Capítulo II

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Remi poderia usar o vestido dos sonhos da irmã, mas não combinava com seu estilo, era romântico e princesa demais para seu gosto. Então optou por um modelo minimalista, nada de rendas e camadas e mais camadas de anáguas para dar volume. O vestido fluía pelo seu corpo como água, o cetim se ajustava as curvas esguias e um laço de longas fitas pairava sobre o ombro esquerdo, quase uma sereia banhada em pérolas. O cabelo preso em um coque e o simples buquê de flores era tudo que precisava. Fez questão de uma festa grandiosa, aproveitaria cada minuto para observar Prim e Noah.

Prometer perante todos os convidados que a amaria era fácil, mas encarar Prim era um tormento, ela que devia ser sua noiva, ela devia estar ao seu lado, se casando com ele.

— Se a encarar mais, vai atravessá-la. — Remi debochou.

— Você é igual a sua avó, e morrerá sozinha, como ela morreu. — Noah sussurrou.

Remi fingiu ouvir algo bom e sorriu para seus convidados.

— Tomara que eu viva muitos anos como ela então. — Ergueu uma taça e lhe ofereceu um brinde, sorrindo alegremente.

Primore tentou não notar que todos falavam dela, da coitada Prim, que perdeu o noivo para a irmã mais velha. Não era o suficiente perde-lo, tinha que ser humilhada na frente de todos. Ela olhava para Noah incapaz de não se sentir a mais infeliz das pessoas. O homem que queria nunca seria seu. Sua noite foi uma eterna tortura, e mesmo fugindo descaradamente da irmã, essa a encontrou.

— Não houve dama de companhia mais linda do que você, esta noite irmã. — Remi elogiou falsamente. — Devo admitir, que esse papel lhe cai bem.

Prim se sobressaltou. Remi tinha o poder mágico de aparecer do nada, como uma assombração ao seu redor.

— Que bom que gostou, escolhi justamente para o seu agrado irmã. — a última palavra saiu com um insulto. O vestido usado por ela era preto e sem brilho, quase que ideal para um funeral.

Remi sorriu. Sabia exatamente o que dizer ou fazer para espezinhar a irmã.

— Ainda bem que não usou o vestido que escolhi, esse lhe faz parecer mais patética. — Remi sorria feliz.

— Como pode ser feliz, fazendo todos ao seu redor tão infelizes? — Prim a olhava com ódio. — Ninguém aqui realmente gosta de você.

— E isso devia me afetar de alguma forma? — Ela desdenhou da fraqueza de sua irmã. — Não me importo com nenhum deles, só os convidei porque são seus amigos e amigos de Noah.

— Um dia, você vai se arrepender por isso.

— Não existe espaço para arrependimento em minha vida Prim. E você logo vai descobrir isso. — Remi fingiu ajeitar o vestido. — Tenho uma lua de mel para ir. A propósito, cortei sua mesada pela metade por essa brincadeira com o vestido. Espero que possa aprender com seus erros no futuro.

— Sua ...

— Cuidado, aconselho a não me provocar. — Remi lhe abraçou sem algum afeto, enquanto ela se mantinha firmemente paralisada e enojada com aquele toque. — Tenha uma boa noite, irmãzinha.

Prim engoliu o restante de seu orgulho e forçou um sorriso, havia muitos espectadores para se humilhar publicamente caindo no jogo de Remi.

Ela aproveitou cada minuto da sua festa, como se nada nem ninguém pudesse atingi-la. Sorriu, dançou e bebeu. Aquela era sua noite. Mas o momento de ir embora chegou, o pobre Noah estaria ligado à sua antiga cunhada por tempo indeterminado. Ela poderia morar junto aos pais e Prim, mas gostava de saber que o fato da irmã não conseguir ver o que acontecia entre eles lhe causaria mais raiva.

O motorista continuou dirigindo, até encontrar uma portão escondido pelas vegetações e árvores. A entrada era circundada por plantas, e talvez fosse a lua prateada, mas Noah podia jurar que havia entrado em um bosque intocado.

— Aonde estamos? — Mesmo vendo-a de olhos fechados, ele sabia que ela não estava dormindo.

— Minha casa. Aonde vamos morar.

— Não ficaremos na casa da sua família? — Noah pareceu surpreso. — Pensei que seu plano mesquinho seria nos importunar pra sempre.

— E permitir que se encontrassem com frequência? Não sou uma tola. — Ela abriu os olhos, a pouca claridade que invadia o carro iluminou os olhos castanhos. Remi Solomon era linda, mas sua maldade a transformava em uma digna bruxa de contos infantis. — E antes que sequer pense em me enganar, lhe aviso que sei cada passo seu e de Prim. A qualquer instante destruo a vida maravilhosa que tem.

O motorista abriu a porta do carro, e estendeu a mão para Remi.

— Obrigada, sr. Pier. — Ela sorriu educadamente, como uma lady.

Poucos minutos, o carro sumiu da vista de ambos, as malas despachadas com antecedência, já estavam em seus respectivos quartos. A casa estava envolta em sombras, apenas luzes fracas acesas, para impedir a escuridão total do ambiente. Ele não poderia dizer exatamente se a casa era bonita, mas tinha certeza de que era imensa. Remi subiu as escadas em silêncio.

— Seu quarto já está preparado. — Ela andava sem olhar para trás. — O sr. Pier o levará para o trabalho todos os dias às 8h pontualmente, ele será seu motorista a partir de agora.

— Minha babá. — Noah murmurou.

— Ainda necessita que lhe troquem as fraldas? — Remi não brincava. — Tomamos café às 7:30, o almoço ocorrerá todos os dias às 13h e jantamos às 21h, às 22h os funcionários se retiram da casa principal, então você não poderá importuná-los até as 6h do outro dia. Não tolero visitas sem horário marcado, e nenhum tipo de mudança na rotina da casa. A sra. Clark é responsável pelos cuidados domésticos, nossa governanta. Há vários funcionários morando dentro do perímetro que lhe serão apresentados amanhã. Espero que se adeque a rotina o mais rápido possível.

— Sinto-me em uma linda gaiola de ouro. — Noah se encostou desleixadamente na parede. — Há algo a mais senhora?

— Nossas suítes são ligadas pelo closet. — Remi indicou a porta a sua frente. — Esse é o seu quarto.

— E você é minha vizinha de porta. — Noah ergueu uma sobrancelha. — Não vai exigir os direitos conjugais esposa?

— Deseja tanto assim dormir comigo? — Ela ironicamente não queria sequer pensar em dormir com ele aquela noite. — Para se deitar em minha cama, o senhor deve implorar primeiro.

Noah riu amargo, enquanto Remi lhe dava a visão de suas costas indo embora.

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