Capítulo 4 - O Que Foi Isso?

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N/A: *Betí - filha
*Baldi - pai

Minha garganta parecia se negar a ingerir o alimento em minha boca. A tensão presente em meu corpo tornava impossível agir como naturalmente eu faria.

Por que ela me olha tanto?

Sempre me achei alguém bastante desinibido em qualquer situação que estivesse. Falar em público, conhecer novas pessoas ou, até mesmo, dissolver situações de extremo conflito não costumam ser ações tão árduas para mim. Mas, ali, com a misteriosa mulher dos olhos âmbar, todas as habilidades que eram um orgulho pessoal, tornaram-se totalmente inativadas.  

O seu olhar analítico aparentava desvendar todos pensamentos em minha cabeça, nas poucas vezes que me atrevi a devolver a análise, vi um brilho diferente naquelas orbes.

O que se passa na cabeça dela?

Continuo encarando o prato de porcelana em minha frente, tentando jantar normalmente como as outras pessoas ali sentadas. O frango tikka masala, banhado em molho picante, estava extremamente delicioso. Os legumes bem temperados ao redor pareciam derreter em minha boca. Por isso, esforcei-me para degustar corretamente aquela refeição tão bem preparada.

Olhei ao redor e vi todos bastante concentrados em seus respectivos pratos também. Ninguém parecia ter desgostado da comida típica do país.

Ainda varrendo o local com os olhos, acabo cometendo o erro de trazê-la à vista novamente.
Dessa vez, seus olhos não estavam em mim, mas, sim, em sua refeição, então, foi impossível não me permitir encarar seus lábios volumosos enquanto moviam-se em mastigação.

Pare com isso!

Quando retorno a autoconsciência, balanço levemente a cabeça para dispensar os pensamentos indevidos, o que parece chamar atenção da mulher em minha frente mais uma vez. Aqueles olhos atrevidos estreitam-se gradualmente, acompanhados de um leve sorriso de lado.

De repente, o tempero do prato típico parece forte demais. Enjoativo demais. Sinto meu estômago tensionar e uma quantidade desconfortável de saliva acumular-se em minha boca. Inspiro o máximo de ar que consigo, tentando dispersar a sensação de náusea, porém o cheiro ao redor piora drasticamente a situação.

Não dá para continuar aqui.

Observo todo o espaço aberto em busca de algum sinal de banheiro, mas não encontro nenhum aparente.

Parecendo perceber meu desconforto, uma das razões dele, talvez a principal delas, pergunta em um tom baixo:

— Está tudo bem, senhorita?

Sua voz continua com o mesmo toque aveludado de que me lembro, agora, mais compreensível e, claro, atraente.

Tudo nela parecia ser.

— Sim, apenas um pouco enjoada. Acredito que sejam os temperos exóticos. - digo, tentando transparecer calma e veracidade.

Minha fala parece chamar a atenção do anfitrião ao nosso lado.

— Deve ser difícil para um paladar desacostumado. Betí, mostre-a onde fica o banheiro mais próximo, por favor. - fala a última frase para a mulher em minha frente.

— Claro, Baldi. - responde prontamente.

— Não é necessário, pode continuar a sua refeiç-

— Eu insisto. Não quero ninguém sentindo-se mal em minha casa. Minha filha a guiará.

Filha?

Yatra - Um Amor Inesperado Onde histórias criam vida. Descubra agora