Coisas que o Amor faz

CAPÍTULO 01

Aɴʏ G.

Trinta e nove graus de febre, fora os vômitos e a moleza no corpo. Uma virose não deveria ser uma coisa de outro mundo para mim, não é a primeira nem vai ser a última virose do Brian. Mas isso tudo vira uma coisa de outro mundo quando justamente hoje faz três anos que o meu esposo, pai do Brian, morreu.

Eu geralmente o deixo na casa da minha mãe nessa data, não gosto de chorar sem parar na frente dele. Poderia deixar com o padrinho dele, que é o outro tutor legal do Brian, mas ele também perdeu o melhor amigo de infância, ou seja, meu esposo.

Éramos um trio na universidade, depois o mesmo trio na pós-graduação e o mesmo trio na nossa empresa. Isso mesmo, nossa. Eu conheci o Noah Urrea no primeiro período do curso e foi impossível não se apaixonar por ele, começamos a namorar e no período seguinte noivamos.

O seu amigo de infância Joshua Beauchamp se tornou o meu amigo, já que eles viviam juntos e estudávamos na mesma turma. Logo me casei e, quando concluímos o curso, fundamos nossa própria empresa de arquitetura. É uma das menos aqui em Atlanta, mas é uma das que mais faz sucesso.

Atualmente, Joshua é o presidente e eu fiquei como vice-presidente. Ocupo esse cargo desde a morte do Noah. Brian tinha apenas um ano e quatro meses quando ele se foi. Como nós três éramos inseparáveis, o Noah sempre dizia ao Joshua que, se algo acontecesse, ele teria que cuidar de mim e do afilhado.

Nós dois apenas sorriamos dessa ideia dele, mas mesmo assim o Josh garantia que cuidaria de mim e do Brian. Eu jamais imaginaria que ele fosse tão cedo. E o Joshua está cumprindo com sua palavra, ele é como um pai para o Brian e nossa amizade ficou ainda mais forte. É justamente para ele que estou ligando agora, mas o mesmo não atende. Então mando uma mensagem.

Jᴏsʜ B.

Abro a porta da casa da Any com uma certa pressa e sigo procurando por cada canto da casa, até que finalmente os encontrei. Any estava abraçando Brian, que estava quietinho em seu colo. Os dois estavam no quarto de brincar do Brian. Any percebe minha presença e sorri aliviada, eu sempre achei o sorriso dela a coisa mais perfeita da face da terra. Até mesmo quando sorri desse jeito, um pouco triste, mas ainda prefiro seu sorriso genuíno.

— Eu te liguei, respondi sua mensagem. — Digo baixinho quando percebo que o Brian está dormindo.

— Me desculpa, o celular ficou no meu quarto, ele só se acalmou aqui. — Ela prende o choro, mas duas lágrimas em sua bochecha. — Ele não parava de vomitar, eu até pegaria o carro, mas você sabe que...

Depois do acidente de carro que matou o Noah, a Any desenvolveu um trauma e parou de dirigir. Ela não consegue nem se quer tirar seu carro da garagem.

— Hey, está tudo bem! — puxo seu corpo e consequentemente o Brian vem junto. — Eu levo vocês até um pronto-socorro, eu só vou sair de perto se tiver necessidade — ela me encara com os olhos repletos de lágrimas e isso quebra meu coração.— Vai ficar tudo bem, Any.

— Eu não costumo ficar assim, eu consigo manter a calma quando o Brian fica doente, mas logo hoje.

— Eu sei, eu sei... — afago seus cabelos e beijo em seguida. — Quer que eu fique com ele enquanto você arruma as coisas para sairmos?

— Por favor. —Pego o Brian no colo e, como imaginei, ele chora, mas está mais para um choramingo.

— Ei, carinha, é o seu padrinho. — Ele me olha e depois se aconchega em meus braços.

— Vamos, eu estava com grande parte das coisas arrumadas.

Ela segura sua bolsa e uma bolsa do super-homem, que obviamente é do Brian. Sigo-a até a sala de estar, indo ela pega suas chaves e saímos da casa. Eu atravesso a rua indo até o meu carro e a Any me segue. Como já tem a cadeirinha do Brian no meu carro, não tive dificuldade em deixá-lo confortável no banco de trás.

Assim que eu fecho a porta do carro e me viro para ir até o lado do banco do motorista, Any me surpreende se jogando em meus braços, ela me abraça apertado e meu coração parece que vai sair pela boca.

— Obrigada por vir.

— Eu vou sempre estraçalho por vocês.

*Foto tirada uma noite antes do acidente.