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Andreah se senta no sofá indicado por Miranda, a editora senta na outra ponta do mesmo sofá, ela suspira, ela não precisava se explicar para Andreah, mas, de alguma maneira, o que Andreah fez por ela, mexeu em alguma coisa dentro si. Talvez faça muito tempo que ela não esbarrava com alguém aparentemente bondosa e genuína. Mas, mesmo sabendo que não precisava, ela queria falar sobre esse assunto ela tanto evita até para si mesma.

— A partida delas me bagunçou de uma maneira que eu desconhecia. Eu me vi frágil, como um jarro de vidro, aqueles que o manuseio errado, quebra. — Os olhos azuis começam a ficar vermelhos. — Mas, também o meu outro lado que exigia postura inabalável se viu perdido dentro de mim, sem saber o que fazer com tamanha fragilidade. O meu lado duro, não sabia me acolher, e o lado fragilizado desconhecido queria gritar e eu não sabia o que fazer — As lágrimas escorrem dos olhos da editora. — Cassidy e Caroline eram tudo o que eu tinha de mais valioso. E de repente, em um instante, eu perdi aquilo que mais me fazia sentir viva.

— Você não precisa ser forte e nem parecer ser forte diante disso, Miranda. — A voz tímida sai lenta e calmamente dos lábios de Andreah.

— As perdi, perdi meu marido, eu não sei o que aconteceu comigo, eu só sei que eu me despedacei, e eu não consigo me colar novamente. Sem perceber, eu já estava fazendo para preencher o vazio enorme que está dentro de mim. — Miranda abaixa a cabeça envergonhada. Andreah é a primeira pessoa que ela está desabafando.

— Deixa eu te ajudar, Miranda. — A garota toca a mão da mulher. Miranda nem havia percebido Andreah se aproximar.

— Você já fez muito, fazendo aquilo por mim. — Miranda balança a cabeça em negação. — Você tem todos os motivos para ser a primeira a querer a minha ruína.

— O que tem se chama cleptomania, tem tratamento com terapia comportamental, dessensibilização sistemática e remédios que vão fazer você interromper esses impulsos de furtar. Eu andei lendo muito sobre isso. — A voz sai dócil.

— E por que você quer fazer isso? — Mesmo com vergonha do assunto, Miranda eleva o olhar para encarar os castanhos amendoados.

É estranha essa sensação que a Miranda tem sempre que encontra os olhos da garota. Ela se sente invadida, como se Andreah soubesse lê-la e isso sempre a incomodou.

— Há dois anos — Andreah solta às mãos da editora e seu olhar distanciam. — Meus pais sofreram um acidente, meu pai só teve algumas escoriações, mas, a minha mãe, ela morreu na hora. — A garota suspira enchendo os olhos de lágrimas. — Meu pai não soube lidar com o luto, ele se sentia culpado e lentamente ele começou a beber, ninguém percebia que aquele gesto era a maneira dele fugir da dor, e essa fuga se transformou em vício, eu vi meu pai lentamente se viciar em álcool e eu não fiz nada para impedir.

— A culpa não é sua, você também estava em processo de luto. — Do seu jeito, Miranda tenta conforta-la.

— Então a Catharina começou a desmaiar, ter convulsões, e foi encontrado um tumor na cabeça dela. — O choro da Andreah é espesso. — em uma dessas idas para o hospital, quando retornamos para casa, meu pai não estava mais lá e nem suas roupas. Só tinha um bilhete com um pedido de desculpas por não poder ficar. Eu tentei procurar ele, mas ele sumiu, demorei a perceber que era só eu a Catharina. Em Ohio não tinha muito o que se fazer em relação a doença dela, e eu também não tinha dinheiro. Eu vendi a nossa casa e nos mudamos para cá. Eu usei o dinheiro da venda da nossa casa para descobrir mais sobre esse tumor que a fazia convulsionar, e foi descoberto, ele não está tão grande, é um tumor que acomete crianças e jovens até os vinte anos.

