19| Eu e o serial killer

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“Eu sei o que o que eu faço não está certo.
Eu não posso parar o que eu amo fazer, então eu assassino o amor na noite observando-os cair, um por um enquanto eles lutam.
Querido eu sou uma sociopata.
Doce serial Killer.
Por que eu te amo só um pouco demais
Eu te amo só um pouco demais.”

Lana del Rey, serial killer

Zyan
13/outubro
2023

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Se havia uma coisa da qual eu tinha absoluta certeza era que, Abby nasceu para ser minha, não importava o que o destino, Buda, deuses, santos ou qual quer entidade dissessem, ela é minha.

Podem me achar obsessivo ou uma pessoa egoísta, mais devo dizer, nada nesse mundo irá me separar dessa mulher, nada me fará deixa-la e mesmo que ela decida me deixar,  não irei permitir, e talvez isso me torne ainda pior mas, é da Abby que estamos falando, a mulher que eu sequestrei, que fez com que meu coração voltasse a doer, que me fez ama-la por simplesmente existir, que me fez desejar a morte e ao mesmo tempo implorar para viver, que me fez prometer algo que eu nunca me imaginei capaz de fazer, algo que percorre minhas veias e me faz arder, só que agora, sem o demônio, não preciso mais matar, não há mais vozes me obrigando e nem a dor em meus ossos, agora resta apenas o vazio.

Tudo parece certo, então por que me sinto tão... tão errado? Por que sinto como se faltasse a parte mais essencial da minha vida? Por que me sinto um monstro quando deveria me sentir humano?

Mais talvez, só talvez... eu sinta essa dor exatamente por que sou humano.

É a única e maior prova de que eu mudei e mesmo que ainda adore matar, mesmo que eu o faça sem sentir remorsos, irei cumprir minha promessa a Abby, farei de tudo para manter as mãos "limpas" se isso significar que viveremos bem, que criaremos nosso filho e que....

Um filho... não tinha parado para pensar nele, não fazia questão de pensar nele, por que para mim ele seria apenas uma moeda de troca, um meio de me livrar da dívida, um meio de me livrar da aquele demônio... mais agora ele ficará, e eu não sei bem como me sinto em relação a isso, mas tive tempo o bastante para pensar enquanto entalhava as folhas no pequeno berço, sempre imaginado o sorriso de Abby quando o visse, algumas vezes imaginado como nosso pequeno bebê ficaria dentro dele, como será seus cabelos, serão castanhos como os meus ou negros como os de Abby? E os olhos? Ou o rostinho, o nariz e as mãozinhas?. São tantos detalhes que as vezes me sinto feliz apenas em imaginar, mais espero fielmente e imploro para quem quer que esteja no centro do universo ou sei lá,  que esse bebê seja parecido com Abby, não quero que ele tenha os meus olhos sombrios ou o rosto parecido comigo.

Quanto menos ele tiver de mim, mais pura será sua alma.

Me encostei sobre a pequena cerca do novo jardim de Abby. E a observei enfiar as unhas na terra me admirando por que, — mesmo que o inverno esteja vindo com tudo — ela insistiu em plantar, observar e cuidar, a cada hora, minuto ou segundo, de suas plantas — que ainda não passavam de sementes enterradas em adubos — e me admirei ainda mais quando ela decidiu ir até a cidade fazer seus exames na segunda-feira, o que não tinha nada haver com jardinagem, mais me parecia tão confuso quanto.

Deixei de lado esses pensamentos quando me aproximei e inspirei seu perfume doce, Abby estava concentrada em um pedaço de terra enquanto ainda enfiava suas unhas e remexia o adubo, fiquei ao seu lado e depositei um beijo em sua têmpora, ela sorriu erguendo os olhos para mim.

— Já são cinco horas — lhe informei entregando a ela a pequena xícara com chá que eu mesmo havia feito.

Ela pegou e me deu um sorriso de agradecimento antes de soprar e o vapor se espalhar com o vento, ela bebeu lentamente um gole do chá e olhou para suas mãos sujas.

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