Os doentes da vida são os que tem os sorrisos mais bonitos, pois tem consciência da escassez da felicidade. Ele se encontra em um quarto escuro, debaixo de uma cruz, sentado com vangogh na cama, olhando pra janela, chovia lá fora, mas sua cabeça estava quente. Quente pois em sua mão havia uma decisão do restante de sua vida. Uma arma, uma bala, uma aposta. Queria uma cura para aquele aperto em sua cabeça, por um fim a sua tortura.
Qual era seu nome? Quem se importa? Puxa o gatilho e morre. Essa é a história de um suicida. Um suicida que tinha tudo, mas não exergava nada, ao seu adversário lhe acertar aos olhos com aquele revólver rubro. Estava cego, ofuscado com a escuridão de sua dor. Ele não morreu. Ele tem 37 anos, vai completar 38. A história não foi assim, né? Ele não tinha uma arma, tinha um buquê, e o que você fez com ele? Você apostou no amor?
Não era um buquê. Então o que era? Era nada. Ele não pode morrer, porque os outros os amavam. Tinha medo de duelar com a dona morte, mas estava desesperado para acabar com aquela dor, então foi ao duelo sem pestanejar. "Ó meu padrinho Cícero! O que essa doença aí de querer mim! O que mais! Já me levou tudo!!! Agora que levar meu amor! Minha vida! Meus amigos! Não vou deixar! Vou a enfrentar e me vingar, antes que ela por meio de meu revólver machuque os outros, pois prefiro enfrentá-la na solidão, onde somente irei me machucar".Essa história meus amigos, que conto a vocês, não é uma história vitoriosa, não; é a história de um cowboy suicida. Que viu na sombra do gatilho de seu adversário a hostilidade de seu auto-sofrimento.
Ouvia os anjos cantarem, os querubins reverberarem e os diabos gritarem.
"Pai eu tenho medo!"
"Mão, vai doer muito?!"Lembrava daquela caminhada serena anterior ao duelo, que sua mente tinha esquecido, para protegê-lo ou para privá-lo da razoável felicidade. A mente humana é uma facista, ditadora de problemas. Cuspiu. Coloca um chapéu de couro à cabeça e ascende um palha e ao canto da boca diz arrastado:"O tempo resolve tudo" se enganava, pois já sabia, o tempo só acomoda seus problemas. E esse cowboy sabia, sabia que não havia resolvido nada do que seus problemas te oferecera. Era um fora da lei. Caçado aos quatro cantos do oeste pelo seu pecado humano. Sua doença infindável.
"Tá tudo bem sô!"
"Nada, foi nada uai!"
"Ixi esse trein não dói não!"O cowboy se torna um robô de lata, programado a viver, aos ferrugem, mas nada além disso. Se sonhar, há um pane e tudo volta a programação normal. Se apaixonar, há um choque no circuito e tudo reseta a programação normal. E se encontrar em momentos de eudaimonia, a bateria acaba e o cowboy de lata desliga.
Não me levante, já tenho raizes em minha cama. Não quero levantar. "ME DEIXA CAMARADA! ME DEIXA EM PAZ EM MINHA ALVORADA SEPULCRAL! NÃO POSSO MORRER! NÃO POSSO ROUBAR! NÃO POSSO AMAR! NÃO POSSO SORRIR E ATÉ MESMO CHORAR!" o que você quer de mim padecimento que ainda não se satisfez? Ó demônio sadico acabe com isso e me afaste de seu desejo pútrido.
O cowboy queria voltar a seus tempo dê mocidade, pois criança chora a qualquer momento, e ele tinha muita lágrima a derramar, só que não achava o momento certo para regar aquela terra árida rica em cactos.
Então o que restou pro fim da história? Desse duelo a morte?
A solidão."Penso logo existo"
O cowboy nega em muxoxo:
"Penso logo sofro"E dali não queria mais pensar, não queria mais cavalgar em fantasias, e se encontrava novamente em sua cama, furado a balas, atiradas pela sua própria mente.
Não havia sido diagnosticado como óbito. Mas o cowboy sabia, que ele já estava morto.
Sua família e conhecidos sorriam para um cadáver entre vivos, maquiado somente pela delicadeza de seu amor, e o tilintar de seu copo posto ao balcão de um boteco qualquer a esquina."Acho que eu cansei de falar camaradas, cansei de atoar, cansei de tudo! Isso é um tiro aos céus. Não quero ajuda e nem tô pedindo. Cansei tanto que já me tornei os meus problemas. Caço a recompensa de minha própria cabeça, prestes a me por a forca de minha execução. Viver pra mim é só mais um ócio do ofício. Tô exausto... e o que fiz pra merecer isso?! Bom, roubava as felicidades dos outros ao aponta adiante delas a arma da falsidade de meu sorriso." - cuspiu o fumo, na jarra ao lado da cama.
Vira-se e olha a cruz pendurada a parede, sobre ele Cristo se mantém inabalado.
"Sim senhor, eu sou uma boa pessoa. Admito, mas em que isso mudou em minha vida? A forma como os outros me veem ou um caminho que escolhi tomar por crença? Eu sei lá, tô cansado demais pra pensar."- voltou a contemplar a chuva que escondia o cemitério vizinho a sua casa.
"Quero voltar a ser humano. Quero sentir mesmo! VAI VAMOS LÁ! ME REMEXA! ME BALANÇE! ME ESPANQUE! VAMOS LÁ ME FAZ DANÇAR!" - com o chapéu a mão, fitou o vácuo e ali se encontrou no vazio.
"Pois eu cansei! Cansei cansei cansei, e nem de vírgula precisei pra dar um tempo!!!"
"O que faço? Por favor senhor, não aguento mais!!!"
O cowboy por fim deu uma suspirada carregada de mágoa, coloca seu chapéu na "pilastra jônica" da cabeceira de sua cama, e foi-se dormir. Esperar. Afinal não queria duelar novamente com a dona morte, saira igual cachorro manco da última vez, então, esperaria ali deitado, para se entregar a um caçador de recompensas, que tivesse caçando a sua lamentosa depressão.
[...]
![](https://img.wattpad.com/cover/367734962-288-k970359.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
A vaca de porcelana
Short StoryUma cabeça decepada cai aos pés de uma garota e diz: Atrabílis. Uma vaca contrai câncer de tanto ruminar seus sentimentos. Uma boneca que aprendeu a brincar... E muito outros. A vaca de porcelana é uma coletânea de textos surreais, prosas e contos s...