Capítulo 2 - Quem é Ela?

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Aeroporto de Guarulhos - São Paulo

— Você lembrou de colocar roupas mais grossas na mala? - ouço minha mãe fazer o que deve ser a vigésima pergunta, desde que me encontrou no aeroporto.

— Helô, deixe a menina. - meu pai reclama em suspiro cansado.

Ele também foi obrigado a ouvir cada questionamento e indagação da mulher mais velha.

— Sim, mãe. Garanto que tenho tudo o que preciso nessas malas. - falo apontando para as mesmas em minha frente.

Meus pais fizeram questão de me acompanhar até o meu último minuto em solo nacional. Minha mãe, como sempre bastante preocupada, não parecia entender que os meus mais de 30 anos eram o suficiente para obter responsabilidade sobre minhas próprias necessidades. Desde que chegou, ela já havia feito um completo interrogatório sobre cada objeto que achava necessário ser levado - alguns nem tão necessários assim.

Eu sabia que toda essa agitação era apenas insegurança a respeito do que me espera no país asiático. Um universo de cenários devem estar passado por sua cabeça e, provavelmente, os piores possíveis.

— Sei que estou sendo irritante, mas não quero que lhe falte nada lá. - diz em um suspiro cansado.

— Eu sei, Dona Heloísa. Não está me irritando, não se preocupe. E, caso falte algo, posso muito bem comprar, não acha?

— Ok ok, irei parar. - responde erguendo as mãos.

— Helena, nosso voo recebeu a primeira chamada. Acho que é melhor irmos nos adiantando. - ouço Cíntia falar ao se aproximar.

— Tudo bem. - respondo, virando em direção aos meus pais. — Acho que chegou a hora, pessoal.

Enxugo as mãos na calça de corte reto e tecido alfaiataria, enquanto me aproximo dos dois, parados em minha frente.

— Boa viagem, minha filha. Nos ligue assim que pousar, ok? - meu pai fala antes de me abraçar forte.

— Obrigada, pai. Não se preocupe, pois, assim que houver área de cobertura, ligarei imediatamente. - digo em um tom tranquilizador.

— Nada de se meter em aventuras perigosas, Helena. Não quero você explorando nada que lhe ponha em risco, me ouviu? Se eu sonhar que você fez alguma besteira, eu juro que te arrasto desse país pela orelha. - Dona Heloísa ameaça com o dedo bem próximo ao meu rosto.

Solto uma risada alta, enquanto a puxo para um forte abraço. Sinto ela retribuindo o ato ao acariciar minha costas.

— Não precisa se preocupar tanto, mamãe. Eu já prometi várias vezes que não farei nada arriscado. Será uma viagem tranquila, sem surpresas. Quando perceber, já estarei de volta da mesma forma que fui, ok?

— Tudo bem. É melhor você ir antes que eu te prenda aqui de vez.

Percebo o tom embargado em sua voz e me afasto de seus braços para conferir sua expressão. Seus olhos castanhos, como os meus, estão vermelhos e úmidos. É mais um sinal do quanto essa viagem está sendo difícil para ela - alguém tão protetor.

— Eu sentirei muita saudade da senhora, mas juro que ligarei sempre. Manterei vocês dois informados de tudo, ok?

Observo os meus pais assentindo antes do homem mais velho continuar.

— Hora do abraço coletivo. - fala puxando eu e minha mãe para dentro de seus braços.

— Eu amo vocês.

— E nós te amamos, Lele.

— Ok, hora de ir. - me afasto deles e pego minhas malas. — Até mais!

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