505

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19 de julho de 1955. 
       23:45 PM

     Já completava um mês que Louis desapareceu da vista de Emy, nem mesmo sonhava com este. Sequer havia ocorrido encontros indesejados e perturbadores, já não se sentia tonta e sem forças.
    Neste momento, a mulher se encontrava na cabine fazendo seu serviço como todos os dias. Desta vez algo estava diferente, o comportamento de Francis. Estava distante, já não dormiam juntos, mal trocavam palavras ou se encontravam. Novamente ele voltava de seu serviço, seus olhos cansados como sempre e os ombros tensos, passou como a corrente mais ligeira de vento.
         — Francis! – gritou Emy, se inclinando sob a mesa tentando olhá-lo pelo vidro. O rapaz estava parado ainda de costas como se esperasse que ela lhe chamasse para novamente se aproximar. — Preciso da sua identificação..
       Por sua vez, Francis bufou e se aproximou da cabine. Seus olhos desceram por ela vagando toda a extensão do belo rosto dela. — Você está desconfiando de mim ou..? – indagou, seu tom de voz ríspido e frio. — Você sabe que isso é o meu trabalho, só hoje já foram dezenas de ligações para limpeza de doppelgangers.
          — Eu não sou um doppelganger, Emy
          — Por favor, apenas me ajude para acabarmos com isso de uma vez – insistiu ela, sentindo o próprio corpo ficar tenso. Emy não gostava nem um pouco da forma que estavam durante esses dias, por que?
     Francis apenas puxou a identidade do bolso e a jogou sob o mármore frio para que ela analisasse. Sequer tocou em seus dedos. Com atenção ela observou a numeração e os códigos, sua respiração mal saia de seus pulmões nem fazia barulho.
             — Obrigada, pode ir
   Ele sequer havia dito algo, apenas pegou sua identificação e saiu andando. Aquilo a incomodava demais, não sabia se havia feito algo de errado ou se Francis apenas estava tendo um dia mal.. ou todos. A mulher se esticou sob a cadeira, inspirando com força o vento gelado quando um morador apareceu. Roman Stilnsky, sua feição demonstrava incômodo com alguma situação mas logo abriu um pequeno sorriso ao perceber os olhos de Emy vidrados nele.
          — Boa noite senhorita Emy, como vai?
           — Vou bem! E o senhor? Parece incomodado
          — Ah, mais ou menos... faz alguns dias.. acho que um mês que o terceiro andar tem ficado com um cheiro desagradável, algo podre
         — Oque? Como assim podre? Toda semana temos limpeza dos corredores e a coleta de lixos
         — Eu não sei, mas se a senhora quiser ir.. posso levá-la, aparentemente vem do 505
    
       505? O apartamento de Francis? Era impossível ser o apartamento dele, odiava qualquer cheiro desagradável, sempre mantinha a higiene do ambiente.

           — Tudo bem, podemos ir – respondeu já se levantando da cadeira e trancando sua cabine. A essa altura, Emy já estava tensa o suficiente para prender sua respiração por alguns segundos e se lembrar de respirar.
     Suas mãos já suavam frio e estavam trêmulas. Assim que o elevador abriu, acompanhou Roman logo atrás dele, insegura e tensa com oque poderia acontecer.
            — Está sentindo? Quando nos aproximamos do final do corredor, o cheiro se torna ainda mais insuportável principalmente perto da porta do vizinho 505, quem é ele?
     Emy ficou estática, seus olhos vidrados na porta dele, seu estômago já estava embrulhado daquele cheiro horroroso que tomava suas narinas. Podre. Não parecia o cheiro de algum rato morto, era pior, nunca havia sentido algo assim.
         — Francis Mosses mora aqui..
         — Francis? Aquele leiteiro? Ele é um pouco estranho mesmo
     A mulher por sua vez, ainda insegura, bateu três vezes na porta esperando para ser atendida. Queria colocar Roman em sua frente mas seria ridículo. Novamente ela bateu e ouviu passos até ela, certamente estava os encarando pelo olho da porta. Em seguida ouviu as trancas sendo destrancadas uma a uma, desde quando ele tinha tudo isso de trancas? Se fez presente então o físico de Francis.
      Seu olhar sério e cansado, carregava consigo um ar de desprezo e irritação. Pouco se importando em atendê-los sem camisa, Emy tremeu, nunca foi olhada com tanto desprezo como estava, mas seus olhos percorreram por toda a extensão do peitoral exposto.
           — Oque desejam? – perguntou, cortando o raciocínio dela.
            —  E-eu, ah.. viemos averiguar o mal cheiro.. O senhor Roman acredita que vem do seu apartamento.. – de forma nervosa ela respondeu. — Podemos ver? – disparou Roman.
     
      Filho da puta! Não! Não! Não!
    
