Capítulo IV

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Sua esposa ainda estava escondida na biblioteca. E apesar de receber o aviso sobre incomodá-la, ele não iria perder a oportunidade de fazê-la odiar aquele casamento, do mesmo jeito que ele odiava. Entretanto agora ele tinha algumas dúvidas, uma suspeita começou a crescer dentro da sua mente, ou Remi era uma ótima atriz e fez daquele lugar seu covil, ou ela não era quem ela mostrava ser.

— Não me parece muito educado a esposa se esconder do marido. — Ele se revelou após alguns minutos a observando. Por um instante ele achou que ela estava cansada, mas logo ela pareceu como sempre parecia. — Meg fez o favor de me dar um tour pela casa. Boa menina ela.

— Sim. — Remi afirmou, e nem sequer mudou de posição.

— Soube sobre a mãe dela. — Remi ficou rígida na poltrona. — Você parece um anjo aos olhos dela.

— Cada um se engana como pode.

Noah observou o jeito distante como ela o tratava. "Aonde estava a vilãzinha sorrateira?" Ela parecia um pouco apática. "Será que pisar em um inimigo caído não o tornaria pior do que ela?"

— Deseja algo? — Dessa vez ela o olhou diretamente nos olhos.

Remi tinha a pele pálida, o nariz salpicado de sardas e uma aparência envelhecida, antes de conhece-la imaginou que já tivesse uns 35 anos, mas tinha apenas 27, apenas meia década mais velha do que ele e Prim. Como sempre, usava roupas sóbrias e clássicas, mas dessa vez o cabelo estava solto, apenas uma presilha antiga prendendo algumas mechas.

— Sei lá, acho que esperava um pouco mais de ação. — Noah brincou. — As bruxas más normalmente não estão ocupadas fazendo poções e jogando pragas?

Remi não expressou reação.

— Isso não é um conto de fadas, e você não é uma criança, se está entediado, vá trabalhar. — Ela tinha se esquecido de que agora haveria a sombra dele sempre por perto. Imaginou que ele fugiria como o menino mimado que era. — Se bem me lembro, seus pais fizeram um bom serviço educando-o, mas lhe falta profissionalismo. Por isso, a partir de hoje Erick Soe será seu supervisor. Estou rebaixando-o de cargo.

Noah a encarou chocado.

— Eu sempre fui o diretor da empresa!

— Erick tem mais experiência e é mais digno do cargo. — Ela o encarava friamente. —Você obteve o cargo pelo nome, ele por merecimento.

— Não pode fazer isso ...

— Já o fiz.

Era assim. Ponto final. Ela não cederia nunca. Remi Solomon estava mostrando o poder que tinha sobre eles, ela já havia retirado o pai do cargo de CEO da própria empresa, o que a impediria de rebaixar o marido de cargo? Pelo que soube, ela retornou à casa depois de longos doze anos. Elizabeth havia morrido e Remi tomou tudo para si, Prim havia lhe dito que ela conseguiu chantagear a matriarca Solomon, e por meios legais, ela obteve direito a tudo que era da família. Agora ela controlava a todos eles financeiramente.

Noah havia acabado a faculdade, e Prim, que tinha entrado um pouco mais tarde, ainda estava no meio dos estudos. Remi ditava o estilo de vida deles, e sempre ameaçava limitá-los.

Um dia, aos 20 anos, chegou em casa e conheceu Remi pela primeira vez. Ela havia anunciado o noivado deles, e afastado Prim dele. Ele a odiou e tentou ir contra ela, mas Remi começou a manipular sua vida. Tirou-lhe o carro da ano, demitiu seu próprio pai, e deixou claro que Peter Dempsey poderia ser o próximo. Incrivelmente, ela conseguia mexer os pauzinhos, e destruir toda a vida que conheciam. Sua mãe teve os cartões cancelados, e uma dívida adormecida por anos, retornou com juros.

— Você me acha pouco profissional, mas quem é você? Estudou em casa, nunca viu o mundo, e seu diploma é de uma faculdade nível C esquecida em algum buraco da Europa. — Noah sabia que ela só tinha o dinheiro, mais nada. — No mundo real, se não fosse o dinheiro, que você roubou afinal, nunca estaríamos tendo essa conversa. Você nunca conseguiria se casar com alguém como eu, por isso teve que me comprar.

— Você se vendeu muito mais fácil do que pensei. — Remi sabia ser cruel. — Te ofereci o menor preço do mercado, e você aceitou. Quem sabe se tivesse exigido algo, eu não tivesse aceitado, não é assim no mundo dos negócios?

Noah estava furioso.

— Acho que terei que engolir meu orgulho e dormir com você, e pôr fim a esse acordo ridículo. — Noah se aproximou ameaçadoramente dela. — Me sinto horrível e enojado de pensar que você vai ser a mãe de um filho meu, mas assim que ele nascer acaba esse casamento.

— A única coisa que acontece é que não terei mais poder sobre sua família, a dívida acaba permanentemente, mas se esquece de Prim. — Remi sorria maleficamente, como se soubesse de algo que ninguém mais sabia. — Ainda terei poder sobre todo o dinheiro da minha família. — ela falava com escarnio. — Será que ela abrirá mão de tudo por você? E não podemos esquecer que teremos um filho, e ela dormirá com você sabendo que se vendeu como um garoto de programa pra mim.

Noah se aproximou ainda mais dela. Frente a frente, ela podia ver as chamas queimando em seus olhos.

— Além do mais, se esqueceu que o divórcio só será concluído quando a criança tiver 5 anos. — Ela o lembrou feliz. — Eu revisei aquele contrato de perto, vocês perdem, sempre.

— Se consumarmos esse casamento, a uma chance de que ano que vem nasça um bebê. — Noah tocou na bochecha dela, Remi tremeu levemente. Surpreso, gostou de perceber que ela não era tão insensível assim. — Antes dos 30 anos, estarei livre de você, e poderei viver tranquilamente.

Remi tentou empurrar a cadeira para trás, se afastar, porém Noah segurou-a firmemente no lugar, ela teria que se levantar, se quisesse sair dali.

— Só que tem um detalhe Noah. — Ela agia vitoriosamente de novo, uma carta escondida nas mangas. — Eu sou infértil, não haverá bebês.

Remi o encarava esbanjando seu maior sorriso. Noah se enfureceu e balançou a cadeira com força, se segurando para não fazer algo com aquela pequena víbora.

— Sua ...

— Aconselho a não terminar. — Remi voltou a ser fria e controlada, nada de tremores. — Saia daqui. Essa guerra já acabou, e ninguém se importa com você.

Noah respirou fundo diversas vezes, até se dar por vencido, e sair da biblioteca. Finalmente o mundo seguro de Remi estava em paz.

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