Capítulo I

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O silêncio sempre fizera parte das refeições de Remi, mas sua família ainda não havia se acostumado com seu jeito de ser, e as visitas pareciam compartilhar daquele sentimento. Ela amava o poder de controla-los, de subjugá-los, e então ninguém podia ir contra sua vontade.

Ela se sentava em frente ao noivo, o pai silenciosamente estava à cabeceira da mesa, como o patriarca, o líder, mesmo que só representativamente. Todos comiam de forma educadamente desconfortável, mas ela se sentia satisfeita ao máximo. Primore fez menção de levantar, mas Remi a encarou.

— Termine sua refeição. — Uma ordem direta.

Prim buscou a ajuda do pai, mas este se manteve quieto. Incapaz de lutar com sua própria irmã, ela obedeceu contrariada. Os olhos marejados com seu infortúnio, não surtiam nenhum efeito sobre Remi, ela não sentia nem um pingo de remorso de tudo que fez.

O jantar perdurou mais do que todos gostariam, apenas um contrato informal do noivado, enfim o noivo fujão estaria subindo ao altar, mas com uma noiva diferente, a qual ele não amava, ao contrário, a odiava com tudo o que tinha.

Prim aproveitou a distração causada pelos detalhes do casamento, e subiu para seu quarto. Noah logo a seguiu.

— Você vai mesmo se casar com ela? — Choramingou se agarrando ao peito dele. — Ela está se vingando de mim, porque papai e mamãe a rejeitaram quando criança. Ela não ama você, não é capaz de amar a ninguém.

— Eu sei. — Noah tentou consolá-la. — Meus pais disseram que apoiariam qualquer decisão minha, mas não posso. Remi tem poder sobre tudo que temos, se não me casar, perderemos tudo, não sobrará nem a casa. Sinto muito Prim.

— Ela é má!

— Talvez eu seja. — Remi saiu das sombras e chegou ao meio do corredor. — Ao menos não estão em um quarto. Admito que me surpreenderam, já estava pronta para flagrá-los aos beijos, ou quem sabe ... — ela tinha um sorriso maléfico, quase doentio. — É meu último aviso, da próxima vez, não perdoarei uma indiscrição de vocês.

Ela atravessou o restante do corredor e se fechou atrás de uma porta.

Prim encarou friamente a garota que compartilhava seu sangue, mas estava longe de ser sua família.

— Ela não vai sossegar enquanto não me destruir, não vou suportar mais disso. — A voz abatida e distante entristecia a Noah.

— Você é forte! Vamos superar isso! — Noah só não sabia como. Despediu-se de Primore e foi ao encontro dos pais. Ninguém ousava falar nada dentro daquela casa gélida.

— Como Primore está levando a situação filho? — Peter Dempsey perguntou preocupado com a doce garota, outrora sua nora.

— Ela está magoada e infeliz. — Noah encarou a estrada escura. — Remi a proibiu de sair de casa até o casamento, e ainda a obrigou a aceitar o convite de dama de honra.

— Como ela pôde? — Simone fervia de raiva. — Primore é tão gentil, não merecia passar por isso. Não entendo como podem ser irmãs.

— Remi foi criada por Elizabeth desde o início da adolescência, meu pai dizia que a velha era a personificação do mal em pessoa, deve tê-la influenciado. — Peter opinou.

— Ela sempre foi uma pessoa ruim. O sr. Solomon a mandou para a mãe pois machucava a Prim desde quando ela nasceu.

— Essa garota roubou a própria avó, e tirou todo o poder do pai, ele não pode nem sequer se aproximar da empresa, e agora está tentando fazer o mesmo conosco. Por que Byron tinha que ter perdido tudo antes de morrer, e aquela demônia da Sra. Solomon comprar nossas dívidas. — Simone resmungou. — Quando Elizabeth nos ofereceu um casamento entre famílias ainda quando você e Prim eram adolescentes pensamos que estávamos salvos. Vocês se gostavam, tudo corria ao nosso favor.

— Mas a velha caiu no próprio golpe. — Peter afirmou. — Pagou tudo o que devia ao perder para aquela menina. Sinto muito que esteja se casando com ela para nos salvar filho.

— Tudo bem, não é culpa nossa. — Noah fingia não se incomodar tanto. — Mas Remi Solomon vai desejar nunca ter se casado comigo, vou tornar nossa convivência insuportável ao ponto de ela desejar o fim.

— Cuidado com o que fizer filho. — Simone aconselhou. — Remi nos prendeu em um ótimo contrato. A dívida só será quitada assim que vocês tiverem um filho. Ela sabia que você não trairia a Prim, e nos amarrou como pôde.

— Nunca vou ter um filho com aquela mulher! — Imaginar tocar naquela mulher o dava repulsa.

Em contrapartida, Remi dormia tranquilamente, sabendo que se qualquer coisa lhe acontecesse ninguém teria motivos para comemorar. Ela viva era um problema, mas sua morte geraria um problema maior ainda, se tinha algo a agradecer a Sra. Solomon, sua avó, era a frieza nos negócios que adquiriu.

Daquela vez, a vilã teria um final feliz, ou no mínimo satisfatório.

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