— Ela vai...

— Não! — Andreah a interrompe sabendo o que Miranda iria perguntar. — Ele é benigno, ela não vai morrer. Eu entrei com pedido de ajuda do governo, mas, por está classificado como benigno, ela não está na lista de prioridades, e também não consegui ajuda para os remédios, mas, o fato de ser benigno, não anula os riscos e má qualidade de vida, então a associação me levou para a Runway, o plano de saudade cobre 50% do valor dos remédios, e se permanecer por um ano, o plano cobre uma porcentagem da cirurgia, já muita coisa para quem não tinha condição de nada. — Andreah olha para Miranda com seus olhos embaçados. — Eu sei que eu não sou o perfil adequado para Runway, que você me despreza por eu ser feia e burra, mas, eu só preciso de mais alguns meses na sua revista e depois você vai está livre de me ter destoando à beleza da sua equipe, como você sempre se queixa. A cirurgia vai remover e aí ela não vai mais convulsionar, vai voltar a ter uma vida digna, livre dos remédios, vai voltar a ser uma criança comum.

— Ela ouviu sua namorada falando para você leva-la para um orfanato porque ela iria morrer, Andreah. — Miranda confidencia como se dissesse que Andreah precisava conversar com Catharina sobre isso e também para fugir de como ela via Andreah.

— O quê? — As sobrancelhas juntas da Andreah denota sua confusão.

— Quando você acha que ela está dormindo, ela não está.

Então Andreah se dar conta de dois momentos em que sua ex-namorada a magoou e decepcionar ao cobrar que Andreah se livrasse da sua irmã para que elas pudessem aproveitar a vida e o relacionamento, Andreah suspira frustrada.

— Era Natasha, foi um erro ter colocado ela nas nossas vidas, ela não era como eu pensei que fosse. — Andreah desabafa e Miranda concorda com a cabeça. — Talvez eu esteja tentando fazer com você, o que eu deveria ter feito com o meu pai, ter percebido o começo e assim o ajudado para ele não se viciar, talvez se ele não tivesse se viciado, ele não teria nos abandonado. — Andreah chora se sentindo culpada de tantas coisas. — Eu quero ajudar você, porque sei como é se vê sozinha.

— Você só precisa dizer a ela que nunca pensou em leva-la para um orfanato. — Mesmo tentando fugir, Miranda sabe que vai pensar em tudo o que Andreah está falando sobre si.

Andreah balança a cabeça em concordância, Miranda sente vontade de abraçar a garota e tentar conforta-la, mas, ela está assustada com tudo que acabou de ouvir da Andreah. É complicado para ela perceber que enquanto Andreah estava passando por tantos desafios, ela estava dificultado ainda mais a vida da garota com humilhações e exigências exorbitantes apenas por não gostar da maneira de como ela se veste. Agora Miranda está se dando conta que para Andreah, não foi uma opção se vestir como se veste.

— Onde ela está? Precisamos ir. — Andreah se dar conta que já passa da meia noite.

— Ela está dormindo no meu quarto. — Miranda vendo Andreah se levantar, se levanta também. — Está tarde, deixa-a dormindo, durma aqui também. — Miranda oferta.

Andreah busca o olhar azul e se prende neles por alguns segundos até Miranda desviar. É estranha a sensação de familiaridade que Miranda sente nesse olhar cansado e triste da Andreah.

— Vai ser difícil pegar táxi há essa hora, ela está dormindo, você está cansada, a cama do quarto de hospedes é mais confortável que sua cama de solteiro. — Miranda tenta amenizar aquele clima dramático.

Andreah sorrir de lado desconfiada e alerta Miranda que sequer trouxe roupas, Miranda por sua vez afirma que isso não será problema, então para não sair ao relento no meio da noite com uma criança adormecida no colo, Andreah aceita a oferta da mulher.

Na penumbra do seu olhar.Onde histórias criam vida. Descubra agora