Onde Daniel se empolga com o desaparecimento de Charlie, a cantora não acredita que seja uma "mágica" e é dado a ela o milagre de um modo inusitado.
Uma batida na porta aberta chamou a atenção dos que se encontravam na sala do apartamento. Charlie quem estava ali, de pé; parado, e sorrindo de convencido.
— Como?! Como é que você... — A mulher vasculhava o pequeno banheiro ao mesmo tempo em que virava o rosto várias vezes para a porta de entrada.
Boquiaberto, Daniel tinha deixado o miolo da maçã cair e rolar pelo chão; o menino chegou até mesmo a esfregar os olhos, querendo confirmar o que via.
— O que diz disso Daniel? — perguntou Charlie.
— Foi incrível! Igual aos truques de mágica que eu vejo na TV! — empolgou-se o garoto, levando às mãos à cabeça.
— Espera. Truque? — Charlie repetiu confuso. Pensava ter deixado claro que o desaparecimento não era um.
— É! Eu também sei fazer!
Charlie observou Daniel retirar uma esfera pequena e translúcida do bolso do casaco; mostrá-los bem o objeto e, com um rápido movimento das mãos, fazê-lo desaparecer de sua palma, bem diante dos olhos de todos.
— Com licença — pediu o menino, se aproximando de Ícaro. — Tem uma coisa no seu ouvido.
Ficando na ponta dos pés, e levando uma mão à orelha do homem, Daniel puxou a esfera do ouvido dele.
— Santo Deus! — espantado, Ícaro tateou a própria orelha.
O garoto achou graça da reação do homem e revelou-os a esfera entre à ponta dos dedos.
— Como aprendeu a fazer isso? — Charlie dava palmas abafadas; estava impressionado de verdade.
— Na TV. Treino com meu pai desde os cinco anos, daqui a alguns dias eu faço dez, e quero me tornar mágico até lá — explicou o garoto, bastante animado e convicto da ideia.
— Ele tem mais rumo que a gente — embasbacado, que Charlie sussurrou para Ícaro, e o amigo concordou.
— Você pode mesmo me ajudar a achar a rua, moço? Seria demais apresentar esse truque seu! — os olhos azuis do menino chegavam a brilhar ao perguntar.
— E por que não? É exatamente o que quero fazer! — Charlie estalou os dedos para ele. Tinha ganhado sua confiança, e aquilo era tão bom quanto vencer uma de suas apostas.
— Espere um minutinho aí! Ei querido, venha aqui — a mulher interviu, atenta a conversa e tudo que ocorrera.
Charlie estava tão concentrado em conversar com o garoto, que nem tinha percebido-a ao seu lado. Ela ainda permanecia com o semblante contraído numa careta que, para ele, incrivelmente, fazia-a permanecer encantadora.
Deixando o menino — que tinha tirado um baralho de cartas dos bolsos e tentava fazer outro truque com Ícaro —, Charlie aproximou-se interessado da cantora; que se afastara para um canto da sala e chamava-o com os dedos.
— O que foi?
— Vai explicar o que acabou de fazer, você é o que? Um mágico também? Um caçador de talentos é isso? — indagava a cantora, o estudando de cima a baixo.
— Você ainda não acredita, eu entendo. As pessoas nunca creem que são mágicas de verdade.
— Não é isso! — Ela deu uma olhadela para o menino, antes de continuar: — Não pode simplesmente dizer que vai ajudá-lo sem nem saber se isso é o certo a ser feito, o correto é levá-lo para os pais. Quer realmente ajudá-lo? Podia só o convencer a voltar para casa ao invés disso.
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A Trombeta de Gabriel
Pertualangan"'Todos os homens merecem o céu!', aqui, este é o lema dos anjos; mas, quando a Trombeta de Gabriel cai do céu - impedindo os portões de abrirem e receberem as almas dos mortos -, Charlie Barker - um homem de 30 anos, morto e malandro -, é escolhido...