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Em flagelos, a editora adentra na escuridão da sua mansão. Ela não acende as luzes, ela caminha direto para as escadas. Com sua mente conflituosa ela faz o percurso até quarto no automático. Ela apenas liga o abajur, é como se ela não quisesse que o céu visse o que ela fez. Já que luz tende a deixar claro o que a escuridão oculta.

Miranda lentamente tira o batom de embalagem preta brilhante com detalhes dourados do seu bolso, ela roda ele na mão olhando atentamente para aquele pequeno objeto. Ela balança a cabeça em negação, ela tem tantos desse que muitas vezes ela dar para suas funcionarias e agora se pegou roubando dela. "Por que eu fiz isso?" Questiona a editora sentindo seu coração apertar gradativamente, "Eu não preciso disso." Ela segue com seus conflitos tentando entender o que aconteceu consigo "Eu tenho dinheiro para comprar todos os batons do mundo." Seus olhos enchem-se de lágrimas. "Mas, parecia que eu estava recebendo uma energia vital que me fizesse sentir as emoções que estavam dormentes dentro de mim" ela suspira ainda cheia de confusão, "De alguma maneira esse ato me deu a sensação de preenchimento".

Ela recorda da sensação de perigo, do desafio de conseguir pegar o que não deveria, ela revive o prazer que foi sentir que conseguiu e o alívio por ter saciado a vontade de pegar. Mas isso é errado e ela nunca foi uma ladra, ela se cobra achando-se ridícula. Mas por alguns momentos foi como se a dor de perder suas filhas tivesse adormecido um pouco dentro dela.

Miranda se levanta, abre uma gaveta e solta o batom lá dentro com a promessa para si mesma que jamais fará isso novamente.

Ela não tarde no banho, ela não janta, ela apenas veste sua camisola na cor creme e se afunda na cama deitando em posição fetal sentindo-se envergonhada e perguntando como deve está suas filhas. A saudade abraça a sua alma sufocando a respiração do seu ser. As lágrimas molham o travesseiro em misto de dor, saudade e vergonha.

(...)

—... E às 16h quero analisar os recebidos. — A editora profere concluindo suas demandas para suas assistentes.

— Miranda, Irv pediu para que você subisse até a sala dele. — Andreah informa já esperando o descontento da mulher.

Miranda apenas suspira, ela detesta ter que gastar seu tempo com o homem que sempre repete as mesmas coisas.

Acabrunhada e desgostosa, a editora consegue permanecer em sua personalidade dama do gelo até quase o fim de expediente onde queria analisar o que as grandes marcas enviavam para ela. As três caminham em direção ao ateliê, Miranda na frente e as duas assistentes um passo atrás. Miranda se senta na cadeira estofada em veludo vermelho, e as duas assistentes sobre as pernas no chão começam a tirar as coisas da embalagem e entregar nas mãos da Miranda para analisar uma por uma.

— Fique para você! — Miranda empurra para Emily o lançamento das novas maquiagens da Dior. Nela há vários batons...

Os olhos da ruiva brilham e um sorriso contente estampa seu rosto. A vaidade da ruiva é algo que Miranda já acostumou a lidar e sabe que ela é louca por roupas, maquiagens e acessórios.

— Andreah não saberia o que fazer com isso, já que insiste em se vestir como uma caipira que claramente se recusa a usar pente nesses cabelos opacos e sem brilho fazendo questão de sempre se apresentar gorda e sem senso de moda.

Uma mascara sem emoções surgiu nas feições de Andreah, todos os vestígios de seu sorriso dissiparam-se como neblina. Andreah levantou-se com um visível tremor no corpo, os olhos emitiam desconfiança e constrangimento porque Miranda não parou na critica nos cabelos.

— Isso é tudo! — A editora finaliza levantando-se enfadada, ela nem queria ver o que ganhou das grifes, ela só usou aquilo para recompensar Emily.

Emily ganhara quase tudo, pouca coisa Miranda quis para ela, e Andreah coitada, apenas humilhações sobre sua aparência sendo motivo por não merecer nada. Mas, a garota também não fazia questão, ela pouco entendia o que significava ter algo de grife, ela preferia o mais barato e pronto, suas preocupações eram outras.

E quando Miranda estava saindo do ateliê, algo chamou a atenção de seus olhos, um pequeno elefante na cor prata decorando a grande estante da parede perto da porta. A vontade de pegar para ela invadiu seu ser como o ar invade seus pulmões. Ela disfarçou a paralisação e tentando ignorar o objeto saiu rapidamente da sala como se fugisse de algo altamente contagioso.

Ela consegue distrair sua mente, porém, aquele desejo de se apossar do objeto não saiu de sua mente. Ao final realmente do expediente, a editora voltou sorrateiramente no ateliê e o pegou, ela sabia que aquilo pertencia a Nigel, ela sabia que tinha valor sentimental para o homem que o trouxe de uma viagem da Índia, e antes de pega-lo, ela relembrou tudo isso, ela tentou se convencer de que não poderia fazer aquilo, ela se cobrou muito, mas, só conseguiu respirar aliviada quando o objeto já estava dentro de sua bolsa e uma sensação de satisfação tomando posse do seu ser.

O que Miranda não imaginava era que Andreah também teve que voltar ao ateliê para procurar o bloco de anotações que havia esquecido em algum canto do chão e assistiu todo o conflito da editora até o ato final de pegar para ela algo que todos sabiam que era de Nigel.

Com semblante confuso a jovem seguia parada de joelhos, ela tinha se abaixado para olhar debaixo da mesa, se perguntando por que Miranda fez aquilo. As sobrancelhas juntas entrega a confusão da garota que tenta entender o que aconteceu para Miranda cometer esse ato tão vergonhoso.

Então cuidadosamente Andreah passou a observa o comportamento da chefe durante os próximos dias, ela percebeu que vários objetos seguiam sumindo, ela sabia que era Miranda que estava fazendo isso. A garota mesmo não entendendo, sabia que Miranda não fazia aquilo de má fé, ou com intuito financeiro já que ela tinha dinheiro para comprar até o prédio Elias-Clarke caso quisesse.

Em sua casa ela começou a pesquisar sobre pessoas que furtam sem precisão, a jovem mais uma vez se compadeceu da editora que pouco faz questão de ser gentil com a garota.

Andreah passou a comprar pequenos objetos nas lojas de um dólar e deixar em lugares estratégicos na revista para suprir a necessidade da Miranda em pegar. Ela não sabia se isso era o certo a fazer e ela também não tinha coragem de abordar a mulher que tanto demonstrava desprezo por ela, mas ela sabia que Miranda tinha perdido as suas duas filhas e estava precisando de ajuda.

Na penumbra do seu olhar.Onde histórias criam vida. Descubra agora