PARTE 10 - MIKASA

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Aquelas palavras ainda ecoavam na mente de Mikasa, ela sabia que as feridas de Eren eram profundas, mas não imaginada que fossem tão profundas, ela lembrava do episódio do massacre, toda a comunidade jurídica debateu a forma que Eldia agiu naquela tarde. As imagens foram divulgadas pela impressa, e foi um dos pontos que levaram ao final da guerra, tanto Marley quanto Eldia extrapolaram todos os limites dos direitos humanos.

"Eu deveria estar morto"

O tão protegida ela estava enquanto ele estava lutando? Ela seguiu a vida, se formou, estava trabalhando, ia se casar, ia reconstruir o que Marley tirou, mas seu amigo estava na linha de frente, vendo e cometendo todas as atrocidades e perdendo sua alma a cada dia que passava na linha de frente. Armin era doce porque não teve que vender sua alma ao diabo. Agora via que tanto o loiro como ela nunca poderão entender o que Eren passou de verdade, estava além deles. Agora ela sentia a necessidade de uma bebida.

Armin continuava com Hange, vendo como convencer Eren a continuar com a terapia, depois de tê-lo sedado. Ela nunca tinha visto uma crise de transtorno de estresse pós-traumático tão de perto, TSPT era comum em soldados, infelizmente, e muitas vezes não tratados, acabavam a margem da sociedade sem apoio, Eren tinha a ela e ao Armin, e aqueles que não tinham ninguém? Muitos voltaram de Marley sem nada além de um tapinha nas costas e um mero obrigado. Ela sabia que a escolha foi dele por seguir esse caminho, mas agora a pergunta ainda ecoa em sua mente "será que poderia ter sido diferente?". Ela precisava caminhar, respirar e acalmar sua mente, e assim voltar para junto dos amigos.

Andar pelo bairro era sempre uma mistura de dor e nostalgia, eles cresceram ali, era o mesmo lugar ao mesmo tempo que não era. Até seus dezesseis anos, tudo era residencial, poucas lojas e muitas pessoas aproveitando as ruas. Agora, as casas simples, na maioria dos espaços foram trocadas por pequenos prédios modernos, ainda existiam ruinas deixadas pelos dias mais sombrios, quando a guerra era uma constante no território da ilha, uma delas era a do supermercado no qual Carla morreu, os donos disseram que não iriam reconstruir pois precisavam que todos lembrassem que os efeitos da ganância era a destruição. E seus pés a guiaram para lá, ela nunca deixou de visitar o local e deixar flores, mas desde que decidiu seguir em frente e se casar com Marco, não vinha até as ruinas com tanta frequência, limitando ao dia da morte da mãe do amigo. Foi inconsciente que chegou até ali, mas ao mesmo tempo, sentia que era ali que precisava estar para encontrar suas respostas.

— Oi Carla. — Foi tudo que conseguiu dizer antes que as lágrimas voltassem. O que queria dizer, o que estava em seu coração, a verdade que precisava colocar pra fora parecia ter travado na sua garganta. — Eu... sinto tanto...

Sentia falta dela, era mais do que a mãe de um amigo, Carla era o sol que aquecia a todos, sempre disposta a aconselhar, a dar um colo, um abraço. Sentia por não ter conseguido ser o suficiente para fazer Eren ficar e agora ele estava quebrado. Sentia que não deveria se culpar e que deveria ser forte. Sentia tantas coisas, mas não conseguia verbalizar nada.

— O Armin disse que provavelmente estaria aqui.

— Annie.

— Sabe, eu acho que entendo seu amigo, mesmo que a gente não interaja tanto. — A loira olhava para as ruinas com desgosto. Era Marleyana e iria se casar com Eldiano, mesmo com todo ódio entre os dois povos, mesmo que o motivo que a levou a Paradis não fossem os mais nobres, ali ela encontrou um lar, que em Marley não tinha, não como encontrou em Armin. — Quando a gente esta quebrado não tem muito o que fazer, só estar ali.

— Como conseguiu Annie? Sair disso.

— Não consegui Mikasa, ainda tenho pesadelos com meu pai, a forma que me treinava para ser um guerreiro, um soldado perfeito, assim com o dia que quebrei sua perna. Dói, mas o Armin me mostrou que posso ser mais do que isso e bem, o resto já sabe.

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