          — Oque? Não acham que é o lixo? – perguntou Francis, baixo e impaciente.
          — Não, ele vem de seu apartamento!
          — Senhor Roman.. vamos embora, pode ser o lixo realmente... – pediu Emy.
          — Bom, podem ver.. faço questão, mas aviso que provavelmente pode ser algumas carnes que ganhei... estragaram pela falta de consumo – avisou ele.
       
      Roman simplesmente concordou entrando no apartamento de Francis pouco se intimidando com ele. Emy por sua vez, pediu licença e passou por ele medrosa.
     O ambiente era completamente contrário do que ela costumava lembrar, era pouco iluminado, bagunçado, bebidas espalhadas pelos cantos, roupas jogadas pelo sofá, louças espalhadas e... uma calcinha?
Mas que porra?

     O sangue de Emy ferveu naquela hora, seu estômago que já estava se revirando quase a fez vomitar ali mesmo mas se manteve firme. O cheiro era péssimo e se perguntava como ele vivia ali, daquela forma, definitivamente não era Francis... não mais oque ela conhecia.
        — Oque tem naquele tanque? – Roman perguntou.
        — Roupas sujas, peguei do trabalho pra usá-lo como cesto

     Não fazia sentido algum ele ter um tanque na sala, ainda mais como cesto de roupas sujas. Emy notou a pia, tantas louças sujas e.. uma faca repleta de sangue, ali a mulher fraquejou e engoliu em seco. Ela entao se aproximou de Roman assustada com a forma de como Francis olhava para o senhor como se quisesse matá-lo assim que pudesse. Sua feição não demonstrava muitas emoções mas a forma de como seus olhos fitavam aquele senhor, era assustadora.
          — S-senhor Roman.. vamos embora, provavelmente são as carnes... Francis, por favor limpe o mais rápido possível antes que mais moradores reclamem..
          — Trate de jogá-las fora rapaz, está empestiando meu apartamento
          — Eu irei, não se preocupe, estão satisfeitos?
          — Estarei quando jogá-las fora e meu apartamento não feder mais, passar bem, vamos senhorita Emy. – Rebateu Roman.
 
       Roman com respeito entrelaçou seu braço ao de Emy, e se retirou dali sem sequer olhar na cara de Francis. Ele por sua vez, trancou a porta assim que saíram.
         — Obrigada senhorita Emy, espero que ele faça oque tem que ser feito.. tenha uma boa noite minha jovem
         —  Não há de que.. Boa noite senhor Roman...
   
      Emy por sua vez, desceu pelo elevador de serviço. Estava enjoada, assustada e trêmula. Oque diabos estava acontecendo com Francis, aquele ambiente a deixava completamente enjoada, queria vomitar de qualquer maneira. Retornando a cabine, ela se sentou e suspirou fundo suando frio e observou a entrada vazia do prédio enquanto discava no telefone por James.
           — James.. por favor, você pode vir aqui? – perguntou ela, trêmula e fraca.
          — Aaaaah Emyy.. você sabe que horas são? Poxa eu estava dormindo tão bem... – resmungou James do outro lado da linha.
          — James.. e-eu não estou bem, por favor colabore!
          — Tudo bem querida, já estarei aí tá? Paciência...

       Emy apenas bufou e deitou a cabeça sob a mesa respirando devagarinho para que não vomitasse. Vazia tempo que não sentia esse mal estar, já que a fonte dele era ninguém mais do que Louis mas certamente ele já era passado. Pelo menos por enquanto.
         — Tudo bem 'senhorita' Emy? – a voz cínica ecoou para dentro da cabine e a mulher não respondeu, apenas levantou a cabeça lentamente para olhá-lo.
          — Vá embora..
          — Quanta falta de educação, estou aqui preocupado com você.. querida
          — Você só me atormenta, Louis, não venha com essa de se preocupar
          — Oh, jamais... é você quem se atormenta, eu apenas fico ao seu lado
          —  Sugando minhas energias e me deixando perturbada?! Você só acaba comigo
          — Não só com você – e uma risada sombria ecoou dos lábios dele. O coração de Emy disparou, oque ele queria dizer com aquilo? Ele estava ameaçando alguém? Apenas debochando ou significa mais alguma coisa? Ele seria o motivo de Francis estar dessa forma?
          — Você me assusta
          — Jamais faria isso com você, Emy
          — Me responda uma coisa, Louis – ela hesitou por um momento mas logo perguntou — Por que você é tão parecido com Francis? Por que me persegue e por que me faz tão mal?!
         — Uma coisa de cada vez senhorita Emy – ele riu com escárnio — Há coisas que você não precisa saber e eu nem faria questão de contá-la
         — Babaca... – ela resmungou com dor. — Vá embora Louis, vá embora!

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   Oi gente, tudo bem? Demorei pra atualizar pela rotina completamente corrida e porque também estava em semana de provas. Desenhei a cena onde Francis abre a porta atendendo a Emy e o Stilnsky.

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𝑀𝑖𝑙𝑘𝑚𝑎𝑛, 𝑚𝑦 ℎ𝑜𝑛𝑒𝑦.Onde histórias criam vida. Descubra agora