Capítulo VIII

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— Sra. Clark?

— Sim sr. Dempsey?

— Algo aconteceu com Remi? — Noah notou a forma como o corpo dela se contraiu, como se pronta para se defender, as mãos firmemente juntas na frente do corpo, o olhar desconfiado. — Algo ruim aconteceu na casa de Elizabeth Solomon?

Suzy arregalou os olhos um pouco, mas voltou a sua costumeira falta de expressão.

— Não entendo o que quer dizer sr. Dempsey. — Suzy rapidamente se retirou.

Noah ficou intrigado. Ele tinha a sensação que havia muitos segredos ao redor de Remi, segredos obscuros. Dormir não foi tão fácil como ele imaginou, sua mente estava a mil, tentando imaginar o que aconteceu, e quem realmente estava errado nessa história.

Às 8h pontualmente o sr. Pier estava à espera de Noah, como sua esposa havia lhe dito. Incrivelmente ela havia saído pouco depois do sol nascer, com Michael Stevens, o segundo motorista da casa, o mesmo que levava as crianças para a escola. Remi tinha algo muito importante para fazer logo cedo, que a impossibilitou de esperar, e isso aguçou os instintos de Noah.

Ele conseguia se imaginar passando meia hora a mais no trânsito todos os dias, para ir trabalhar. Além de estar sendo vigiado de perto, sua esposa estava bagunçando toda sua vida.

— Sr. Pier, conhece minha esposa a quanto tempo? — Noah tinha que obter alguma informação, qualquer detalhe seria melhor do que o absoluto nada que sabia no momento.

— Trabalho para a sra. Solomon há pouco mais de um ano senhor.

Noah examinava as mínimas reações dele, mas o motorista parecia totalmente focado em dirigir, e pouco aberto a diálogos.

— A sra. Clark parece muito protetora com minha esposa.

Ele não respondeu, como imaginou, a gangue de Remi era inacreditavelmente unida.

— Há algo que eu precise saber sr. Pier? Algo que todos escondem, principalmente Remi?

O motorista continuava olhando para a frente.

— Sabe sr. Dempsey, eu ouvi as conversas que tiveram dentro deste veículo, e o que posso dizer é que estão errados sobre a sra. Solomon, mas é mais fácil continuar acusando-a de ser alguém ruim, do que a conhecer de verdade. — Pier olhou pelo espelho retrovisor interno. Noah Dempsey podia ser o marido de Remi, mas ele só queria machucá-la, e ninguém iria tocar na garota. — Sou pago para dirigir, senhor. Peço que caso tenha alguma dúvida além disso, questione diretamente a sra. Solomon.

Noah intrigava-se com como as pessoas defendiam Remi, o quão incrível ela foi para conquistar a fidelidade deles?

De repente trabalhar na empresa não foi suficiente para ele esquecer as coisas, antigamente planilhas e gráficos eram tudo o que necessitava para ocupar totalmente a sua mente, mas daquela vez, nada o inquietava mais do que descobrir quem era sua esposa.

— Noah, está me ouvindo? — Erick o encarava impaciente. — Sei que deve ser difícil estar abaixo do seu antigo subordinado, mas poderia ao menos ouvir sobre a projeção? Temos que traçar alguns planos ...

— Minha esposa é estranha. — Noah murmurou.

Erick franziu o cenho, poucas vezes falavam sobre assuntos que não fossem ligados a empresa.

— Estou distraído porque minha esposa é estranha. — Noah explicou. — Me desculpe, vou tentar me concentrar a partir de agora.

Erick achou aquela interação estranha, imaginou que Noah fosse ficar no mínimo chateado com o rebaixamento, mas ele parecia assustadoramente tranquilo, e mais intrigado com o fato da sua esposa não ser uma mulher comum, claro que ela não seria comum, uma mulher capaz de rebaixar o próprio marido de cargo é digna de um título como "estranha", mas tirando todo o elo emocional e familiar, do ponto de vista profissional, Remi Solomon estava certa. Noah era inteligente, de pensamento rápido e determinado, mas ainda não estava pronto para o cargo, precisava amadurecer um pouco mais.

Erick voltou a falar o que tinha explicado nos últimos minutos, dessa vez com a atenção de Noah.

O sr. Pier o buscou pontualmente no horário estabelecido. Nada de conversas no caminho de volta, ele se sentia perdido no clubinho da Remi. Os portões foram abertos manualmente. O que não era convencional, o sr. Dunny estava com uma lanterna próximo ao portão.

— Estamos sem energia. — Ele comentou debruçado sobre a janela do motorista. — Todos estão procurando Remi.

O motorista se apressou em entrar com o veículo, não entendia o porquê daquele alvoroço.

A sra. Clark parecia muito aflita perto da entrada. Entregou lanternas para o sr. Pier.

— A luz acabou a meia hora, não vimos Remi desde então, todos estão procurando. — Ela tinha mãos trêmulas. — As crianças estão com Lindy, os demais estão procurando pela área externa, já olhei em todos os cômodos, ela não atende o celular, pode ter esquecido como da última vez.

O sr. Pier se apressou em ligar sua lanterna.

— Vou procurar pelo lado da fonte, ela estava lá da última vez.

— Michael procurou mais cedo, mas ela pode ter se perdido.

O motorista de cabelos grisalhos andava mais rápido que qualquer jovem.

— Por que tudo isso? — Noah ficou preocupado. — Remi pode estar tranquilamente esperando a luz retornar.

— Você não entende. — a sra. Clark o chamou de "você", o quão sério aquilo poderia ser.

— Então me explique. — Pediu.

— Ela tem pavor do escuro, pavor! — Suzy olhava para todos os lados, apreensiva. — A finada sra. Solomon a trancava no porão.

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