Prólogo

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Eu havia feitos as minhas malas e já estava do lado de fora, pisando duro para longe, enquanto tentava encontrar a chave do meu carro em minha bolsa. Eu já não tinha forças para chorar mais e a minha voz permanecia rouca, de tanto que gritei e xinguei. Posso dizer que os vizinhos escutaram, mas eu não me importei quando passei pela porta, arrastando a minha mala numa mão. E com a outra, segurava a minha bolsa que pendia no ombro.

Dylan me seguiu até metade do caminho, enquanto tentava se explicar. Ele estava nú, com apenas um roupão branco em seu corpo. A visão poderia até ser engraçada para quem visse de fora, mas para mim, partia o meu coração. Eu havia saído cedo do trabalho, estava no escritório, me enchendo de e-mails para responder e arquivos para organizar. Megan, a minha supervisora, estava de bom humor hoje, e dispensou todos mais cedo. Como a casual idiota que sou, passei no mercado e comprei algumas coisas para preparar um jantar especial para Dylan, deveria ter sido um surpresa para ele. No entanto, eu que fui surpreendida.

O nosso relacionamento estava passando por problemas. Fala sério, que casal não tem os altos e baixos da vida? Iríamos conversar e nos resolver hoje mesmo. Odiava estar brigada com Dylan. Depois de cinco anos de casada, onde larguei tudo aos dezoito anos e fugi com o desgraçado para nos casarmos. Percebi que, com vinte e três anos e sem filhos, a minha vida estava desandando. E com certeza, o problema não era eu.

Batia os pés contra a calçada molhada, estava chovendo forte. Trovões ecoavam pelo céu escuro, iluminando com fortes clarões que duravam por míseros segundos. Tive tempo apenas de entrar em meu carro e guardar as minhas coisas, enquanto a janela era esmurrada por Dylan, que gritava de forma que eu não escutava. Estava um caos aqui fora, e durante uma vez na minha vida, eu agradeci a Deus por isso.

A imagem de Dylan nú com a maldita secretaria de quem ele tanto elogiava durante os jantares, não saía da minha mente. Eu era tão idiota! Subi às escadas e abri a porta do nosso quarto. Lá estava os dois, suados e gemendo como loucos, enquanto os seus corpos se chocavam freneticamente em cima da minha maldita cama. Os cachos loiros, os peitos grandes e rosados, as pernas lisas e curvas perfeitamente desenhadas. A desgraçada era linda, ao contrário de mim. Nunca me importei com a minha aparência, sempre fui muito magra e leve, minhas coxas não eram grossas e os meus seios eram pequenos, mas Dylan sempre me elogiava e dizia que eu era linda. A mulher mais bonita que ele havia conhecido. Os meus olhos são azuis, o cabelo castanho e longo, totalmente escorrido, e a pele bronzeada. Eu me sentia feia naquele momento. Cansada, no entanto. Estava me matando de trabalhar, porque tudo que eu queria, era criar uma família com o homem que eu amava.

Apenas afastei esses pensamentos e dei partida no carro, disposta a atropelar Dylan se ele não saísse da frente. Eu poderia jurar que escutei ele gritar que não era seguro dirigir agora. Eu ri nasalmente, ele realmente fingia que se importava? Apenas fui embora, deixando para trás a nossa casa, que agora, não passava de um maldito lugar que me dava nojo. Quantas putas ele trouxe enquanto eu estava trabalhando? Quantas mulheres ele fodeu em cima da nossa cama enquanto eu estava fora?

Eu não fiquei para descobrir a resposta. Estava sem rumo, devastada. O típico cenário clichê de mulher traída. Eu só precisava beber algo e relaxar a mente, que estava um turbilhão de pensamentos. A cada esquina, a cada sinal vermelho que eu ultrapassava, eu só gostaria de acelerar ainda mais e esquecer desse dia de merda. E assim eu fiz, e só aí, eu percebo que saí da cidade, no entanto, eu continuei dirigindo. As estradas estavam vazias, e pelo rádio do carro — que falhava o sinal de minutos em minutos — eu conseguia escutar brevemente a notícia sobre fortes tempestades que iriam ocorrer durante a semana. Pelo estado, as coisas não eram fáceis, chuva quase todos os meses, e só piorava em épocas de tornados, que eram poucas, mas quase fatais para muitos. A previsão não era boa, e só quando percebi que nem as palhetas limpavam o para-brisa, que diminui a velocidade. Estava muito longe para parar e não havia comércios em volta.

Virava o volante de um lado para o outro, com a imagem de Dylan suplicando para que eu voltasse. Eu estava farta, e claramente não cometeria o erro como muitas mulheres fazem. Os clarões no céu se tornavam ainda mais fortes e agressivos, o que me tirou dos meus devaneios, e por um instante, eu senti medo. Pensei em parar no acostamento e esperar que a chuva passasse, mas uma densa neblina surgiu em algum momento, e era praticamente impossível enxergar alguma coisa. Foi no instante seguinte que um forte clarão me fez pular susto. O som ensurdecedor fugiu em meus ouvidos e os vidros do carro estouraram. Protegi o meu rosto, mas isso acontecera rápido o suficiente para que eu perdesse o controle e o veículo colidisse com algo.

Droga, o meu dia poderia piorar?

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