• São Paulo - Brasil
O bip do aparelho multiparamétrico mantinha-se sendo o único som presente no quarto silencioso e bem iluminado. O rapaz de cabelos castanho-avermelhados e pele pálida mantinha-se em um sono profundo, ocasionado pela recente anestesia pré cirúrgica. Uma mulher mais velha, com traços bem parecidos aos do meu paciente acamado, segurava sua mão e distribuía um carinho delicado naquele local.
— Senhora Alencar, pelo o que examinei, o seu filho está respondendo muito bem à medicação pós cirúrgica e, até o momento, não apresentou nenhum sinal alarmante a respeito do procedimento. - falo em um tom de voz calmo e seguro. Lidar com mães era sempre mais delicado. — Victor deve ser direcionado à UTI, onde passará as próximas 48h em total observação, mas não se preocupe - digo ao ver a mulher mais velha arregalar os olhos — é um procedimento padrão em cirurgias cardíacas e, de modo algum, significa que seu filho corre algum risco grave. Precisamos apenas ficar de olho em sua resposta corpórea.
A senhora de rosto recoberto de pequenos detalhes que provam seus consideráveis anos de experiência parece ter se livrado da tensão antes surgida. Seu ponto de pulso carotídeo era perceptível abaixo do delicado colar dourado em seu pescoço. A frequência de pulsação naquela área parecia diminuir cada vez mais.
Ela, de fato, está mais calma.
— Quando poderei levá-lo para casa, doutora? - pergunta em um tom de voz doce e aconchegante.
— Caso não haja nenhum imprevisto, o que acredito que será a realidade aqui, Victor pode retornar ao lar em 4 dias. Precisarei que alguém se responsabilize em acompanhá-lo assim que for liberado da UTI. Ele será direcionado até um quarto, podendo ser particular ou comunitário, fica a seu critério. Lá, continuará sendo observado, mas precisa de auxílio constante.
— Tudo bem, doutora. Eu mesma virei ficar com ele. Acho que jamais conseguirei sair do seu lado depois desse susto tão grande. - a mulher respondeu com um tom embargado se apossando de sua voz.
— Senhora Alencar - digo enquanto me aproximo da mesma até segurar em sua mão livre — Como eu disse anteriormente, não foi sua culpa. O seu filho nunca apresentou nenhum sintoma alarmante que indicasse alguma cardiopatia congênita. O problema dele manteve-se silencioso por todo esse tempo. Mas, descobrimos a tempo e ele poderá ter uma vida normal e bastante longa, assim como previsto.
A mulher de olhos claros assente com a cabeça, enquanto enxuga algumas lágrimas que teimavam em cair.
— Muito obrigada, Dra Castellani. Eu não sei o que teria acontecido se não estivesse aqui.
— Teriam recebido um atendimento tão bom quanto, garanto. Vieram ao lugar certo. - finalizo com um sorriso.
Quando estava prestes a me despedir da mãe do meu paciente, ouço uma movimentação na porta atrás de mim. Ao virar em busca do barulho de batida, vejo Clarissa em seu habitual uniforme amarelo pastel, sinalizando o seu posto de interna de medicina.
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Yatra - Um Amor Inesperado
RomanceEm busca de melhorias no precário sistema de saúde do seu país, Helena Castellani, uma renomada cirurgiã cardiovascular hispano-brasileira, abandona o seu cargo como chefe do setor de cirurgia no Brasil e se dirige à India quando um complexo hospita...