Profano 01

16| O preço de uma alma

"Seja lá do que nossas almas forem feitas, o valor está acima do que suportamos pagar.
E é alto de mais para valer apena.”

Abby

.
Eu ainda estava na aquele sonho.

Ou era uma visão, não sei dizer ao certo, mais ainda podia ver a cidade queimar, ainda podia ouvir os gritos das pessoas e sua dor.

Mais tudo ainda estava confuso em minha mente até que o lugar ao meu redor se transformou em cinzas.

Tudo ficou diferente e em um piscar de olhos eu estava em uma sala escura, o teto parecia um céu infinito onde haviam nuvens negras e estrelas apagadas, o chão era coberto por água, escura e fina, e eu andava sobre ela, mais não me molhava.

Uma luz piscou ao meu lado atraindo minha atenção e quando me virei, diante de mim apareceu uma imagem.

Parecia um holograma se projetando no espaço, e lá estava eu com meus três anos de idade, correndo pelos jardins do orfanato.

Minha primeira lembrança.

Outra luz e a imagem de quando eu conheci Robert.

Outra imagem de quando eu tinha doze anos e minha primeira menstruação veio.

Eu fiquei tão assustada que não sai do quarto durante dias.

Então outra imagem de quando eu tinha quatorze anos e eu podia tomar sorvete as quinta de tarde e Robert pretendia me adotar, mais infelizmente não conseguiu.

Então eu tinha quinze anos.

— Não... eu não quero ver isso —  sussurrei e senti minha garganta prender quando as primeiras imagens surgiram ao meu redor.

Eu estava no meu primeiro ano de ensino médio e Robert tinha conseguido uma bolsa de estudo na Rincks School, eu estava tão feliz e eufórica.
Tinha as melhores notas de toda a turma e meu primeiro ano tinha sido perfeito.

Até.

Dean Gydeon por os olhos em mim.

As imagens somem e logo eu estou com Dezesseis anos e sendo encurralada por ele.
Em seguida estou com Dezessete e me tornei seu brinquedinho.
Fecho os olhos evitando olhar para as memórias mais sórdidas do meu passado, então por breves segundos tudo fica em silêncio.
Até que ouço o som ofegante de alguém correndo e em seguida a pessoa solta um grunhido de dor.

— Por que você pertence a mim, doce Abby. — era a voz de Zyan.

Abro meus olhos e a imagem de Zyan me segurando contra o chão surge diante de mim.
Ele pressiona a faca em minha garganta e eu posso ver meus olhos marejados encararem seu rosto, a sensação dele sobre mim retorna e eu sinto como se estivesse naquela noite, até que meu ar falta e eu vejo o brilho de meus olhos sumirem antes de apagar.
Ele me encara por breves segundos antes de puxar a faca, Zyan me joga por cima do ombro e pega minha bolsa, meu tênis e meu sobretudo que tinha caído durante minha fuga.
Então ele me leva para sua casa e fica várias horas olhando para mim.

Engulo a seco me aproximando das imagens.

Ele se levanta e entra na gaiola onde eu estava deitada, Zyan toca meu cabelo e depois leva os dedos até meu rosto.
Ele o acaricia e uma lágrima escapa de seus olhos.