmaria aqui, isso me inquieta... — explicou Charlie, e mostrou-o o horizonte sem uma única perturbação.

Ao longe, era possível ver algumas almas aconchegando-se nas nuvens, como se estivessem flutuando nas águas de um grande mar.

— Vê? Parece um eterno feriado, e dos piores!

— Mas Charlie..., estão descansando depois de viver, não é assim que deve ser? — inquiriu Ícaro, após avistar o que se sucedia.

— Aí que está! Não quero descansar, preciso de movimentação, algo com que possa me contentar, alguma razão para existir ou vou enlouquecer!

A Trombeta de GabrielOnde histórias criam vida. Descubra agora