VIII: A queda do Traidor

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Encontro com Jennifer no local combinado, a calçada logo em frente ao Shopping Vera Cruz. Ela está vestindo um conjunto bem casual, jeans, tênis azuis ciano e um cropped branco coberto por um casaco de aviador preta.

— Desculpa o atraso, tive uma emergência para resolver no trabalho. — Reclama.

— Relaxa Jen, a gente chegou quase na mesma hora. — Dou de ombros. — Então, pela sua cara, eu sei que você tá afim de ver alguma coisa no cinema.

Jennifer me olhou como se eu tivesse jogado um rato morto em seus ombros, apenas para rir em seguida e dar um soquinho em meu ombro.

— Como é que você descobriu?

— É que eu sou um telepata muito poderoso. — Levo a destra contra o rosto enquanto a mão esquerda está esticada na direção dela, fingindo ser algum tipo de psíquico clichê. — Brincadeira, a Virtua me contou que você estava tentando convencer a galera pra assistir a campanha da re-exibição gratuita de alguns filmes antigos.

— Eu devia saber, Virtua e Salem aqueles fofoqueiros! — Jennifer riu.

Meia hora se passou até que pudéssemos comprar as coisas devido às filas e agora apenas faltava encarar a fila para entrar no cinema, Jennifer tamborila os seus dedos entre as alças da sacola, enquanto podia ouvir a própria balbuciando algumas coisas.

— Jen.

Nenhuma resposta.

— Jennifer.

Ela continuava no mundinho que tinha criado.

— Julieta?

Ouço um murmúrio do tipo "hm", me fazendo levar as mãos contra os seus ombros, podendo sentir que meu toque tinha provocado um arrepio na jovem, me devolvendo um olhar tenso.

— O que foi?! É a nossa vez? — A ruiva começa a olhar de um lado para o outro tentando sair do seu momento de distração.

— Não é nada, fiquei preocupado. Você começou a falar sozinha e murmurar coisas do tipo "preciso contar".

As bochechas da jovem assumem um tom ruborizado, dando um sorriso torto em resposta.

— Eu realmente preciso te contar uma coisa. — Responde, decidida.

— O que? Você estava confusa e agora descobriu que na verdade você ainda gosta de mim?

Silêncio, claro que o pessoal estava andando e a fila estava até que indo rápido. O problema é que Jennifer pareceu ter sido afetada pelo o que perguntei, por mais que tenha sido em um tom sarcástico.

— Como você

— Jennifer, você mente muito mal. Mas isso pode esperar, vamos só

Sinto um arrepio na espinha, o cheiro forte de maresia junto de uma voz serena, unida com um odor de terra molhada, chuva. Sinto um formigamento no antebraço esquerdo, justamente onde estava a tatuagem do meu mais novo item, a Nanquim. Um pânico total foi instalado por circunstância do impacto e volume da explosão, interrompendo o fluxo das filas enquanto as pessoas estavam sendo rearranjadas para um ponto seguro do shopping. Não sabia se tinha outros caçadores ali, então, com certeza, eu e Jennifer teríamos que resolver o que quer que fosse.

— Vamos ter tempo de conversar sobre isso, na verdade, conversar sobre tudo. — Ela conclui. — Eu juro que não vou esconder nada.

— Opa, e aí Sirius, ou melhor... Gael. — Ouço uma voz bem conhecida.

No meio da confusão, percebi de cara, aquela voz era de Kairós. Faço um sinal para Jennifer ficar afastada.

— Vê o que tá rolando lá fora, deixa que com ele eu me resolvo.

Os Contos de Nova Atlântica III: O Pináculo de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora