Capítulo 20

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Onde Daniel realiza seu desejo de se apresentar como mágico na "Rua da Felicidade".


Os outros esperavam por Charlie na calçada. Ele surgiu saído da cerca e agiu como se nada houvesse acontecido no quintal. Imediatamente que começaram a descer a ladeira.

Charlie ouviu Daniel descrever o local que queria ir, e Samira o reconheceu; mas, como ficava do outro lado da cidade, decidiram improvisar em algum lugar movimentado qualquer.

Tendo isso em mente, Charlie traçou como seria a execução do truque na "Rua da Felicidade" — local que nomeou dessa forma a fim de consolar Daniel; o garoto tinha ficado chateado com a mudança de planos —, e ainda reforçou, dizendo-o ser nesta rua, que o desejo do pequeno mágico finalmente se concretizaria.

Charlie analisou cada canto ao chegarem. A rua em que pararam tinha um bom movimento de pessoas, pois estavam próximos ao terminal dos bondes, e não ficava muito longe do mar.

Era um trecho da mesma praça em que tinham parado após terem fugido do Departamento.

A área era circular, arborizada, e alguns bancos de madeira ladeavam o caminho de cimento que cruzava a grama. Vitrines de lojas e restaurantes tomavam a calçada do outro lado, das ruas, e deles, ainda mais pessoas saiam e entravam.

— E então? Pronto para, afinal, se apresentar, Daniel? — Charlie estudou o menino, que se balançava, inquieto, ao seu lado.

— Não sei não, Charlie...; e se as pessoas não gostarem e não pararem para ver? Eu treinei faz um tempão, mas... — ele receou.

— Você tem que considerar que é apenas o começo, e acreditar que irão gostar; mas precisa ir lá tentar. Vai ver só, o seu esforço vai valer a pena! Agora, veja aquilo...

Charlie agachou-se para ficar da altura de Daniel, e apontou uma fonte circular no centro da praça, cuja água jorrava no momento por três cavidades; sendo, sua base, suficientemente larga para as pessoas sentarem.

— Acha que pode se apresentar ali em cima?

— Posso sim, mas por quê?

— É um lugar estratégico, todos poderão te ver ali de cima. A água que jorra vai ajudar a ocultar um pouco o que fazemos por detrás do pano, e você vai conseguir cobrir a mim e o Ícaro sem problemas. Apenas faça o que você sabe e deixe o resto conosco — instruiu Charlie, gesticulando bem tudo o que expunha.

Daniel acenou em concordância com o rosto. A cantora, por outro lado, fez negar.

— Não acho uma boa ideia, ele pode cair — advertiu ela.

— Ora, como falei: nunca saberemos se a ideia é boa ou não, se não tentarmos; e ele não vai cair, não enquanto eu estiver por perto! Vamos apresentá-lo chamando a atenção de todos, e o Ícaro aqui pegará as gorjetas. — Ele arrancara a boina da cabeça de Ícaro e a virara, para que todos vissem o interior encardido. — Vai ser fantástico!

— Mas, Charlie... — titubeou a cantora

— Fique tranquila e aprecie o espetáculo! A não ser que queira participar, sendo assistente de palco ao meu lado.

— Nem um pouco querido. Não vou participar dessa brincadeira. — Samira revirou os olhos como se ouvisse um absurdo, e afasto-se.

Charlie deu de ombros e cruzou a praça até à fonte, acompanhado de Ícaro e Daniel. Ele próprio escalou a base de pedra e, gesticulando com as mães e braços, chamou a atenção dos que passavam, pronunciando em alto e bom som:

A Trombeta de GabrielOnde histórias criam vida. Descubra agora