Noah voltou até a piscina, seus sogros tentavam acalmar Prim, uma toalha felpuda já havia sido posta sobre seus ombros, apesar de instigar proteção em todos, sua ex namorada só o fazia sentir desconfiança.
— Remi te empurrou na água? — Noah questionou.
— Mas é obvio, não está vendo? — Judy ficou aborrecida.
— Não acredito nisso. — Prim o olhou chorosa, mas ele não se importou. — Pelo que conheço de Remi, ela não faria mal a ninguém.
— Você não a conhece! — Prim esbravejou. — Como pode acreditar nela?
— Remi nunca mentiu para mim, enquanto você me enganou. — Noah duvidava da inocência de Prim, duvidava de tudo que ela já lhe disse sobre sua esposa. — A partir de agora, não temos mais laços, eu ficarei do lado de Remi, não entrem em contato comigo e nem com minha esposa novamente.
— Quando ela quebrar seu coração, não me procure para o remendar. — a ameaça que pensou fazê-lo parar, só o incentivou a continuar.
— Ao contrário, acho que Remi é a única que pode remendar o que vocês destruíram.
Noah caminhou para longe. Finalmente, estava deixando tudo para trás, deixando Primore e seu primeiro amor no passado.
Remi cancelou todos os cartões de sua família, restringiu acesso as contas, e agora eles teriam que se organizar para viver com o mínimo, logo seu advogado os avisaria, se Prim realmente deseja terminar seus estudos precisará de uma bolsa, ou quem sabe alguém que a sustente, porque ela não faria mais aquilo. Retirar seu pai da empresa era pouco, ela iria acabar com todo o orgulho e soberba deles, um por um, até não sobrar nada. A garotinha chutada pela família não existia mais. Ela podia se defender agora.
Quando eram crianças, Prim havia se tornado o estereótipo de criança mimada, tinha tudo em mãos, o tempo todo, super protegida, como se fosse quebrável. Por anos, ela pensou que realmente havia tentado matar Prim, ela a odiava, chegou a se culpar, mas no fim, sua irmã realmente mentiu.
Naquela manhã, os pais haviam lhe dito para não irem nadar, iriam a algum lugar, estavam prontas, mas Prim colocou os pés na água, e acabou molhando o vestido, Remi tentou avisá-la para sair, mas desobedientemente Prim insistiu em continuar, até que caiu na água, a roupa pesada junto com a inexperiência da garota a fizeram começar a se afogar, Remi com seu instinto protetor só queria salvar ela. De irmã, passou a ser chamada de monstro, problemática. Era verdade que brigavam, que odiava ficar muito tempo com a irmã caçula, Prim era e ainda é, infantil e chata, enquanto Remi gostava do silêncio e da calmaria, ela gostava de fazer bagunça. Por fim, Prim se tornou seu pesadelo, nunca poderia dizer não a ela, que após um tempo sua mãe escutaria uma versão diferente dos fatos pelos lábios de Primore.
Ela foi colocada dentro de um avião e enviada para a avó, que nunca tinha conhecido pessoalmente. E seu mundo de sonhos infantis se transformaram em um mar de pesadelos e castigos. Não faça isso, não faça aquilo, não saia, não brinque, não fale. Aos poucos Elizabeth Solomon a moldou, Remi nunca mais deu risadas, ou brincou de boneca, aulas intermináveis de etiqueta, e dias regados a solidão. Se fosse verão, devia sair pouco, para não queimar a pele, ou se bronzear, devia estar sempre bem vestida, ela estava presa séculos atrás no passado.
Passava fome numa mansão abastada de comida. Não podia comer o quanto queria, mas o quanto Elizabeth julgava necessário, não podia ganhar peso, mas também não devia parecer doente. Não podia conversar com estranhos, mas também devia ser educada como uma lady. Remi não se lembrava como conseguiu fugir daquela interminável tortura. Inacreditavelmente, ela conseguiu ir para uma faculdade, não a que queria, mas a que Elizabeth permitiu, acompanhada de uma dama de companhia, que na verdade era uma espiã para sua avó. Um passo em falso, e seu sonhado diploma seria esquecido.
Lhe disseram uma vez, que Elizabeth Solomon sabia muito, que nada ficava escondido dela, esse era o poder concedido pelo dinheiro e status. A mulher admirada por todos fora dos muros da mansão Solomon, não passava de uma bruxa mesquinha. Mas o karma não tardou a chegar. Um dia sua saúde começou a faltar, e Remi se tornou tão má e fria quanto ela, sorrateiramente tomou posse de tudo, todos os bens, todas as dívidas a serem cobradas, enquanto a velha definhava nos últimos dois anos de vida, a neta investia seu dinheiro, comprava ações, com a ajuda de um antigo inimigo dela, afinal os inimigos de seu inimigo são seus amigos. Quando ela finalmente morreu, Remi achou apropriado se vingar de quem a tinha mandado para o inferno, nada mais justo que todos queimarem juntos.
O cabelo molhado estava quase seco pelo jato quente do secador, quando Noah finalmente chegou. Ela continuou de costas, terminando o que estava fazendo. Podia seguir cordialmente como foi nos últimos dias, tantos anos fingindo deviam valer de algo.
— Você está bem?
Remi fingiu não ouvir. Exasperado, ele tomou o secador de sua mão e colocou desligado sobre a penteadeira. Sem opções foi forçada a encará-lo.
— Remi, você está bem?
— Veio conferir o estrago que seu primeiro amor fez?
— Não, vim ver você.
Ela sorriu, sem alegria.
— Um pouco tarde não?
— Eu tive que passar em outro lugar primeiro.
— Ah, claro. Prioridades.
Ela não queria dizer que estava magoada, ele poderia ter escolhido ela, mas escolheu ficar ao lado da preciosa Primore, outra vez, escolhiam ela.
— Eu estava preocupado. — Noah tocou as mechas úmidas do cabelo dela. — Então, pode por favor, ser apenas uma pouco menos defensiva, e me dizer, você está bem?
Uma ponta de dúvida se instalou no seu coração e na sua mente. Ele realmente tinha ido até ela? Estava preocupado?
— Eu estou bem.
Ela teve a impressão que ele suspirou aliviado. Ele usou a porta conjugada e entrou no quarto. Era de se esperar, ninguém muda tão rápido. Remi voltou a ligar o secador, precisava terminar de secar o cabelo.
Um buquê de rosas brancas com hortênsias azuis foi colocado entre ela e o espelho. Rapidamente ela se virou para ele.
— Eu te trouxe flores.
— Por quê?
— Porque você gosta de hortênsias. Não havia tantas, então misturaram com rosas brancas, mas da próxima vez, prometo que serão apenas hortênsias.
O coração dela ficou descompassado. "Haveria uma próxima vez?"
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Sob a Superfície
RomanceRemi Solomon foi a primogênita de Judy e Paul Solomon. Uma menina tranquila e quieta, mas a família ainda parecia pequena para os Solomon, e inúmeras tentativas fracassadas depois, eles conseguiram ter a pequena e delicada Primore. Ela se tornou o m...