Amor divino

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Lady_Stygian

Música: Sappho - delian

Eu definitivamente odiava esses bailes. Qual o motivo de nós mulheres sermos obrigadas a casar e termos um relacionamento sem amor algum?! Para mim isso é loucura, o resto era até que bom, usar belos vestidos, dançar, a música, comer e beber, mas seria melhor se ninguém fosse falso e pudesse soltar o cabelo.

Estava em um canto da do salão, tinha alguns quadros de moças em volta, elas eram tão bonitas. Havia desistido de dançar com os rapazes, meu cartão de dança estava quase cheio também, eles me tratavam como objeto e não como a mulher inteligente e linda que sou.

Em minha direção vinha uma senhora, a Lady Wright, ela batia aquela sua bengala com toda força que eu tinha certeza que dava para ouvir de toda Londres.

⁃ Senhorita Grace Evans, o que uma moça tão... bela faz nesse canto, deveria dançar com os rapazes - Ela falava com desdém e deboche, eu não aguento aquela velha amarga
⁃ Meu cartão de dança está cheio - Menti na cara dura
⁃ Mentir é feio sabia? Dançou apenas três vezes esta noite - Essa velha leu minha mente, não tem outra debutante para ela atormentar não?
⁃ É uma pena você não ter sido que nem a sua mãe, rodeada de rapazes o tempo todo, varias propostas de casamento - Ela não tem esse direito de me comparar a minha mãe - Uma pena que no fim ela casou-se com seu pai, um homem sem título nenhum. Morreu antes mesmo de dar um herdeiro homem, uma pena mesmo

Ela não tinha esse direito de menosprezar da minha família, ela não tem ideia o quão é difícil eu ter que ter o melhor casamento de toda alta sociedade por eu não ter nenhum irmão, minha mãe ter morrido e meu pai ser um homem sem títulos

Saio choramingando até para a saída do salão e vou até os jardins, solto meu cabelo que fazia minha cabeça doer de tão apertado e me sento em um banco com as lágrimas escorrendo pelo rosto

⁃ Quem te fez chorar desse jeito? - Era voz potente e doce me perguntando

Olho par frente e vejo uma mulher alta com tranças presas em uma espécie de coque, seus lábios carnudos e charmosos formavam o sorriso mais perfeito, seus olhos eram hipnotizantes, sua pele escura ficava linda sob a luz da lua e estrelas. Ela era pura beleza, sentia minha bochechas arderem, meu coração estava acelerado, e meu estômago parecia que havia borboleta nele.

Ela era Afrodite com certeza, só a presença divina para me deixar desse jeito. Mesmo adorando estudar os mitos greco-romanos, palavras não são suficientes para descrever uma deusa.

⁃ Eu sou uma garota cheia de medos e receios, me pergunto por onde esteve todos esses anos? - Questionei-a, minha voz saia um pouco tremula

⁃ Não se preocupe com isso, estou aqui agora. Me mudei para Mayfair está semana - Ela não era de nenhuma mitologia então, era uma mortal como eu. Eu gostava dessa garota.

Pelo resto da alta temporada passamos cada momento que tivemos juntas, ela era meu passatempo favorito, me fazia feliz mais do que poderia imaginar.

Um dia ela veio dormir na minha casa já que nossos pais tiveram que sair da cidade e acharam melhor ficarmos juntas e cuidarmos uma da outra.

Eu não conseguia dormir e nem parar de sorrir, ela era meu tudo e eu queria que nunca nos separássemos. Escuto uma batida da minha porta. Quando abro vejo minha doce Rose

⁃ Posso ficar aqui essa noite? - Ela dizia isso de uma forma encantadora
⁃ Claro, mas vamos tomar cuidado para ninguém descobrir isso - Falo enquanto deixo ela entrar e fecho a porta

A cada vez que a olho fica mais bonita, eu quero que ela fique comigo, quero senti-la cada vez mais perto. E acho que ela deseja isso também.

E de repente ela fez algo que me deixou mais do que feliz, ela se aproximou colocando uma de suas mãos em minha cintura e a outra em minha nuca. Nossa respiração ficou ardente e nossos lábios se encostaram. Um beijo cheio de amor. Seus lábios eram macios e tinham um gosto agridoce, ela me guiava durante o beijo. Coloquei uma de minhas mãos em seu ombro e a outra em seu rosto.

Com isso nos despimos e nós duas tocamos uma a outra de formas tão diferentes do que como amigas deveríamos tocar. Eu queria sentir mais a pele dela sobre a minha, queria fazer tudo que a Igreja diria que era pecado, nojento e impuro. Naquele momento ela tinha feito do meu quarto um lugar sagrado.

Se o deus Eros visse o que fizemos ele ficaria orgulhoso e impressionado.

Havia adormecido durante a noite, quando acordei [...] havia ido embora. Porém tinha uma carta em seu lado da cama.

A carta dizia o seguinte: "Minha doce Grace, terei que ir embora nesta manhã. Meus pais me arranjaram um casamento com um homem do interior, não contei-lhe antes para não machuca-la. Amei e amo você mais do que qualquer outra coisa ou pessoa.
Eu lhe desejo que encontre o amor em alguém que pode estar com você pelo resto de sua vida, adeus minha querida
⁃ Com amor, Rose"

Eu precisava me despedir dela.

Saí correndo de casa de camisola mesmo, sua casa era no final da rua. Talvez eu conseguisse chegar a tempo.

Nunca corri tanto na minha vida, estava cansada e ofegante. Mais perto da casa vi uma carruagem e da janela eu vi minha amada, minha Afrodite. A carruagem começou a andar, eu estava desesperada.

Ela me viu pela janela sua feição era de tristeza, mas ela deu um pequeno sorriso e um beijo. A carruagem ia cada vez mais rápido, não ia conseguir alcança-la. Então as lágrimas surgiram e escorriam pelo meu rosto, minha visão ficou embasada e por isso cai no chão.

Era irônico e trágica minha situação, a primeira vez que nos vimos eu estava chorando e agora... chorava por te-la visto uma ultima vez.

(Esse texto foi revisado e está entre os classificados. )

Amor Impossível - Concurso Literário Onde histórias criam vida. Descubra agora