15| O desejo, o pecado, a fogueira e a vingança.

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"Leve-me para a igreja, faça-me rezar de joelhos para você.
Eu não tenho medo de enfrentar isso.
Por favor, faça-me sua.
Deixe nossas almas queimarem com o fogo de todos os nossos pecados"

1600.

Kramax, vilarejo desconhecido ao norte de Salém.

🍁O desejo.🍁

ŁIŁITH

.
Você consegue sentir o cheiro da podridão dos véus?

Não. Eu não sentia.

Não falava com espíritos, não fazia feitiços, não fazia porções, não matava pessoas e não era uma bruxa.

Mais o simples fato de ter a pele mais branca que as outras garotas, o corpo e o rosto mais belo, as sardas em meu nariz e algumas acima das minhas bochechas e o cabelo ruivo e longo, faziam de mim a maior bruxa que esse vilarejozinho já viu.

Durante todos os anos de minha vida eu me vi presa a algum requisito da sociedade, me vi julgada por não estar de acordo com as regras dela.

Eu era bonita demais para uma moça de família, então eu era uma meretriz.

Fiquei noiva e passei a ser uma bruxa.

Mais até quando minha vida seria baseada na minha aparência e não em quem eu sou?

Não nas vezes que salvei as pessoas dessa cidade, não na época da grande febre na qual eu lutei para salvar o máximo de gente que eu consegui.

Não no dia em que aquela peste terrível atingiu todo o vilarejo e eu me dispus a ajudar mesmo quando todos os outros curandeiros se recusavam, por medo de contrair a doença.

E depois que o caos passou, então eu fui de novo vista como uma bruxa, a esposa de Satanás.

Tudo por que não peguei a doença.

Mais a culpa não é minha se os outros curandeiros eram tolos o bastante para não usarem um pano sobre o rosto, cobrindo o nariz e a boca, e luvas nas mãos.

Por que o fato de eu ser mulher me faz parecer sempre menor?

Qual é o problema da sociedade? E será que algum dia isso vai ser diferente?

São tantos questionamentos que eu me recuso a aceitar que não terei uma resposta, mais o que posso fazer se minha vida é resumida a ser dona de casa, casar, ter uma penca de filhos e servir a um homem?

Não que eu não queria isso, mais eu acho que faria um trabalho melhor se tivesse a chance de participar do grupo de curandeiros.

Mais tudo isso era um sonho distante e eu nunca chegaria nem perto de um deles, quem dirá ser um deles.

Suspiro arrancando mais uma pétala da clematite que cresce sobre a grama molhada, me levanto e bato as mãos na saia do meu vestido vermelho, coloco a cesta ao meu lado e refaço o caminho para casa.

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