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Miranda guardava no semblante a expressão das almas perdidas no limbo, sem saber o caminho do céu ou do inferno o clássico olhar vazio juntamente do pensamento "até que enfim". Depois da partida das suas filhas, a segunda-feira passou a ser o dia mais esperado para ela fugir da solidão de dois dias solitário em uma mansão sem risada infantil e gritos felizes.

Ela está perfeita em um terno Armani em risca de giz, salto nos pés, cabelo e maquiagem devidamente impecável, mas, em seu olhar, seu corpo não parece ser mais sua casa, é apenas um corpo vagando até o dia sua morte.

Absorvida na indiferença que lhe empalmava toda a sua tristeza, a editora-chefe partiu para Runway em um silêncio costumeiro que ela sempre prezou em apreciar por todo trajeto. Ela coloca seus óculos escuros, ela puxa o ar para seus pulmões e se coloca como dama de gelo. Nada abala essa mulher, não é isso que pensam? É isso que ela entrega.

Enquanto ela caminhava pelos corredores da revista ditando ordens infinitas para sua primeira assistente, nota-se ao chegar perto de sua sala, que ela e a segunda assistente permutaram delicadezas mudas em um olhar relembrando o encontro anterior.

O olhar da editora arrasta-se pela sala e fincam na mesa da primeira assistente, lá, em um lugar que não deveria estar, tem um batom com embalagem em um preto brilhante com detalhe em dourado. A editora semicerra os olhos, inclina seu queixo para cima e caminha para sua sala ordenando que a segunda assistente lhe busque café.

Assim Andreah faz, ela corre com pressa até a cafeteria em frente à Runway, ela estranha o pedido da mulher ter sido tão cedo, ela mal chegou. Miranda costuma pedir o primeiro café depois das 9h. "Talvez ela não tenha comido nada em casa." Pensa a garota olhando para as opções de nutrientes de um bom café da manhã. Ela recorda da sexta-feira em que viu a mulher sucumbida ao luto de perder suas filhas. Seu coração aperta.

— Miranda, eu trouxe o seu café. — A garota invade a sala da mulher com a sua adorável voz doce e delicada.

Miranda estava alisando o dorso acima de seus seios em uma sensação de alivio saciando o seu amargurado Eu que há muito dias não sentia a luz da vida.

Miranda olha com uma das sobrancelhas arqueadas em um misto de sensação em um raciocínio obliterado, lobrigava por fora as criações mentais que arquitetava por dentro diante da manifestação da Andreah de lhe ofertar um café da manhã em uma bandeja com pão, queijo e alguns nutrientes que manteria a mulher em pé por longas horas.

Com a ternura em seu olhar preocupado com o bem estar da magnata, Andreah afasta-se para trás, explicando com um sorriso sincero no rosto o porque daquilo. Sem atitudes açucaradas, Miranda empurra a bandeja em uma reprovação que faz a jovem assusta-se e arregalar os olhos como uma criança que tem saudade da proteção do colo materno, Andreah encheu os olhos de lágrimas com as duras palavras da editora que lhe achincalhava a garota sem dó.

— Limpe isso! — A editora ordena em suas últimas palavras ao se sentar e focar em seu computador.

Andreah ainda assustada corre para pegar o kit de limpeza que fica reservado em uma pequena cozinha exclusivamente das duas funcionarias.

Com um balde com água e produto de limpeza e um pano em mãos, a garota se ajoelha pegando a bandeja e colocando de maneira desorganizada, tudo que estava nela em uma ordem carinhosamente colocada por ela mesma. Ela afasta a bandeja para o lado e com pressa começa enxugar o liquido que se espalhou pelo chão branco.

— Miranda, o James Holt informou que a coleção de inverno já está pronta. — Emily adentra a sala tentando ignorar a servidão da sua colega ajoelhada esfregando o chão. — Os lenços que você pediu. — A ruiva coloca na mesa.

— Isso é tudo! — Miranda não olha para a garota que balança a cabeça em concordância e se retira da sala.

Andreah olha para o chão agora voltando a sua impecável aparência, então levantando e segurando a bandeja bagunçada, ela olha para editora que tem o olhar mordaz sob a jovem que vacila em sua postura submissa. Ela é a garota gorda que não sabe se vestir diante do olhar da mulher que mais entende de corpos e moda.

Andreah abaixa a cabeça em pura submissão e lentamente caminha para fora, levando a bandeja para longe, logo retornando ao recinto para pegar o balde e o pano. Assim que se põe ereta, silabicamente a editora pede seu café.

Andreah balança a cabeça em concordância e ainda assustada ela corre para providenciar apenas o café puro, quente e bem forte como Miranda costuma gostar. Ela se acha uma idiota.

Depois desse pequeno incidente de logo cedo, o dia para as funcionarias da Miranda era como o purgatório e editora o próprio diabo, elas não paravam para poupar os pés dos saltos finos que lhes castigavam os pés.

— O que você está procurando? — Andreah questiona para Emily preocupada.

— Eu deixei o meu batom da Dior aqui, eu tenho certeza. — A ruiva fala mexendo alguns pertences da mesa em busca do cosmético.

— Já olhou dentro da sua bolsa? — Andreah questiona com as duas sobrancelhas arqueadas.

— É obvio! — Emily revira os olhos da pergunta da garota.

Miranda surge pedindo seu casaco e bolsa olhando de soslaio para a ruiva que paralisou com a presença da chefe ali. Miranda está com a feição ruborizada. Andreah a tira de seus pensamentos colocando o casaco em seus ombros e ofertando sua bolsa. Miranda limpa a garganta em um pigarreio e caminha elegantemente para fora da revista.

Na penumbra do seu olhar.Onde histórias criam vida. Descubra agora