14| Possuída

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“Aprendi a fugir dos meus demônios, aprendi a me esconder.
Mais graças a você, aprendi a mandar todos os filhos da puta para o inferno, então não se assuste quando me ver banhada em sangue, por que eu garanto, querido Zyan.
O sangue não será meu”

ABBY
04/outubro
2023.

20:45

.
Por que tudo parece mais lento ou tedioso sem a presença de Zyan?

Era tudo calmo e menos intenso, acho que isso é por que ele tem uma presença marcante e o silêncio da casa é assustador.
Ainda mais quando estou sentada na varanda apenas observando os raios do sol sumirem no horizonte, o que tem sido basicamente meu hobby favorito nos últimos dias, além de pensar naquelas pessoas que vieram aqui, atrás de notícias ou ao menos uma migalha de informação sobre seus entes queridos, e eu sinto que devo isso a eles.

Ao menos uma maldita informação, por isso eu sei que, por mais que Zyan me odeie depois ou fique com raiva, eu decidi fazer uma carta e entregar junto com a bolsa de Every, a garota loira que desapareceu com os amigos ou melhor que o Zyan matou.

Suspiro pesadamente enquanto visto minha blusa branca de mangas longas e coloco a jaqueta preta de Zyan por cima, me sento no sofá e depois calço meu tênis, me levanto e jogo meu cabelo para trás, coloco a Santoku no meu cós e pego as chaves da casa e a sacola com a bolsa e a carta.

Sim, eu deveria fazer isso, olho ao redor vendo se está tudo certo e depois olho para a luva em minhas mãos.

Ok, não haveriam digitais por que eu lavei a bolsa, não haveria na carta também por que usei uma folha de papel que achei no baú do porão.
Certo Abby, é só deixar a sacola na caixa de correios e ir embora.

Não deve ser tão difícil.

Santos, por que parece que eu tô indo matar alguém?

Respiro fundo e saio da casa, tranco a porta e ligo a lanterna do celular.

O céu estava limpo e a lua brilhava majestosa no céu.
Sua luz estava tão forte que clareava as árvores e o caminho que percorri até chegar na estrada, desliguei o celular e o coloquei no bolso da jaqueta.
Passei pelo mercado na beira da estrada e fui direto para a rua principal, dobrei a esquina e entrei no beco que sempre pegava para chegar no trabalho, subo a escada e pulo o tão familiar muro, que ainda estava quente devido ao calor de 40° graus que quase me fez derreter hoje.

Pulo do outro lado e dobro a esquina de onde já posso ver o prédio onde eu morava,  caminho até ele segurando firme a sacola vermelha em minhas mãos, na entrada vejo alguns dos meus antigos vizinhos reunidos e fofocando como sempre fazem nos dia de quarta-feira.

— Abby? — Dona Fátima murmura surpresa e atraindo a atenção de todos para mim.

Olho para trás fingindo não saber com quem eles falavam então olho para eles como se estivesse confusa.
Eu ainda precisava fingir que não me lembro de nada.

— Está falando comigo? — levo a mão ao peito enquanto encaro Fátima.

— É claro Abby, como você está? — pergunta se aproximando.

— Bem, eu acho — franzo a testa ainda fingindo não lembrar de nenhum deles — Desculpe mais eu lhe conheço?

— Sim, quer dizer, você costumava ser babá dos meus filhos quando eu trabalhava no correio — explica e eu abro a boca fingindo estar surpresa.

Profano 01  Onde histórias criam vida. Descubra agora