Ainda no bar, Charlie fica intrigado com os modos de Rogers, vê Samira sair indignada e a pede para mostrá-lo a cidade.
— Fico contente em saber que encontrou alguém para se divertir pela madrugada afora, Srta. L'Amour! — A voz soara como um ribombo de trovão pelo salão.
Samira desvencilhou-se com delicadeza das mãos de Charlie, que mal teve tempo de descontentar-se ao terem de se separar num momento tão decisivo; afinal, o inconveniente interlocutor estava parado logo atrás.
Viraram-se os dois, e Charlie reconheceu o homem de terno branco, que anunciava os que se apresentariam.
— Ah, Vincent!
A mulher tratou de tomar fôlego e, acanhada, não soube em qual dos dois homens devia pousar os olhos.
— Deixe-me apresentá-los, ele...; ele financia as apresentações aqui. — Atrapalhada, a cantora apontou o recém-chegado e bem vestido homem. — Vincent, este é o Charlie, está..., chegou recentemente na cidade.
— Uma maneira de dizer que sou o chefe. — O homem riu alto e estendeu uma mão grandiosa.
— Prazer.
Charlie aceitou o gesto tranquilamente, tendo a palma muito bem apertada. Ele precisou torcer um pouco o pescoço, pois o homem era consideravelmente mais alto.
Vincent era um típico sujeito de traços fortes, espaçoso, e que queria ser ouvido, não importasse o que estivesse falando.
— Igualmente, espero que esteja gostando da nossa humilde casa, Sr. Charlie. — O sujeito, aparentou engrandecer ainda mais, conforme abria os braços para todo o bar.
— Com ela cantando, impossível não gostar — Charlie exaltou.
— Uma pena que será sua última noite aqui, você tem certeza, meu rubi? — Vincent, interpelou a cantora.
— Estava o esperando justamente para tratar disso — respondeu-o Samira.
— Soube da confusão no bar dias atrás, não terá que se preocupar em conseguir comida minha querida — Vincent iniciou de repente —, não hoje, pelo jeito!
Uma risada carregada de malícia saiu do homem robusto, e Charlie observou o rosto de Samira esquentar com o comentário infeliz — que talvez fosse uma pequena vingança daquele que, outrora, fora rejeitado.
— Não é o que está pensando...
— O senhor importaria se eu levasse a dama por um minuto? — Vincent cortou a mulher, e mostrou uma vasta fileira de dentes muito brancos; tão brancos quanto o terno que usava.
Para adiantar a resposta de Charlie, o robusto homem enlaçou o braço no da cantora, pronto para levá-la consigo; nem ligando para os olhares cortantes lançados, a ele, pela mulher.
— Me importar eu me importo, mas o que vou fazer, essa estrela tem de receber o mérito por brilhar. — Charlie lançou um sorriso sincero para a mulher, quis lembrá-la do motivo da espera e, ainda dizer, que se dependesse dele, nenhum dos dois sairia dali com fome, coisa que preferiu guardar para si.
Restou a Charlie, observar — estático no mesmo lugar — os dois se distanciarem para o palco, e a mulher desaparecer entre as pessoas. Agora que não tinha mais o que tratar ali, ele lembrou-se de Lorbas, e já iria sair, quando viu Rogers parado próximo ao bar.
O ex-sócio conversava com um garçom quando ele se aproximou, parecia fechar a conta.
— Você desapareceu, algumas coisas nunca mudam.
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A Trombeta de Gabriel
Aventura"'Todos os homens merecem o céu!', aqui, este é o lema dos anjos; mas, quando a Trombeta de Gabriel cai do céu - impedindo os portões de abrirem e receberem as almas dos mortos -, Charlie Barker - um homem de 30 anos, morto e malandro -, é escolhido...