— Gente, que burra. — Ana comentou do outro lado da tela em chamada de vídeo com a amiga enquanto ela organizava os pratos e talheres em seus lugares e Adele levava mais uma colher de sopa para a boca de Bia, essa que não entendia nada de italiano para saber do que se tratava aquele assunto.
Mal sabia ela que estavam falando da sua mãe, no quanto Adele estava brava com ela e consigo mesma.
— Não é?
— Não Adele, estou falando de você! — Ana rebateu rapidamente e tirou o avental. — Você transou com a prima dela e depois quis impor limite entre vocês duas mesmo que não seja o que você quer.
— Fiquei com a prima dela justamente porque ela iria ficar com duas mulheres antes! Se ela não tivesse trazido elas para cá, eu nem saberia que ela ficou com outras e não teria ido pra cama com a prima.
Mesmo com raiva, Adele e Ana se esforçaram muito para não falar o nome de Camila e nem de Renata pois Bia poderia contar para elas.
— Adele, não se justifica um erro com outro.
— Então, se ela tivesse ido para a cama com as duas mulheres eu teria que ter perdoado? — indagou para a chefe de cozinha. — Olha, Ana, se eu quisesse ser julgada pelos meus erros eu teria ligado para a Carina.
Nesse momento, Ana revirou os olhos.
— A Carina teria tanto te julgado quanto te humilhado.
Aquilo era verdade, por isso Adele havia decido ligar para Ana, mas ela não estava agindo como ela esperava que agiria.
— A verdade — retomou sua amiga. —, é que qualquer pessoa com um cérebro consegue entender quem é que está errada na história...
— Ela.
— Você! — fala ao mesmo tempo. — Adele, como ela pode ser a errada na história se ela deixou as coisas claras para você que não poderia te amar?
— Exatamente! Como eu posso ser a errada se agi como ela agiu? Por que o erro só cai sobre mim? — perguntou com tanta indignação que acabou soltando a colher na sopa e em seguida respingou em Bia.
Ao olhar para a menininha, percebeu que ela havia pegado no sono entre uma colherada e outra de sopa.
— Adele, o erro que você cometeu foi ter transado com a prima dela só para se sentir vingada, entende? Não teria sido errado se fosse por vontade e desejo próprio, mas você agiu como adolescente que fica com raiva e tenta dar o troco. — faz uma pequena pausa antes de continuar: — Se você não gostou de ver ela com outras mulheres, deveria ter falado para vocês entrarem em um acordo, e não agir por impulsivo como você fez... entende?
Mesmo absorvendo aquelas palavras, Adele não conseguiu não se colocar como errada na história e vê Camila como a "inocente". E mesmo que quisesse acreditar que poderia se envolver com ela sem se apaixonar, sabia que aquilo não seria tão fácil.
Camila não era a pessoa mais amorosa do mundo, mas tratava a própria filha como seu mundo mais valioso. E ver uma mulher alta, independente, provocante e dona dos mais profundos olhos castanhos que seus olhos verdes já avistaram, sendo atenciosamente apaixonada pela filha, era um mero convite para a perdição.
Mas Adele havia prometido que não se perderia.
— Bia! — vindo do térreo, Adele escutou uma voz que não era nem de Renata e nem de Camila.
Ela fechou os olhos por alguns segundos e suspirou.
— Quem é? — Ana quis saber, no entanto, a resposta não tirou sua dúvida:
— Espero que qualquer pessoa, menos quem eu esteja suspeitando.
— Melhor você ir então, porque, seja lá quem for, parece que está querendo derrubar uma porta. Só espero que não seja na sua cabeça.
Adele revirou os olhos e se despediu de Ana, a informando que estaria de volta em uma semana e que não queria encontrar nenhuma mulher desconhecida pelada em seu apartamento.
Fechou o notebook no exato momento que Paloma adentrou o cômodo com tudo. Seus olhos se encontraram pela primeira vez.
Paloma era brasileira, tinha apenas alguns centímetros a menos que Camila, mas com certeza era maior que Adele. Seus olhos eram castanhos claro, seus cabelos eram pintados de loiro e apesar de ter expressões de quem procura um defeito ou ponto fraco para esfregar na sua cara, ela vivia com um sorriso no rosto.
— Eu vim levar minha filha. — disse a brasileira que esperou alguns segundos para que Adele reagisse, mas ela não moveu um músculo. — Você é surda? Eu vim buscar minha filha.
— Não falo português. — Adele a informou devagarinho para que ela pudesse entender as três palavras que Camila havia a ensinado.
Paloma revirou os olhos.
— Como Camila teve a burrice de contratar uma secretária que não fosse poliglota? — bufou para si mesma enquanto procurava o seu celular na bolsa. Assim que achou, repetiu: — Eu vim buscar minha filha.
Do alto-falante, as palavras saíram em italiano.
— Nenhuma Macedo me deu autorização para Bia ser levada.
— Não precisa de autorização, eu sou a mãe dela e estou dizendo que irei levá-la daqui agora. — tentou passar por Adele que, mesmo tempo dez centímetros a menos que ela, se pós em sua frente. — Saia da minha frente, ande.
— A menina só sai daqui com Camila. — deixou aquilo tão claro que Paloma cogitou dar um passo para trás.
Mas não deu.
— É o que vamos ver. — e sem nem dar tempo do google traduzir o que foi dito, Paloma avançou sobre Adele com toda a sua força e com toda a ira que guardou pelos meses que seus cartões de débito estiveram sem saldo.
O peso do corpo da brasileira caiu sobre Adele no sofá com tanta força que ela soltou um grunhido quando o cotovelo da outra atingiu seu osso pélvico.
A dor irradiou por todo seu corpo.
Enquanto agarrava os cabelos dela e tentava puxar seu joelho para cima para atingir a barriga, Paloma conseguiu ser mais rápida e cravou suas unhas no pescoço de Adele, fazendo uma onda de dor percorrer seu corpo com tanta rapidez que ela acabou soltando os cabelos e então, no segundo seguinte, foi atingida com algo metálico em sua têmpora.
Depois disso, tudo que aconteceu foram breves lapsos de momentos.
Paloma pegando Bia nos braços, ainda sonolenta.
Paloma lhe direcionando um último olhar.
Camila chamando seu nome.
Renata segurando sua cabeça com cuidado.
Camila dizendo "reze para que eu não a ache".
E por último: o som dos saltos a levando para longe.
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Minha Chefe (Extra)ordinária
RomanceAdele sempre achou sua chefe, Camila, uma cafajeste sarcástica e desmemoriada. Uma completa ordinária. Até que, de um dia para o outro, Camila ordena que ela venha para o Brasil com ela para que possam expandir a marca de sua empresa em seu país na...